.A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), elaborada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), foi publicada na última semana, ganhou um recorte especial para Pernambuco, feito pela Fecomércio-PE. Na pesquisa se pode observar que no mês de abril, o número de endividados no Estado caiu 2,3%, relativamente ao mês de março. Entretanto, 81,7% das famílias pernambucanas seguem endividadas, patamar próximo ao do Brasil (78,3%).
É possível observar, no Gráfico 1, a sequência de dois meses consecutivos de queda no endividamento, sendo mais relevante a queda de março para abril. Apesar disso, ainda há 426.897 endividados em todo o estado. Aqueles com dívidas em atraso já somam 32,8% dos entrevistados, o que representa um total de 171.319 inadimplentes, número que vem aumentando nos últimos quatro meses, sobretudo na classe de renda familiar limitada a 10 salários mínimos, em que o total de inadimplentes sobe para 35,4%.
Gráfico 1: Porcentagem (%) de endividados em Pernambuco.
Fonte: PEIC/CNC; elaboração: Fecomércio-PE.
De acordo com o recorte local feito pela Fecomércio Pernambuco, o alto número de endividados pode ser explicado pelo aumento no desemprego em abril, o que compromete a renda das pessoas. Segundo a PNAD Contínua do IBGE, a taxa de desemprego, no trimestre de janeiro a março, avançou para 8,8%, o que representa uma alta de 0,9 pontos percentuais em relação ao trimestre anterior. É importante destacar que este aumento no desemprego é um movimento sazonal do início do ano, com mais pessoas procurando vagas no mercado de trabalho. Paralelamente, a Oxfam, organização que monitora os rendimentos do trabalho no brasil, calculou que os salários dos trabalhadores assalariados caíram 3,19% em 2022 em comparação ao ano anterior.
Segundo a PEIC/CNC, o principal tipo de endividamento é aquele contraído junto ao cartão de crédito (93,8% dos endividados), haja vista a disponibilidade de um valor pré-aprovado para rápida efetuação de compras. Além disso, a ampla aceitabilidade dos cartões de crédito institui uma tendência de maior uso entre os consumidores, notadamente para gastos de maior valor.
Tabela 1: Tipos de dívida em Pernambuco.
Tipo de dívida
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Total
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Até 10 sm
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Mais de 10 sm
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Cartão de Crédito
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93,8%
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93,5%
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97,1%
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Carnês
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26,5%
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26,9%
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22,4%
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Financiamento de carro
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5,2%
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3,9%
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18,4%
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Cheque especial
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7,5%
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7,9%
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2,9%
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Fonte: PEIC/CNC; elaboração: Fecomércio-PE
A Tabela 1 mostra, ainda, um comportamento diferenciado no perfil de endividamento relacionado ao financiamento de carro. O valor médio dos automóveis, nos últimos 4 anos, teve um aumento de 73% relativamente ao salário mínimo. Isto é, em 2019 eram necessários 30 vezes o valor do salário mínimo para adquirir um carro zero quilômetro. Em 2023, são necessários 52 vezes o valor do salário mínimo para essa aquisição, segundo a FGV. Esse encarecimento faz com que famílias cujo rendimento mensal é de até 10 salários mínimos optem pela não-aquisição de automóveis novos, haja vista a dívida com financiamento ser observada em apenas 3,9% dos casos. Enquanto isso, entre aquelas com renda mais elevada, a aquisição de automóveis novos financiados é uma realidade em praticamente duas em cada cinco famílias.
Já o tempo médio de atraso nos pagamentos das dívidas em Pernambuco é de 59 dias, enquanto no Brasil é de 63 dias. Cerca de 32,3% dos entrevistados relataram ter o tempo de comprometimento das dívidas entre 3 e 6 meses. É sabido que o pagamento de juros, mora e multa é inevitável em caso de atrasos. Quanto mais cedo a dívida for quitada, melhor para o orçamento familiar, pois sobra mais renda disponível a ser destinada para consumo e/ou poupança. Por isso, é importante reduzir ao máximo o tempo de atraso das dívidas, garantindo uma melhor saúde financeira dos domicílios.
Outro aspecto relevante, que dialoga com o problema da dívida, é o efeito da inflação. Os dados do IPCA mostram que há uma expectativa de queda na inflação para o mês de abril, o que pode contribuir para o aumento do. poder de compra dos consumidores.
O economista da Fecomércio, Rafael Lima, destaca: “A prévia do IPCA apresentou um indicador menor que a expectativa, contudo, o relatório Focus do Banco Central, que traz a expectativa do mercado para os principais indicadores econômicos, avalia uma expectativa de inflação na casa dos 6,05% para 2023, 1,3% acima da meta para o ano de 2023. De um lado, a inflação tem o potencial de corroer o poder de compra das famílias, principalmente da população de baixa renda, razão pela qual deve-se evitá-la. De outro lado, a taxa de juros básica – cujo manejo, pelo Banco Central, tem sido o mecanismo principal para debelar as expectativas de inflação acumulada no ano – ocasiona restrições à redução do endividamento. Em relação à inadimplência, o Governo Federal pretende lançar o programa Desenrola até o meio do ano para ajudar pessoas inadimplentes a renegociar suas dívidas. Isso mostra que o governo está atento à situação da inadimplência e está trabalhando para melhorar o cenário para os brasileiros.”
A PEIC considera que o endividamento das famílias se refere a contas ou despesas contraídas com cartão de crédito, cheques pré-datados, carnês de lojas, empréstimo pessoal, compra de imóveis, prestações de carros e seguros. Na pesquisa, as estimativas também diferenciam dois grupos de renda: famílias com renda de até 10 salários mínimos e famílias com renda superior a esse patamar. O objetivo da pesquisa é diagnosticar o nível de endividamento e inadimplência do consumidor. Também são apurados o percentual de inadimplentes, a intenção de pagar dívidas em atraso e o nível de comprometimento da renda.
A PEIC define, ainda, que a potencial inadimplência é a expectativa dos devedores de não pagarem suas dívidas no mês subsequente ao levantamento. Já o atraso no pagamento (inadimplência) é o ato de não cumprir efetivamente os compromissos assumidos com o endividamento.
A pesquisa permite o acompanhamento do nível de comprometimento do consumidor com dívidas e sua relação com a capacidade de pagamento, informações importantes para a tomada de decisão dos empresários do comércio. Quando a inadimplência ocorre, é comum observar uma desaceleração no consumo, o que afeta, principalmente, pequenas empresas do setor de comércio e serviços.