A combinação de forte contração da demanda global por combustíveis, excesso de oferta de óleo e queda de preços no mercado internacional colocou o setor petroleiro em xeque. Para se adequar ao momento que chama de “a pior crise da indústria do petróleo nos últimos 100 anos”, a Petrobras anunciou, ontem, novas medidas capazes de assegurar a sustentabilidade da companhia. Decidiu reduzir ainda mais a produção de barris diários, postergar desembolsos de caixa e promover um enxugamento mais severo nos custos, que inclui corte nos salários dos funcionários.
O presidente Roberto Castello Branco chegou a afirmar que está preparando a estatal para um cenário de barril de petróleo a US$ 25. No entanto, a forte retração na demanda e a guerra de preços entre Rússia e Arábia Saudita levaram o valor do barril a menos de US$ 20 pela primeira vez, desde fevereiro de 2002, o que provocou novos ajustes na Petrobras.
Desde ontem, a produção de petróleo passa a sofrer corte de 200 mil barris diários, volume que inclui a redução anunciada em 26 de março, de 100 mil barris diários. Para decidir quais campos de exploração terão a produção diminuída, a Petrobras levará em consideração condições mercadológicas e operacionais. “A duração da restrição, assim como potenciais aumentos ou diminuições, será continuamente avaliada”, explicou.
A companhia também está ajustando o processamento de suas refinarias conforme a demanda por combustíveis. Como parte das ações destinadas a promover o corte anunciado de US$ 2 bilhões de gastos operacionais em 2020, foram tomadas decisões para poupar aproximadamente R$ 700 milhões em despesas com pessoal. A empresa vai postergar o pagamento, entre 10% a 30%, da remuneração mensal de empregados com função gratificada, como gerentes, coordenadores, consultores e supervisores.
Além disso, adotou mudanças temporárias de regimes de turno e de sobreaviso de cerca de 3,2 mil empregados, mais alterações na jornada de trabalho, com redução de 8 horas para 6 horas para aproximadamente 21 mil empregados. A Transpetro, subsidiária que cuida da parte de transnporte de petróleo e derivados, também aprovou plano de resiliência, que consiste em medidas para reduzir a estrutura de custos, tanto de gastos operacionais quanto de investimentos, postergando ou otimizando desembolsos, no valor de R$ 507 milhões em 2020.
Na semana passada, a Petrobras tinha anunciado o adiamento, para 15 de dezembro, do pagamento de dividendos, no valor de R$ 1,7 bilhão, e redução de gastos com recursos humanos em R$ 2,4 bilhões, postergação do pagamento do Programa de Prêmio por Performance 2019 e das horas-extras. Ontem, a petroleira reforçou que “segue monitorando o mercado e, em caso de necessidade, realizará novos ajustes”.
Já a BR Distribuidora, que tem a Petrobras como principal acionista, comunicou aos fornecedores e parceiros que precisa distribuir os volumes contratados de acordo com as demandas e necessidades do mercado, dialogando com cada um. “A decisão considerou o cenário atípico, fazendo com que a companhia identificasse a necessidade de flexibilizar o percentual de variação de volume assegurado em contrato até que todo o mercado se normalize”, explicou. Paralelamente, a distribuidora também tomou algumas medidas junto à sua revenda, prorrogando o prazo para cumprimento do volume contratado.
ANP suspende 17ª rodada de licitações
A diretoria da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) aprovou, ontem, a suspensão temporária da 17ª Rodada de Licitações de áreas para exploração e produção de petróleo e gás natural, no regime de concessão, que estava prevista para este ano. A ANP atendeu à determinação do Ministério de Minas e Energia (MME) que, em ofício, solicitou a suspensão temporária das ações relativas à 17ª rodada, especificamente as relacionadas com a publicação do pré-edital e da minuta de contrato, em face ao atual cenário econômico e social decorrente da pandemia do novo coronavírus. O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) definirá um novo cronograma para a licitação, que será submetido à avaliação por seus integrantes. A ANP também aguardará nova deliberação do CNPE quanto ao planejamento plurianual das rodadas de licitações programada para o biênio 2020-2021. “A medida não suspende a Oferta Permanente de Áreas para Exploração e Produção”, disse o órgão regulador.
Diario de Pernambuco