Por Menelau Júnior
Há duas semanas, Eduardo Campos dava uma pausa em sua agenda política para passar o Dia dos Pais com a família. Não sabia ele que a fatalidade do destino arrancaria seu sopro de vida alguns dias depois.
O Brasil se emocionou com a história do político que dava seu primeiro grande voo na política nacional. Chamado de “tolo”, “mimado” e de “traidor” pelo PT, que hoje o chama de “exemplo”, Eduardo ousou romper com alianças antigas para levar uma mensagem de esperança aos brasileiros. Em uma de suas últimas entrevistas, disse na bancada do Jornal Nacional: “Não vamos desistir do Brasil”.
Mas o mistério da última viagem estava reservado ao ex-governador. A mesma viagem que todos faremos um dia. Sendo impossível compreendê-la, resta-nos aceitá-la. Inesperada, repentina, inexplicável, a última viagem deixa aos que ficam a mensagem de que nada podemos contra ela, de que teremos de fazê-la mais cedo ou mais tarde.
Talvez mais assustador que nossa última viagem seja ver nossos entes queridos fazê-la – ainda mais quando sequer existe aviso de que ela estaria se aproximando. Da quarta fatídica até hoje, quantos filhos e pais assassinados, quantos mortos em nosso trânsito selvagem… Quantas famílias não estão chorando hoje também?
A crença em Deus ajuda numa hora dessas? Tenho certeza de que sim. A esperança de que a vida não acaba aqui – mesmo quando retirada de forma brutal – nos enche de esperanças num outro mundo. Dá sentido à vida, mesmo na hora da morte. Ajuda a aceitar, mesmo quando não queremos compreender. Ou ajuda a compreender, se não queremos aceitar.
Mortes como a de Eduardo Campos, que provocam comoção nacional, nos lembram, insistentemente, que sonhar com voos mais altos é intrínseco à condição humana. Sofrer com as perdas também. Nessas horas de dor, a crença numa força maior nos ajuda a ver sentido nos passos que ainda temos de dar, nos voos que ainda temos de fazer. Até que um dia, quando tivermos de “viajar”, possamos nos orgulhar do que aqui fizemos, do que aqui deixamos. Na esperança de que, noutro lugar, seja possível enxergar a luz do futuro, a mesma luz que se apaga quando nosso corpo padece.
O mistério da morte existe para nos lembrar de que a vida só faz sentido quando se faz o bem, sem olhar a quem. O mistério da morte nos cala, nos faz chorar e sofrer. Mas também serve para que reconheçamos como é bom viver – e como devemos cuidar uns dos outros.
Menelau Júnior é professor de língua portuguesa.