Corre, em silêncio, uma operação financeira que tira do Governo de Pernambuco o controle da Copergás, e transfere para a japonesa Mitsui, atualmente acionista minoritária da estatal pernambucana, com 24,5% das ações com direito a voto. A operação envolve ainda outras quatro operadoras do Nordeste: a Algás (Alagoas), a Cegás (Ceará), Potigás (Rio Grande do Norte) e Sergás (Sergipe).
Em fato relevante publicado em outubro, a Commit Gás, joint venture criada entre a Compass (Cosan) e a Mitsui para aquisição da Gaspetro, subsidiária da Petrobras; anunciou a cisão da companhia, criando a Norgás, que detém a participação em cinco distribuidoras do Nordeste. E, no mesmo fato relevante, o grupo Cosan anunciou a venda de sua participação nas cinco distribuidoras nordestinas, seguindo recomendação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A operação chamou a atenção da Infra Gás, novata no setor brasileiro de gás, mas como sócia da Cosan na Norgás, a Mitsui tem a preferência de compra das ações nas companhias nordestinas.
Segundo o comunicado, “a operação de alienação da participação da Compass na Norgás, alinhada à estratégia de gestão de portfólio e à melhoria de alocação do capital da companhia, permanece sujeita ao cumprimento de determinadas condições precedentes e seguirá todos os ritos e procedimentos necessários”. Em outras palavras, será respeitado o direito de preferência dos japoneses.
Com a operação, a Mitsui, que já tem 24,5% da Copergás, passaria a ter 49% das ações com direito a voto, ficando o estado de Pernambuco com 51% e, teoricamente, o controle da companhia. No entanto, a japonesa passaria a deter 83% do capital da estatal pernambucana. E mais, segundo o acordo assinado entre os acionistas, a Mitsui passaria a indicar os diretores comercial e financeiro, tendo dois dos três votos no conselho administrativo.
Na prática, segundo fontes do mercado ouvidas pelo Diario, a operação só oficializaria o que acontece informalmente hoje, uma vez que Mitsui e Commit votam sempre alinhadas, reduzindo o poder decisório do estado. Vale ressaltar, que os japoneses detém 49% da joint venture com a Cosan, e exercem forte influência em suas decisões estratégicas.
Assim, ao exercer seu direito de preferência, a Mitsui estaria consolidando uma espécie de “privatização branca”, sem que o estado de Pernambuco receba nada por isso. Além disso, com o aumento da participação nas distribuidoras do Nordeste e a manutenção da participação de 49%, a Mitsui se tornaria o maior player do mercado de gás brasileiro, contrariando a intenção inicial do Cade de desconcentrar o mercado de gás no país.
Diario de Pernambuco