A China fez uma ameaça militar direta a Taiwan nesta quinta (13), dia em que acabou a visita da mais alta autoridade americana à ilha desde que Washington estabeleceu laços diplomáticos com Pequim, em 1979.
A resposta à viagem do secretário de Saúde do governo Donald Trump, Alex Azar, foi uma série de exercícios aeronavais no estreito de Taiwan -com direito a quase uma confrontação direta inédita.
“Potências enviaram sinais sérios e negativos para as forças de independência de Taiwan. As patrulhas e exercícios são a resposta para situação de segurança no estreito”, disse o coronel Zhang Chunhui, porta-voz do Comando do Teatro Leste das Forças Armadas chinesas.
Pequim considera a ilha, que virou a base das forças derrotadas pelos comunistas que fundaram a China moderna em 1949, uma província rebelde.
Os EUA mantêm uma política ambígua, reconhecendo a ditadura como o país a ser chamado de China, mas mantendo relações com Taiwan e oferecendo proteção e material militar ao governo local.
Com a ascensão de Trump e sua Guerra Fria 2.0 com os chineses, a retórica ficou mais agressiva. A visita de Azar, teoricamente para falar sobre cooperação na pandemia da Covid-19, foi mais uma sinalização hostil a Pequim. Os exercícios chineses só foram divulgados nesta quinta, e envolveram navios e aviões militares diversos. Na segunda (10), um incidente quase virou um ato de guerra.
Dois caças, um J-10 e outro J-11, ultrapassaram a linha que divide informalmente as águas territoriais dos dois países -que tem 180 km de comprimento e apenas 110 km de largura no seu ponto mais estreito.
Isso já havia acontecido, mas pela primeira vez na história Taiwan iluminou os caças com baterias antiaéreas. No jargão militar, isso significa que o radar do lançador de mísseis identificou e rastreou os aviões como alvos.
O incidente foi divulgado na imprensa dos dois países, mas não ficou claro se era apenas um recado, dado que os pilotos sabem quando são iluminados por radares, ou se poderia haver um disparo.
Segundo o coronel Zhang disse a jornais chineses reproduzidos pelo South China Morning Post, de Hong Kong, as força do Exército de Libertação Popular seguiriam em “alto alerta” para refutar “ações provocativas buscando separar o país”.
O país, no caso, é a China como Pequim entende. O governo comunista tem como diretriz a reintegração pacífica da ilha a seus domínios, mas nos últimos anos vem alimentando especulações se buscaria isso com a força.
Na semana passada, os chineses fizeram um exercício militar naval perto das ilhas Prata, um conjunto de atóis na porção norte do disputado mar do Sul da China que pertence a Taiwan. Temendo uma invasão, Taipé redobrou a força de 200 homens que mantinha no local.
Diferentemente do que ocorre naquele mar, onde o risco de um confronto acidental tem sido alertado por especialistas devido ao aumento de atividade por parte tanto da China quanto de americanos e aliados, a situação é mais estável no estreito de Taiwan.
Já os taiwaneses fazem regularmente exercícios para lidar com uma eventual invasão. E os americanos realizaram diversas operações de liberdade de navegação, no qual navios militares passam por águas internacionais contestadas, no estreito de Taiwan neste ano.
Isso porque, a despeito da retórica nacionalista dos dois lados, os riscos de uma invasão chinesa seriam muito grandes. Primeiro, porque poderia envolver forças americanas diretamente num confronto, com uma escalada imprevisível.
Segundo, porque Taiwan é pequena, mas armada até os dentes, o que garantiria no mínimo um preço caro para ser conquistada. Fora o custo humano, inaceitável num momento em que Pequim busca apresentar-se como uma potência benigna e os EUA, como neoimperialistas.
Na quarta (12), a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen defendeu em uma live o aumento dos gastos militares no país para evitar a “coerção de Pequim” com “medidas assimétricas”.
Nesta quinta, seu gabinete propôs um aumento de 10% no orçamento bélico, chegando a US$ 15,4 bilhões anuais (R$ 82,5 bilhões nesta quinta). A China gastou, em 2019, mais de dez vezes esse valor, mas tem ambições bem maiores do que apenas dissuadir um vizinho mais poderoso.
Folhapress