Críticas à violência policial — principalmente contra a população negra e periférica — e à intervenção federal na Segurança Pública do Estado do Rio; luta pelo direito à moradia digna nas favelas; forte atuação feminista e defesa dos direitos da população LGBTQIA+.
Essas são apenas algumas das principais pautas defendidas, com firmeza, nas redes e nas ruas, pela vereadora Marielle Franco nos 14 meses e meio em que exerceu seu mandato na Câmara Municipal do Rio. Para o promotor Eduardo Morais Martin, da força-tarefa montada pelo MP para investigar as mortes de Marielle e Anderson, a atuação da vereadora foi fator determinante para que os criminosos decidissem agir.
— Desde a denúncia de Ronnie e Élcio, já se coloca que o crime foi praticado por conta também das causas defendidas por Marielle. Isso não exclui outras possíveis motivações, mas está na denúncia e permanece — diz Martin.
Flávio Dino, ministro da Justiça, concorda e diz que Marielle incomodava “o escossistema do crime”.
— Os fatos até agora revelados e as novas provas colhidas indicam uma forte vinculação desses homicídios, especialmente o da vereadora Marielle, com a atuação das milícias e do crime organizado no Rio de Janeiro, isso é indiscutível. Até onde vai isso, é claro que as novas etapas vão revelar. Ronnie, Élcio, Maxwell participam de um conjunto que está relacionado a essas organizações criminosas e milicianas que atuam no Rio infelizmente — disse o ministro Flávio Dino, durante entrevista coletiva para apresentar o resultado da operação Élpis, na segunda-feira, em Brasília.
Para o presidente da Embratur, Marcelo Freixo (PT), de quem Marielle foi assessora quando ele exercia mandato de deputado estadual na Alerj, não é possível dissociar o crime da atuação da vereadora.
— Marielle foi morta por uma razão política, não foi por dívida, não foi questão passional. Só vamos saber a motivação quando soubermos quem foi o mandante. Claro que Marielle foi morta pelo que era, pelo que defendia. Ela fazia parte de um grupo político, tinha uma pauta, incomodava muita gente. Não sei qual grupo seria capaz de matar por causa disso, vem de algum grupo que faz política praticando crime. Não faço especulação, cabe à polícia e à Justiça esclarecer isso. O que está claro é que a gente precisa saber quem mandou matar e por qual motivo — disse Freixo.
Durante seu curto mandato na Câmara de Vereadores do Rio, Marielle apresentou sete projetos de lei de sua autoria. Entre eles, a proposta de tornar permanente a realização de campanhas de conscientização e enfrentamento ao assédio e à violência sexual em transportes públicos; a oferta de trabalho a adolescentes que cumprem medidas socioeducativas, pelo município; o acolhimento às crianças no período da noite para que pais possam estudar; e o que institui assistência técnica pública para projeto, construção reforma e regularização de habitação para famílias de baixa renda. Cinco deles foram aprovados poucos meses depois da sua morte, ainda em 2018, e o sexto, que trata de políticas habitacionais, em 2019.