O candidato à Presidência do Equador, Fernando Villavicencio, foi assassinado com três tiros na cabeça na noite desta quarta-feira, após um comício eleitoral na capital Quito. Villavicencio, que aparecia entre quarto e quinto lugar nas pesquisas entre os candidatos à sucessão de Guillermo Lasso, apresentava-se aos eleitores como um combatente à corrupção sob o slogan “É hora dos corajosos”.
O caso chocou o país sul-americano e nações vizinhas. No fim da noite de terça-feira, o Itamaraty divulgou uma nota lamentando a morte do candidato, e instando pela identificação e punição dos responsáveis pelo crime.
Quem era Fernando Villavicencio?
Jornalista e candidato presidencial pelo Movimento Construye, Villavicencio tinha 59 anos. Deputado na Assembleia Nacional, presidiu a Comissão de Supervisão da Assembleia entre 2021 e 2023. Na legislatura, ele teve vários confrontos com grupos de oposição e com o governo. Denunciou o caso chamado León de Troya, investigação ligada à máfia albanesa com o cunhado do presidente Guillermo Lasso, Danilo Carrera.
Apesar disso, durante seu período como presidente da Comissão de Auditoria da Assembleia foi questionado por vários partidos políticos que o acusaram de ser um “defensor” do atual governo.
Natural de Sevilha, no cantão (estado) de Alausí, viveu uma vida pobre em Quito, para onde foi com a família aos 13 anos. Mais velho de seis irmãos, ele disse em entrevista ao El Universo que trabalhava durante o dia como garçom e estudava à noite. Villavivencio se definia como um apaixonado por literatura, chegando a ler 17 livros sobre a história de Simón Bolívar para participar de um concurso de oratório interescolar.
O que Villavicencio defendia?
Ele foi o primeiro a anunciar este ano sua intenção de participar como candidato presidencial nas eleições do próximo dia 20 de agosto. Em maio, sua chapa com a ambientalista Andrea González foi anunciada pelo partido Movimento Construye. Ele se apresentava aos eleitores como um combatente à corrupção sob o slogan “É hora dos corajosos”.
Uma de suas principais propostas de governo foi a aplicação do Plano Nacional Antiterrorista, que começou identificando as estruturas mais perigosas que operam no Equador: narcotráfico, mineração ilegal, corrupção e propina, ligadas entre si e à política de combate a elas.
Entre suas propostas estavam a de construir “uma prisão de segurança máxima” para prender os criminosos mais perigosos, a militarização dos portos para controlar o narcotráfico e a criação de uma unidade antimáfia que, “com apoio estrangeiro”, perseguiria “os narcotraficantes, sequestradores e todo tipo de organização criminosa”.
Oposição a Correa e problemas com a Justiça
Embora se considerasse um político de esquerda, o que projetou Villavicencio nacionalmente no Equador foi sua oposição ferrenha ao ex-presidente Rafael Correa, considerado o principal líder esquerdista do país em décadas.
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Como jornalista, uma de suas investigações jornalísticas revelou um esquema de suborno que expôs Correa e altos funcionários do governo. Por este caso, Correa recebeu oito anos de prisão em abril de 2020 e hoje vive como refugiado na Bélgica. Em um tuíte após a morte do candidato, Corre a se manifestou pelas redes sociais: “Caso Sobornos foi toda uma montagem para me impedir de participar nas eleições de 2021. Por isso a Bélgica, onde já residia, me outorgou asilo político”, escreveu.
Em 2014, um tribunal condenou Villavicencio a 18 meses de prisão por insultar Correa, após uma denúncia de supostos crimes contra a humanidade em uma batida militar em um hospital. O jornalista não cumpriu o mandado de prisão e se refugiou em um povoado indígena na selva amazônica.
Em 2016, um juiz novamente ordenou sua prisão por usar e-mails hackeados em uma investigação sobre suposta corrupção na Ecopetrol. Villavicencio então se refugiou em Lima até 2017, quando o sucessor de Correa, Lenín Moreno, permitiu que ele voltasse ao país.
Quem está por trás da morte de Villavicencio?
Um dos suspeitos de assassinar o candidato foi morto durante troca de tiros com a polícia, segundo autoridades equatorianas. Outras seis pessoas suspeitas de participação no crime foram presas em flagrante durante incursões realizadas em Conocoto e San Bartolo, em Quito, com a supervisão legal do Ministério Público do Estado.
Logo após o assassinato, membros da facção criminosa Los Lobos assumiram a responsabilidade pelo assassinato de Villavicencio. “Toda vez que políticos corruptos não cumprem suas promessas quando recebem nosso dinheiro, eles serão demitidos”, afirma um integrante não identificado, em áudio divulgado nas redes sociais.
De acordo com o observatório InSight Crime, Los Lobos são o segundo maior grupo criminoso do Equador, com mais de 8 mil membros distribuídos pelas prisões do país. O grupo esteve envolvido em vários massacres sangrentos, que deixaram mais de 315 presos mortos no sistema carcerário só em 2021, e atua principalmente com tráfico de drogas e mineração ilegal.
O Globo