Tensão muscular, cansaço e choro descontrolado. Essas foram algumas das alterações físicas percebidas por muitos dos 330 passageiros que estavam na aeronave que sofreu uma pane elétrica no dia 20 de dezembro. Saindo de Guarulhos (SP) com destino a Londres (Inglaterra), o avião fez um pouso forçado em Confins (MG) e deixou em pânico toda a tripulação.
Os sintomas percebidos pelos passageiros, acompanhados de uma sensação de atordoamento, são uma resposta natural do corpo após um período de emoção intensa, em que o organismo libera grande quantidade de adrenalina. Esse hormônio prepara o indivíduo para uma situação de sobrevivência, acelerando todo o metabolismo e aumentando a capacidade de realizar esforço físico.
Esse tipo de evento causa alterações nas regiões pré-frontais do cérebro, relacionadas ao raciocínio e planejamento. Devido à intensa carga de estresse, é comum que a pessoa fique confusa e tenha episódios depressivos – choro sem motivo, sonhos repetitivos e falta de vontade de sair de casa –, além de reviver o evento traumático. Tudo isso tende a se normalizar depois de três ou quatro meses.
Após esse o período, se a pessoa continua a recordar o fato como se estivesse acontecendo pela primeira vez, pode estar sofrendo com Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT). Esse transtorno acomete indivíduos que experimentaram estresse físico ou emocional intenso, envolvendo uma resposta de medo, impotência ou horror. Pode ser definido como um distúrbio de ansiedade.
É diagnosticado quando a pessoa revive a experiência traumática por meio de pesadelos e lembranças espontâneas, involuntárias e recorrentes. Como consequência, se afasta de qualquer estímulo que pode estar relacionado ao evento. Na situação do pouso forçado, o trauma pode fazer com que a pessoa não consiga mais realizar uma viagem de avião.
Em casos mais graves, indivíduos com TEPT podem ter reações de fuga exageradas, episódios de pânico, medo de morrer, distúrbios do sono, dificuldade de concentração, irritabilidade e hipervigilância (estado de alerta). Além disso, podem apresentar sentimento de impotência e de incapacidade de se proteger do perigo, bem como perder a esperança em relação ao futuro.
Nesses casos é fundamental buscar ajuda de especialistas, como psiquiatras e psicólogos, pois esses sintomas deixam a pessoa mais vulnerável e predisposta à depressão e ao consumo de drogas, comprometendo suas atividades cotidianas.
É importante compreender que as pessoas reagem particularmente aos eventos. Assim, não quer dizer que todos que passam por experiências traumáticas desenvolverão estresse pós-traumático. Por isso, não devemos desconsiderar os sintomas de pessoas que passaram pelo mesmo evento que nós, pensando que, como nós superamos facilmente, elas também vão superar. Isso pode levar as pessoas a serem estereotipadas e a evitarem assistência médica, agravando o quadro clínico.
O número de quadros de TEPT tem aumentado nas últimas décadas, o que pode estar relacionado ao aumento das situações de violência urbana, acidentes, desastres naturais, desigualdades sociais e guerras, que deixam marcas profundas e muitas vezes difíceis de ser superadas. A violência social e estrutural é, sem dúvida, um grande fator responsável pelo aumento desse transtorno.
Autora: Genoveva Ribas Claro, coordenadora do curso de Psicopedagogia do Centro Universitário Internacional Uninter