*Por José Araújo Netto
A chegada do coronavírus ao Brasil lançou um desafio extra para as empresas nacionais, principalmente àquelas do segmento da alimentação fora do lar. Devido às medidas de prevenção da doença, que incluem isolamento social, as pessoas estão deixando de sair de casa e mudando gradualmente seus hábitos de consumo – ao invés de ir até um restaurante ou bar para realizar suas principais refeições, a nova rotina inclui colocar a mão na massa e preparar os próprios alimentos e, às vezes, pedir comida em casa.
Com isso, milhares de empreendimentos gastronômicos em todo país já suspenderam suas operações tradicionais ou alteraram seus expedientes, mas isso não está sendo o suficiente para que eles possam “sair com vida” deste momento de crise. Mas, para dar a volta por cima, é preciso que os donos de bares e restaurante entendam seu local na economia para que possam traçar estratégias que beneficiem a si mesmo e toda a comunidade.
Em um panorama que estabelece três meses de isolamento, com baixo – ou baixíssimo – faturamento para bares e restaurantes, existem três níveis de empresas: as “verdes”, que possuem alto poder aquisitivo, ou seja, podem atuar sem grande fluxo de caixa e conseguem retomar ao mercado tranquilamente após a crise; as “amarelas”, que contam com um caixa razoável para manter as contas em dia, mas sem fluxo diário vão entrar no negativo e, consequentemente, ter dificuldade para se estabilizar novamente; e as “vermelhas”, que já estão com capital de giro zerado e não sabem nem como vão pagar o aluguel no final deste mês.
As empresas verdes podem e devem criar oportunidades neste momento de crise. Como o foco desses empreendimentos não é sobreviver, eles devem continuar aparecendo na mídia de forma positiva, investindo no próprio marketing e pensando no futuro da organização. Para isso, além de criar ações que beneficiem os clientes e gerem engajamento à marca, devem observar os pequenos negócios ao redor, principalmente aqueles essenciais para o funcionamento futuro da empresa, como fornecedores, e ajudá-los. Afinal, este momento não é de quebra de contratos, mas sim de auxílio e solidariedade com aqueles que tem risco de fechar as portas.
Para as empresas amarelas, o mais importante é cuidar dos funcionários e colaboradores, mantendo os salários em dia, mesmo que seja necessário estabelecer uma redução de carga horária ou adiantar as férias coletivas. Mas como manter os pagamentos em dia sem o faturamento que já estava planejado? O primeiro passo é antecipar os recebíveis, como valores de cartão de crédito ou de aplicativos de delivery. Mesmo que isso signifique perder um pouco, devido às taxas de adiantamento, esse dinheiro em mãos pode salvar a receita do estabelecimento. A dica é que os donos de bares e restaurantes tentem conversar com os aplicativos para propor um adiantamento facilitado e, também, se beneficiem das reduções de taxas que vários bancos já se propuseram a fazer.
Como nem sempre apenas adiantar valores é suficiente, economizar também se faz necessário. Este é o momento de rever sua cadeia de suprimentos, procurar preços mais acessíveis e negociar com fornecedores, principalmente com aqueles de produtos perecíveis. Se você conseguir subsídios mais baratos, também poderá diminuir os preços do seu cardápio e fazer promoções para atrair mais clientes. Desta forma, todos saem ganhando.
Por fim, a dica para as empresas amarelas é procurar se manter ativo nas redes sociais, gerando conteúdo relevante para manter os clientes entrosados e falando sobre o seu negócio. Um exemplo disso é gravar vídeos com receitas especiais da casa para que o público tente reproduzi-las em casa.
Já para as empresas vermelhas, que iniciaram a crise com pouco fluxo de caixa, as dicas vão além de antecipar receitas, renegociar prazos e manter as redes sociais ativas: é preciso buscar apoio profissional. Neste momento existem diversos profissionais oferecendo apoio gratuito ou no modelo “pague mediante bons resultados”.
Consultar linhas de crédito pode ser também uma excelente saída. Emprestar R$ 50 mil do banco e dividir em 48 vezes pode dar um fôlego ao negócio, sem pesar tanto no bolso do empresário. Além disso, é importante não gastar dinheiro com suprimentos que não são vendidos com facilidade, mas sim investir nos produtos que mais saem da sua loja.
Se nada disso der certo, é preciso entrar em um processo de congelamento de gastos. Barganhar o não pagamento do imóvel com o proprietário do seu ponto comercial – neste caso, é possível pedir um parcelamento da dívida quando o bar ou restaurante voltar a atuar normalmente; negociar o pagamento dos fornecedores conforme a venda dos produtos ou, caso o estabelecimento feche, propor um pagamento mínimo apenas para que o outro não se prejudique; e estabelecer uma conversa franca com seus funcionários – se houver a necessidade de demissões, é imprescindível abrir as contas da empresa para os colaboradores e, se possível, prometer uma recontratação assim que o mercado se estabilizar.
*José Araújo Netto é sócio-fundador das redes Porks – Porco & Chope e Mr. Hoppy e comanda o Bar Quermesse na cidade de Curitiba. Além disso, o empresário está preparando a inauguração de seu novo empreendimento, o Bar do Açougueiro