Diario de Pernambuco
A Companhia Energética de Pernambuco (Celpe) dobrou as despesas com a folha de funcionários em 2017. O item, que pesava R$ 41,8 milhões em 2016, passou a demandar R$ 82,9 milhões do orçamento da empresa em 2017. Um dos principais motivos para o crescimento, de acordo com a distribuidora, foi a primarização, programa iniciado no ano passado e que incorporou atividades terceirizadas ao quadro efetivo. Os números, publicados em balanço na semana passada mostram, também, que a Celpe reverteu um déficit de R$ 333 mil para um lucro líquido de R$ 56,3 milhões no mesmo recorte de tempo, puxados sobretudo pela revisão tarifária em 2017.
Questionada pelo Diario, a Celpe informou que, além dos novos funcionários, o aumento dos gastos com a folha também decorreu de reajustes salariais. Ao todo, houve um incremento de 352 novos trabalhadores no organograma da distribuidora, o que representou um aumento de 17,9% frente aos 1,9 mil postos de trabalho que haviam em dezembro de 2016. O serviço de prontidão, feito por técnicos e voltado para o atendimento de demandas de operação e manutenção das redes de distribuição, foi um dos setores beneficiados pela primarização. A Celpe não informou quais as outras áreas foram integradas.
Sobre o resultado final da empresa em 2017, o balanço aponta que a revisão das tarifas impactou em um aumento de 28% no total de recursos gerados para o caixa da companhia (sem levar em consideração efeitos financeiros ou de impostos). O aumento médio, aprovado em abril do ano passado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), foi de 7,62%. Para as residências (maior fatia de clientes), a alta foi de 8,85%.
Apesar de ruim para o bolso do consumidor, o regime de bandeiras tarifárias beneficiou o desempenho financeiro da distribuidora. O acionamento das usinas térmicas diante da escassez de água provocou um impacto em toda a cadeia de distribuição pelo alto custo dessa fonte de geração, refletindo nas contas dos consumidores. Para se ter uma ideia, a bandeira vermelha (mais cara) foi aplicada em seis meses ao longo de 2017, contra apenas dois em 2016. Em virtude disso, a Celpe arrecadou R$ 127,6 milhões, já deduzidas as obrigações determinadas pela agência reguladora.
A expectativa é de que o reajuste tarifário a ser definido em abril traga um pequeno alívio para os clientes. Isso porque a Celpe teve uma sobra de energia não comercializada no ano passado. Comprada mais barata, a um preço médio de R$ 190 por megawatt-hora (MWh), abaixo do preço médio praticado no Nordeste, que é de R$ 335,33 por MWh, esse saldo diminuirá a compra a preços mais altos. Segundo a Celpe, a medida resultará “em um ganho que será repassado para a tarifa e reduzirá o efeito médio de reajuste percebido pelo consumidor”.
Suspensões por inadimplência
Com o acréscimo no custo ao consumidor decorrente das bandeiras tarifárias, o ano passado exigiu um trabalho árduo da Celpe de enfrentamento à inadimplência. A distribuidora realizou, por exemplo, 733 mil suspensões de fornecimento de energia, um aumento de 142 mil em relação a 2016. Foram feitas também 5,6 milhões de negativações para uma base de 3,6 milhões de clientes no estado, o que mostra um alto grau de reincidência. O retorno financeiro das ações foi de R$ 238 milhões, que representa um aumento de 28% em relação ao ano anterior. No entanto, as perdas por inadimplência ajudaram a puxar para baixo a performance do seu caixa operacional.
Apesar da recuperação, a Celpe sofreu um impacto negativo irreversível. Da dívida total dos clientes, R$ 171 milhões não têm a possibilidade de retorno. Em nota enviada ao Diario, a empresa destaca que esse foi um dos motivos para o resultado do fluxo de caixa total, que saiu de R$ 345 milhões positivos em 2016 para um status de R$ 87 milhões negativos. Vale ressaltar que o esforço em reverter o quadro incluiu 20 milhões de acionamentos aos devedores, tanto por ligações como por mensagens.
No que diz respeito ao perfil de consumo dos clientes, o relatório aponta que a classe residencial não registrou crescimento, influenciada pela conjuntura econômica adversa e aumento do desemprego. Também chama a atenção o comportamento dos clientes comerciais (22,7% do total do mercado cativo). A redução de 5% apresentada nesse grupo é justificada por uma migração para o mercado livre (quando compram direto de comercializadoras). A Celpe esclareceu que apesar disso, essa fatia “permanece usando a rede da distribuidora e, desta forma, pagando a tarifa do uso do fio”.
Balanço
Dezembro/2016 – Prejuízo líquido de R$ 333 mil
Dezembro/2017 – Lucro líquido de R$ 56,3 milhões
3,6 milhões
é a base de clientes da distribuidora, sendo:
88% residencial
6,28% comercial
4,41% rural
0,14% industrial
0,89% outros
Investimentos em 2017
R$ 767,1 mil, sendo:
R$ 348,1 mil na expansão da rede
R$ 216,3 mil em novas ligações
R$ 131,8 mil em sistemas de distribuição de alta e média tensão
R$ 66,3 mil na melhoria da rede
R$ 302 outros investimentos