Responsável pela geração de 250 mil empregos e por um faturamento da ordem de R$ 6 bilhões ao ano, as empresas do polo de confecções pernambucano estão se vendo entre a cruz e a espada. Diante do fechamento do comércio e das feiras de confecção, ações necessárias para diminuir a disseminação do coronavírus e preservar vidas, a possibilidade de demissão se torna cada vez mais real.
Para evitar esse cenário, muitas empresas têm aproveitado sua expertise para transformar seus negócios: em vez de roupas, as linhas de produção têm se dedicado à produção de máscaras e batas para serem usadas pela população.
Segundo o presidente do Núcleo Gestor da Cadeia Têxtil e de Confecções em Pernambuco (NTCPE), Wamberto Barbosa, a maioria dos empresários do polo têxtil do Agreste optou por conceder férias coletivas de 15 dias aos seus funcionários, mas, com o agravamento da situação, eles estão precisando optar pela prorrogação desse período ou pelas demissões. O problema, no entanto, é financeiro – e as linhas de crédito oferecidas pelo Governo Federal, por meio dos bancos privados, não atendem a esses empresários, principalmente devido à informalidade e ao excesso de exigências relativas à documentação. “Sem falar que os juros estão bem mais elevados e os prazos, mais curtos”, reforça.
Outro problema apontado é o diferimento do ICMS concedido pelo Governo do Estado, que não incluiu o mês de março, quando o faturamento já havia diminuído.
Além de solicitar reforços nas medidas emergenciais de socorro ao setor, o presidente do NTCPE afirma que está estimulando as empresas locais a confeccionarem EPIs que, embora não sejam indicados para profissionais de saúde, podem atender à demanda da população, do comércio e das indústrias por esses produtos.
Para isso, a entidade desenvolveu protótipos de máscaras e batas e disponibilizou para os empresários. Todas as orientações estão acessíveis no site da instituição (www.ntcpe.org.br). Até agora, no entanto, apenas cerca de 50 empresas estão envolvidas no projeto.
Uma das empresas que aderiu ao movimento é a Saga Confecções que, desde o início de abril, já está trabalhando na produção de máscaras higiênicas. Desenvolvidas pela própria empresa, elas podem ser utilizadas por profissionais como maqueiros, motoristas de ambulância e que atuam na recepção de hospitais. Agora, eles pretendem aderir ao projeto do NCTPE. “O Governo (do Estado) se comprometeu a comprar uma parte e também vamos em busca do mercado externo. Estamos fazendo o possível para enfrentar essa situação”, explica o proprietário da Saga Confecções, Marcílio Sales. A medida também evita demissões. A prova disso é que dos 40 funcionários da empresa, 30 já voltaram para a linha de produção.
O diretor regional da FIEPE, Andrerson Porto destaca a importância dessa reinvenção no momento de crise atual. “Mesmo que não possam ser utilizadas pelos profissionais de saúde que estão atuando diretamente com pacientes infectados, essas máscaras podem ser usadas pela população em geral e por outros trabalhadores, como aqueles que trabalham em supermercados, farmácias e até nas indústrias”, explica. “O setor produtivo tem sofrido bastante, mas estamos buscando mitigar esses prejuízos em parceria com os governos e, especialmente, incentivando a adaptação rápida dos empresários à essa nova realidade. Nós, da FIEPE, estamos trabalhando para isso”, destaca.