Pernambuco tinha, até esta quinta-feira (9), um total de 555 casos confirmados de infecção pelo novo coronavírus. A política de testar prioritariamente casos que evoluem com Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag) e óbitos com sintomas suspeitos da Covid-19, porém, constrói um cenário de subnotificação, gerando um questionamento sobre quantas pessoas de fato podem ter contraído o vírus no Estado.
O próprio secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, reconhece que há um grau de complexidade nessa situação por conta da medida estratégica adotada. “Estima-se que esses casos (555) estejam na ordem de 15% a 20% dos casos (totais). Ou seja, estaríamos vendo aqui aquela parcela que requer internação. Estaríamos excluindo aí cerca de 80% que tem casos leves. Basta fazer uma conta proporcionalmente. Estamos falando de um quinto, em tese. As demais pessoas estariam com quadros leves, observando modelos que acontecem em outros países”, indicou.
O secretário de Saúde do Recife, Jailson Correia, também fez observações nesse sentido. “A estratégia de testagem adotada é a mais adequada. Vemos que essa proporção tem aumentado, então a circulação do vírus está acontecendo. Sabe-se que nos outros países 15% a 20% são os que precisam internar entre os sintomáticos. Mas existe um detalhe que são as muitas pessoas assintomáticas. Por isso, é tão importante fazer o isolamento social porque não se sabe quem transmite.”
Levando em conta que o número de casos confirmados seja relativo à parcela de 15% a 20% que requer cuidados hospitalares, Pernambuco teria proporcionalmente mais de dois mil pessoas com o novo coronavírus. Há de se fazer um parêntese para a testagem entre os profissionais de saúde, que correspondem a 130 resultados positivos entre os 555 totais e não necessariamente são casos graves, mas medida de precaução para afastamento das atividades.
O chefe do Departamento de Infectologia do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC), Demetrius Montenegro, observou a questão da letalidade dentro desse contexto. O Estado tem oscilado entre 8% e 13% de mortalidade nesta semana. Até esta quinta, haviam sido registrados 56 óbitos.
“É interessante chamar atenção que quando se coloca o número de óbitos em cima de 555 casos parece uma taxa maior que outros estados e países. Mas levando em conta o que diz a literatura, a letalidade nos casos mais graves é em torno de 30% a 40%. A população fica muito assustada diante do número de óbitos, mas se tivéssemos testes para todos os casos, essa letalidade seria menor.”
Para André Longo, o mais importante não é ter o diagnóstico da Covid-19, mas prezar pelas atitudes de combate à disseminação do vírus. “Ter o diagnóstico laboratorial não afeta o curso do tratamento. Não tem uma medicação específica para tratar especificamente casos leves, moderados ou graves. O objetivo então é isolamento, etiqueta respiratória, reforço nas medidas de higiene para não contaminar outras pessoas”, disse. “Estamos buscando ampliar nossa vigilância sentinela para termos uma precisão maior dessa prevalência nas síndromes gripais leves. É um compromisso ampliar (a testagem)”, completou.
Testes
De acordo com André Longo, o Laboratório Central de Pernambuco (Lacen-PE) fez, desde o dia 13 de março, mais de 4.500 exames, sendo 2.740 específicos para Covid-19 e cerca de 1.800 para investigar outros vírus. Foram realizados testes também em laboratórios privados.
O secretário estadual de Saúde disse que a distribuição dos insumos para testes pelo Ministério da Saúde obedeceu um critério populacional, e que Pernambuco recebeu mais kits do que o Ceará – que já fez mais de nove mil exames, segundo boletim recente – e menos que a Bahia – que tem quase quatro mil exames realizados e mais de cinco mil em fila para análise.
“Chegaram mais quatro mil kits da Fiocruz do Rio. A Fiocruz Pernambuco está desenvolvendo mais dois mil. Temos uma capacidade de seis mil testes para os próximos dias. É fato que nos últimos dias o percentual de testes positivos entre os notificados tem se ampliado bastante, o que mostra o momento de aceleração da curva epidêmica”, comentou.