População anda assustada com o número de homicídios registrados neste ano no bairro. Foto: Pedro Augusto.
Pedro Augusto
De acordo com os dados oficiais da Secretaria Estadual de Defesa Social, de janeiro até julho deste ano, o quantitativo de Crimes Violentos Letais e Intencionais ocorridos em Caruaru foi 7,2% menor em comparação com o mesmo período de 2018, quando 111 pessoas acabaram sendo assassinadas na cidade. No que diz respeito à prática de roubos registrados em igual intervalo, a SDS computou uma redução de 21,5%, passando de 3.101 ocorrências para 2.433. Os números divulgados trouxeram certo ânimo para a população local, que assim como as demais espalhadas pelo âmbito nacional, vem tentando se virar como pode em meio às diversas dificuldades socioeconômicas enfrentadas, não é de hoje, no país.
Segundo a análise da Polícia Civil de Pernambuco, atualmente tem havido certa distribuição pelos bairros e comunidades repartidas nas zona urbana e rural da Capital do Agreste, no tocante à prática de homicídios, com as suas mais variadas motivações. Mesmo assim, ainda existem aquelas áreas territoriais, onde os órgãos de segurança necessitam voltar um pouco mais as suas atenções para conter a criminalidade, que teima em perdurar aterrorizando a qualquer população. Tomando justamente como parâmetro o cenário local, uma comunidade que hoje vem penando bastante devido ao grande volume de violência sentido nas suas ruas e avenidas tem se referido a do Santa Rosa.
Em circulação por vias deste bairro populoso de Caruaru, na manhã da última terça-feira (20), não foi difícil para reportagem VANGUARDA apurar relatos de moradores que se encontram assustados com a alta criminalidade. O preocupante é que, mesmo com a presença constante da polícia, eles alegaram continuar havendo vários tipos de crime na comunidade. A dona de casa Maria de Lourdes Andrade, que reside na Rua Santa Rosa há mais de 30 anos, foi uma das populares a lamentar a realidade atual do local.
“É claro que sempre houve crimes por aqui, até porque o Santa Rosa é um bairro grande, mas, de uns tempos para cá, a criminalidade está demais. Só para se ter ideia, neste mês de agosto aconteceram pelo menos uns três homicídios nas imediações da minha casa. Antigamente, o povo de Caruaru dizia que o Salgado era o bairro mais perigoso de Caruaru, mas acho que, agora, esse posto está sendo ocupado pela nossa comunidade. Uma pena! A polícia até que tem tentado fazer a sua parte, inclusive, acabei de ver uma viatura da PM circulando pela Rua Santa Rosa, mas, mesmo assim, a bandidagem permanece correndo solta. Não sei o que está acontecendo!”, comentou dona Maria.
À reportagem, um pequeno comerciante que trabalha há mais de oito anos na Rua Antônio Martins, onde dois crimes de morte foram contabilizados neste mês, se mostrou conhecedor de uma das principais motivações que tem provocado a alta criminalidade no Santa Rosa: a droga. “É muita gente usando e vendendo maconha, cocaína e crack por aqui. Tenho certeza que o Santa Rosa está empestada de bocas de fumo, tanto é que o número de homicídios vem aumentando de forma considerável nas últimas semanas. Como não sou bobo nem nada, dou uma de cego, porque tenho o meu negócio e não quero ter problema com a bandidagem”, disse o autônomo, que preferiu não ter o nome revelado.
De acordo com a Assessoria de Imprensa da Secretaria de Defesa Social: “Como forma de estratégia no combate ao crime, assim como para não estigmatizar a localidade, a pasta não divulga dados por bairro”. Sendo assim, não há a confirmação oficial do total de assassinatos, até agora praticados neste ano, no Santa Rosa. No entanto, segundo levantamento feito pelo próprio VANGUARDA, até a última quarta-feira (20), quando esta matéria foi elaborada, o percentual referente à comunidade, no que diz respeito ao quantitativo de CVLIs ocorridos, encontrava-se redobrado em comparação com o mesmo período de 2018.
Assaltado já por duas vezes e com receio de que na próxima ocorrência seja ainda pior, hoje, o microempresário Cícero da Silva vem atendendo a clientela em seu estabelecimento comercial com o auxílio de grades. “A ousadia por parte da bandidagem está muito grande na nossa comunidade. Ela sempre teve ocorrências, tanto é que já fui assaltado por duas vezes e temo que, na próxima, não tenha a mesma sorte. Porém, de uns tempos para cá, a situação está ainda pior. A Polícia Militar tem realizado rondas diárias por aqui, mas, mesmo assim, os crimes vêm acontecendo em qualquer horário. Semana passada, por exemplo, morreram dois na Antônio Martins!”, afirmou.
Posicionamento
No intuito de obter respostas sobre o aumento no número de homicídios contabilizados no Santa Rosa, a reportagem VANGUARDA entrevistou esta semana o chefe da Divisão de Homicídios do Agreste, Vitor Freitas. Para o delegado, houve certa migração da criminalidade para essa localidade específica. “Essa característica migratória do crime é muito comum em grandes cidades, a exemplo de Caruaru. Na medida em que se há um combate maior por parte da polícia em uma determinada área em que os índices de violência e de criminalidade se encontram muitos altos e que se tem êxito no tocante ao emprego das operações, a tendência é de adoção de novas comunidades por parte da bandidagem. Provavelmente foi o que aconteceu com os bairros populosos do Salgado e do Santa Rosa. Hoje, os volumes de ocorrências, incluindo as de homicídios, registradas neste primeiro bairro, encontram-se bem menores em relação aos anos anteriores, já em relação ao segundo, temos contabilizado certo crescimento no tocante as mesmas.”
Com o objetivo de que a bandidagem não se espalhe por completo e que também não fique concentrada em apenas algumas áreas territoriais, a Polícia Civil, juntamente com a Militar e demais órgãos de segurança, vem empregando diversas ações preventivas e ostensivas na cidade. “O combate em relação à criminalidade em Caruaru tem sido realizado de forma constante e incansável em todo o município. Em paralelo, também temos atuado de forma mais cirúrgica em comunidades como a do Santa Rosa, onde temos percebido um maior número de ocorrências”, acrescentou o delegado.
“Só para citarmos como exemplo, recentemente realizamos uma operação exitosa, onde vários mandados de busca e apreensão e um de prisão de um homicida foram cumpridos no Santa Rosa. Temos combatido, juntamente com a Polícia Militar, o tráfico e o consumo de drogas, que são os principais motivadores de homicídios em toda a cidade, e novas operações, com certeza, serão desencadeadas neste bairro, nos próximos meses. A população pode contribuir repassando informações que levem até as prisões de criminosos pelo telefone 3719-4545 (Disque-Denúncia Agreste). O anonimato é garantido”, finalizou Vitor Freitas.