Atualmente o Brasil vivencia uma das piores crises econômicas de sua história e o mercado de trabalho vem enfrentando uma retração contínua que reflete diretamente na vida dos brasileiros. São cerca de 12 milhões de pessoas desempregadas até setembro desse ano segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Especialistas preveem uma reversão desse quadro somente após o início de 2017 e, mesmo assim, de forma suave. Enquanto isso não ocorre, a população desocupada – 34% a mais em comparação ao ano passado – recorre a diversas estratégias para complementar o orçamento e suprir as necessidades básicas, e, uma delas são os programas de pontuação no cartão de crédito, que têm se mostrado uma das alternativas mais atraentes. As conversões, famosas na troca por passagens aéreas, passaram a contemplar mais o resgate de produtos e serviços e, até mesmo, o pagamento de contas.
Retração no setor aéreo
Diante do cenário econômico conturbado, viajar já não está mais entre as prioridades – pesquisas revelam que mais de 50% dos brasileiros preferem cortar esse tipo de gasto neste momento. Essa tendência, somada a fatores como a inflação e o desemprego, já se reflete na procura por passagens aéreas e contribui para um índice negativo no setor. Dados da Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas) apontam que a demanda por voos domésticos acumulou, em setembro, 14 meses de retração.
A maioria das pessoas busca formas de complementar a renda e evitar gastos, por isso, acumular pontos por meio das compras com cartão de crédito para comprar passagens aéreas tem ficado em segundo plano. Quem ganha com isso é o setor do varejo que, aos poucos, vem conquistando mais espaço no mercado de fidelização por oferecer o acúmulo de pontos através de compras de produtos e serviços, em empresas parceiras, que dão direito à troca por outras mercadorias e outros serviços.
Desemprego em alta e renda em queda estimula uso do crédito
A capacidade de compras das famílias tem sido comprometida pela recessão, por isso, os brasileiros estão utilizando mais o cartão de crédito. Dados da Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Créditos e Serviços) apontam que, só no primeiro semestre do ano, o país movimentou R$ 546 bilhões, o montante representa um crescimento de 7,2% em relação ao mesmo período do ano passado, e a maior parte desse volume provém do uso de cartões de crédito – R$ 337 bilhões. Grande parte dos consumidores recorre ao método de pagamento como uma alternativa para aliviar o orçamento apertado e suavizar os gastos, mas esse comportamento impulsiona, mesmo que involuntariamente, o mercado dos programas de fidelidade e, como consequência do aumento no número dessas transações, mais pessoas estão acumulando pontos.
Varejo facilita a moeda de troca
Essa modalidade foi popularizada pelas companhias aéreas, mas já se estende aos mais diversos setores e os sistemas no varejo avançam progressivamente. Segundo Francisco Lobo, diretor da empresa Cash Milhas, especializada no setor, o mercado tem se expandido e dado lugar a novas parcerias e condições de resgates, e, com a variedade de ofertas cada vez maior: “muitas pessoas têm preferido usar o benefício para realizar compras do dia a dia, como o crédito em postos de gasolina e a troca por mercadorias, por isso participam cada vez mais de programas de fidelidade por necessidade, numa tentativa de fazer render o orçamento mensal”. Em vista disso o acúmulo de pontos disparou: segundo números da Abecs somente no primeiro semestre do ano o valor repassado aos participantes deste tipo de programa cresceu 23%.
Na contramão da crise
Em 2015 o mercado de fidelização alcançou o montante de R$ 5 bilhões. O especialista avalia que o segmento segue forte devido a diversificação dos serviços: “Os dados do mercado comprovam que no último ano a quantidade de cadastros nos programas de fidelidade das principais administradoras cresceu 17,5%, ou seja, são mais de 74 milhões de fidelizados, e, mais de 88% dos pontos acumulados por eles são provenientes do varejo. Em relação ao resgate, a emissão de passagens aéreas ainda domina a preferência dos clientes, mas, outros produtos e serviço também tem caído no gosto dos consumidores. No segundo trimestre quase 30% dos pontos e milhas foram trocados no setor do varejo especialmente em itens que básicos que ajudem no orçamento” – explica Lobo.
Pontos expirados
Os indicadores do setor demonstram que no segundo trimestre do ano os resgates de pontos nos programas de fidelização do mercado nacional caíram cerca de 4,5% em relação ao mesmo período de 2015. Para as companhias aéreas esse fator é um grande responsável pelo aumento da receita: conhecido como taxa de breakage – pontos expirados que geram lucros para as empresas do ramo. O saldo perdido pelos fidelizados é sinônimo de rentabilidade para as companhias aéreas, pois, não gera nenhuma despesa, somente lucros, mas, para os clientes significa perdas consideráveis. De acordo com Francisco Lobo, ao contrário do que acontece no setor aéreo, o varejo acaba estimulando resgates mais frequentes de pontos pelos usuários por demandar menos tempo de acumulo até que a troca pelo produto de interesse seja viável, assim, o risco de o saldo expirar é menor.
Outra alternativa em ascensão entre os fidelizados é a monetização do benefício por meio de empresas especializadas na compra de milhas, populares entre aqueles que precisam de um dinheiro extra, especialmente se o usuário possui um saldo acumulado e não pretende viajar. Lobo explica que essas transações abrangem a pontuação dos principais programas do país e, até mesmo de companhias aéreas internacionais: “Os valores geralmente são mais atrativos, especialmente se houver um saldo significativo acumulado. Muitas vezes essa opção atende melhor as necessidades do consumidor do que o resgate de produtos e serviços, visto que o pagamento é em dinheiro” – finaliza.