Pedro Augusto
Anos que passaram como uma eternidade e acabaram provocando vários efeitos devastadores tanto para o campo como para quem tenta sobreviver dele. O sol escaldante que teimou em predominar no céu do estado de Pernambuco, principalmente de 2012 até 2016, alimentou a seca de tal maneira que milhares de plantações e animais morreram, diversas barragens secaram e inúmeras famílias ficaram com os pires nas mãos. Mas como não há mal que dure para sempre, em 2017, exatamente a partir do mês de maio, os agricultores e pecuaristas de Caruaru e do Agreste trataram de deixar de lado o desânimo e o desespero, que vinham se arrastando durante todo esse tempo, ao se reoxigenarem com o extenso volume de chuvas que caiu na região, a partir do mês de maio.
O inverno rigoroso não só modificou as paisagens da zona rural da Capital do Agreste, mas também trouxe a esperança de volta para o homem do campo. Agora dispondo de açudes cheios e estoques elevados de alimentos, os agricultores e pecuaristas locais se encontram, hoje, mais preparados para superar as dificuldades impostas pelos intervalos mais quentes, que, por sinal, já estão batendo na porta do calendário.
Proprietário de uma terra no Sítio Maribondo, no 4º distrito rural de Caruaru, o agricultor e pecuarista Severino Abdias confirmou à reportagem VANGUARDA que o grande volume de chuvas caído nos últimos meses, o preparou para o próximo verão.
“Lembro-me muito bem que até o dia 27 de maio deste ano, quando as chuvas começaram a aumentar, a nossa situação se encontrava desesperadora. Para o gado se alimentar e beber, tínhamos que comprar farelo de milho e caminhão de água, porque a seca havia acabado com praticamente tudo. Gastamos o dinheiro que não tínhamos na época e o prejuízo financeiro foi enorme, porque o preço do animal desvalorizou e muitos até chegaram a morrer. Mas graças a Deus, atualmente, a nossa situação se encontra diferente. Como conseguimos plantar e já estamos colhendo e a nossa barragem se encontra cheia, vivenciaremos o verão de 2018 de forma mais digna, em relação há anos anteriores, e com as nossas atividades em dia.”
E vai mesmo, senhor Severino! Haja vista que após o inverno rigoroso, os animais do curral dele passaram a ficar mais robustos gerando uma lucratividade maior para os seus bolsos. “Hoje, para se ter ideia, temos vendido cerca de 100 litros de leite por dia. Já na época da seca pesada, o volume correspondia à zero, até porque as vacas mal conseguiam ficar em pé. Graças a Deus, conseguimos colher uma quantidade muito boa de milho e ela servirá para alimentar os animais durante mais um período quente. Se em 2018 cair o mesmo número de chuvas que ocorreu neste ano, teremos mais uma temporada produtiva. Deus queira, porque passamos por muitos maus bocados nos últimos anos”, acrescentou Severino Abdias.
De acordo com o engenheiro do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), Fábio César, a previsão é de que os agricultores e pecuaristas dos distritos 1º, 3º e 4º de Caruaru vivenciem a próxima estação mais quente do ano de uma forma mais aliviante em comparação com os do 2º distrito, haja vista que foram mais beneficiados com a intensificação das chuvas. “Se houver trovoadas nos próximos meses de dezembro e de janeiro, a situação dos homens do campo do 1º, 3º e 4º distrito ficará ainda mais confortável, até porque eles conseguiram acumular água e plantar durante o último inverno. Diferentemente dos agricultores do 2º distrito, que acabaram perdendo 80% de suas produções de milho e de feijão, por causa dos volumes baixos de chuvas.”
Atualmente, o 2º distrito da zona rural de Caruaru, que vai do Rafael até a divisa do município de Toritama, também no Agreste do Estado, está sendo abastecido por caminhões-pipa. De acordo com o cálculo de Fábio César, não só este último, mas também os demais distritos que fazem parte da zona rural da cidade precisam torcer por mais quatro anos de invernos rigorosos para que retornem à normalidade no que diz respeito ao acúmulo de água. “Estes últimos anos de seca foram severos demais. Os agricultores e pecuaristas de Caruaru e da região tiveram de se desfazer dos animais, ficaram descapitalizados e sem esperança de dias melhores. Sendo assim, serão necessários todos esses anos para que a nossa zona rural volte à sua normalidade. É o que o torcemos!”, avaliou.
O engenheiro do IPA ainda destacou os benefícios que os volumes elevados de temporais trouxeram para a economia local. “Não podemos deixar isso passar em branco! Realmente, as chuvas proporcionaram novas realidades para o homem do campo na medida em que impulsionou as suas atividades e lhe trouxe novos ares para o futuro. Salvo a algumas exceções, de uma forma em geral, a agricultura e pecuária de Caruaru mostraram sinais de recuperação nos últimos meses e esperamos que esses setores também colham bons resultados em 2018”, finalizou Fábio.