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Foto: Leandro de Santana |
Diário de Pernambuco
A cada chuva torrencial registrada no estado, como a que atingiu a Região Metropolitana do Recife (RMR) desde a última terça-feira (23), um rastro de destruição e mortes atinge a vida dos pernambucanos. Nesta quarta-feira, foram 11 vítimas soterradas e uma mulher grávida está desaparecida por conta de deslizamentos de barreiras, sendo o maior número de mortes relacionadas às chuvas dos últimos nove anos. Mas se forem somadas as 10 vítimas fatais da última forte chuva deste ano, no dia 13 de junho, temos em 2019 a maior tragédia associada ao período de inverno desde a década de 1970, quando morrem mais de 100 pessoas. Em 2010, as enchentes na Zona da Mata Sul do estado deixaram 20 mortos, mais de 55 mil pessoas desalojadas e quase 27 mil desabrigados.
Desde a última sexta-feira tem se registrado chuvas recorrentes, de moderadas a fortes, na RMR. Mas foi entre as 9h da última terça-feira às 9h dessa segunda que a situação se intensificou. Alguns municípios receberam 245 mm de queda d’água, segundo a Agência Pernambucana de Águas e Climas (Apac), provocando deslizamentos de barreiras, quedas de árvores e postes de energia elétrica, além diversos pontos de alagamentos. Cinco crianças ficaram feridas e foram socorridas para hospitais públicos do estado e 1,2 mil pessoas estavam desabrigadas até o fechamento desta edição.
Diversos rios do estados chegaram a transbordar, como o Beberibe e o Fragoso, em Olinda, e o Capibaribe Mirim, em Timbaúba e nove barragens sangraram, deixando bairros inteiros debaixo d’água. A inundação das ruas colapsou o sistema de transporte público da Região Metropolitana do Recife e muitos terminais de ônibus ficaram fechados até de tarde. Um ponto crítico de alagamento no bairro da Guabiraba, Zona Norte do Recife, fechou a BR-101 Norte e nem caminhões de grande porte conseguiram passar. Situação semelhante bloqueou o tráfego em vias importantes da RMR, como a PE-15 e a Avenida Caxangá.
Três municípios da região metropolitana, Olinda, Abreu e Lima e Igarassu, e um da Zona da Mata, Vicência, decretaram situação de emergência e instauraram gabinetes de crises mobilizando diversas secretarias. As chuvas também mexeram com o funcionamento de diversas instituições de ensino. Em Olinda, Paulista e na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), as aulas foram suspensas.
“É importante lembrar à população que a previsão é de que as chuvas continuem e com o terreno encharcado o risco de deslizamento torna-se ainda maior. A orientação é que as às pessoas que residem em áreas de risco deixem os locais até que a situação seja normalizada. A Secretaria continuará acompanhando todas as demandas através da Central de Operações pelos fones 3181-2490 e pelo 199”, alertou a Coordenadoria de Defesa Civil de Pernambuco (Codecipe).
OLINDA
Olinda foi uma das cidades mais atingidas pelas chuvas dos dois últimos dias e bairros inteiros ficaram embaixo d’água. Quatro mortes foram registradas. Iraci Maria da Conceição, 78 anos, na Rua Aquarela, e Abraão Batista da Silva, 25 anos, na Rua Arcoverde, ambos no bairro de Águas Compridas. As outras vítimas, uma na Avenida Leopoldino Canuto de Melo, no bairro de Caixa D’Água, e uma no Alto Sol Nascente, não foram identificadas até o fechamento desta edição. Na Rua General Sampaio, em Caixa D’água, em Olinda, o Corpo de Bombeiros, o Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) e moradores conseguiram resgatar com vida duas crianças, de 6 e 5 anos, e dois adultos.
ABREU E LIMA
No bairro de Caetés, em Abreu e Lima, foram registradas sete vítimas. Sivonaldo, 23 anos, foi socorrido. Dois irmãos morreram: Mariana Xavier, 19 anos, e Luiz Henrique Xavier, de 15 anos. A mãe deles Ariana, 39 anos, foi socorrida e está na emergência do Hospital Miguel Arraes. Maria Eduarda, grávida de oito meses, está desaparecida desde as 8h de segunda e o Corpo de Bombeiros continua ininterruptamente os trabalhos de resgate. Outras duas pessoas, Silvano Silva, de 49 anos, que era pai dos adolescentes, e Adalmir Ferreira dos Santos, 53 anos, morreram soterrados.
“Desde às cinco da manhã estamos aqui na barreira para encontar meus parentes. Infelizmente perdi um irmão e os sobrinhos. Só minha cunhada escapou, mas está na sala vermelha do Hospital Miguel Arraes. Não sei quantas casas havia ali. Está tudo debaixo da lama”, Rosemeire Nascimento, cunhada de Ariana.
O coordenador da Defesa Civil de Abreu e Lima, José Lopes, disse que o município está contando com ajuda do Corpo de Bombeiros, Samu, funcionários da prefeitura e da comunidade em geral. “Estamos trabalhando com toda estrutura que dispomos e com ajuda dos moradores para localizar as vítimas e esse número pode aumentar”, revelou.
RECIFE
Na capital pernambucana, foram registradas três mortes. Um deles foi o motorista Josafá Barbosa, de 34 anos, no Córrego do Curió, bairro de Dois Unidos. Uma árvore caiu e atingiu uma casa em que ele morava. A esposa de Josafá teve ferimentos e foi socorrida. Outras casas no bairro de Dois Unidos continuam sob ameaça de desabamento. As outras mortes registradas foram do casal de idosos Natalício Vicente da Silva, 69 anos, e Ivonete Maria da Silva, 63 anos, na Rua Ageu, no bairro de Passarinho.
Nos últimos cinco dias, choveu no Recife 252 mm, o equivalente a 21 dias da média histórica do período, que corresponde a 357 mm, de acordo com o Inmet. O quadro se intensificou com a forte chuva que incidiu sobre a capital, entre a meia-noite e às 6h de hoje, que chegou a 102 mm em apenas seis horas. O valor se equipara com o mesmo volume de chuva previsto para quase nove dias. O fator aumentou ainda mais a saturação dos terrenos, que já estavam encharcados, o que propicia os deslizamentos.