Diário de Pernambuco
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou para uma multidão no Pátio da Nossa Senhora do Carmo, no Centro do Recife, na noite de ontem, durante a programação musical do festival Lula Livre. Além de criticar a agenda econômica do governo de Jair Bolsonaro, o petista voltou a fazer investidas contra Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e a Operação Lava Jato. “Eles tentaram um acordo para que eu saísse da cadeia porque eu passei a ser um problemas para eles. Eu não quis ficar preso em casa porque minha canela não é de pombo para ter tornozeleira”, disse. “Eu poderia ter ido para outro país, mas escolhi a Polícia Federal porque eu tinha que desmascarar Moro, Dallagnol e Bolsonaro. […] A quadrilha nesse país foi montada por Moro, Dallagnol e todos aqueles que me julgaram”.
O petista subiu no palco por volta das 19h, de mãos dadas com a cirandeira Lia de Itamaracá, uma das atrações do festival. Maciel Salu, Bruno Lins, Mundo Livre S.A, Doralyce, Francisco el Hombre e Odair José foram outros artistas da programação, com quase 50 nomes escalados. Fernando Haddad, candidato à presidência pelo PT em 2018, também marcou presença no palco. Dos petistas estaduais, João Paulo, Marília Arraes e Humberto Costa assistiram o discurso. De acordo com os organizadores, o público foi de 200 mil pessoas.
Logo no início do discurso, Lula afirmou que acreditava ter “desaprendido a falar depois de 580 dias trancado em uma solitária”. “Eu posso garantir que eu tive muita dúvida se deveria vir ou não. […] Mas posso dizer para vocês uma coisa: sou um homem melhor do que aquele que entrou na cadeia, sou mais maduro”. Para criticar o governo de Jair Bolsonaro, ele disse que acredita que o país “está sendo destruído”. “Estou vendo a nossa cultura ser destruída, a nossa ciência, as nossas universidades e o nosso emprego serem destruídos. Eu estou vendo a sociedade, sobretudo a juventude, destruída. Estou vendo os ataques aos LGBTs, aos negros, aos índios. Eu estou vendo o crescimento do feminicídio. Eu estou vendo salários desprazimento. A aposentadoria cada vez mais distante do trabalhador. Estamos com dificuldades de reagir”.
“O show vai continuar quando eu sair daqui. A campanha Lula livre tem que se transformar numa campanha muito maior. Queremos a anulação da safadeza dos processos contra nós. Apresentem as provas contra mim e me condenem. Queria que eles estivessem aqui para discutir quem é safado nesse país”, disse o ex-presidente que foi condenado em primeira, segunda e terceira instâncias sob a acusação de aceitar reformas e a propriedade de um tríplex, em Guarujá, como propina da empreiteira OAS em troca de contrato com a Petrobras.
“Tenham certeza absoluta que cada minuto que terei de vida pela frente será para libertar o país dessa quadrilha de milicianos que se instalaram no país”, disse, em ataque do governo Bolsonaro. Ao sair do palco, o ex-presidente passou o microfone para o músico pernambucano Siba, que encerrou a noite de shows com vários mestres de maracatu da Mata Norte do estado.
Após o evento, Lula foi jantar na casa da deputada federal Marília Arraes. Na tarde do domingo, ele ainda participou de almoço organizado pela governadora em exercício Luciana Santos (PCdoB). Com a viagem oficial do governador Paulo Câmara (PSB) à Europa em comitiva do Consórcio Nordeste, outras lideranças do PSB foram recepcionar o ex-presidente. O prefeito do Recife, Geraldo Julio, e os deputados federais João Campos e Tadeu Alencar, líder da bancada do PSB na Câmara Federal, e o secretário estadual de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude, Sileno Guedes, além da viúva do ex-governador Eduardo Campos, Renata Campos, estiveram presentes. Já o jantar para Lula vai ser promovido pela deputada federal Marília Arraes (PT), que não esteve presente no almoço com os socialistas.