Coluna: Entre o brega e o chique

Por Menelau Júnior

Época de fim de ano chega e quase todo o mundo começa a se preocupar com a roupa com a qual participará das festas natalinas. Para alguns, o prazer das comprar torna-se um martírio: são tantas comemorações e confraternizações que é quase impossível não repetir peças (ou, pior ainda, não encontrar ninguém com uma peça igual). Como, então, evitar o “brega” e ficar “chiquérrima”?

Primeiramente, o que é “brega”? Segundo o Houaiss, “brega” é algo “de mau gosto, sem refinamento, inferior segundo o ponto de vista de quem julga”. Por exemplo: chapéu de caubói em festa de casamento é brega. Usar vestido com estampa de oncinha ou zebrinha é extremamente brega. Excesso de cores na indumentária também é brega. Ouvir Pablo e elogiar as letras é muito, muito brega.

Chique, palavra emprestada pelos franceses, serve para designar, entre outros, “quem se destaca pela elegância”. O problema é quando alguém está “muito chique”. É inevitável que alguém use a palavra “chiquérrimo”. Há os que arriscam “chiquésimo”. E lá se vai a elegância de nosso inculto e belo idioma. Leia qualquer revista social e você vai encontrar inúmeras palavras terminadas em “-érrimo”. É “bacanérrimo” elogiar gente “chiquérrima”.

Ensina-nos a tradição da língua que o sufixo “-érrimo” deve ser usado quando a forma latina apresenta consoante explosiva surda mais “r”. Em outras palavras, fazemos o superlativo dessa maneira quando o adjetivo termina, normalmente, em “-ro” ou “-re”. Pobre (paupérrimo), negro (nigérrimo), magro (macérrimo) exemplificam-nos bem isso.

Portanto, não existe nada que justifique o superlativo “chiquérrimo” ou “chiquésimo” na língua portuguesa. Aliás, pela lógica, o superlativo de “chique” seria feito da forma mais comum na língua: acrescentando-se o sufixo “-íssimo”. “Chiquíssimo” seria o caso. Mas, convenhamos, é uma forma bem esquisita. Por que não ficar com “elegantíssimo” ou “elegantíssima”? São formas que obedecem aos processos de formação lógicos de nosso idioma.

É bom lembrar, entretanto, que o uso abusivo de superlativos pode tornar a linguagem pedante e retórica. Por outro lado, existem formas bem engraçadas usadas pela população e que equivalem a superlativos. Por exemplo: quando alguém quer dizer que um amigo está muito magro, muitas vezes faz isso chamando o amigo de “macarrão”. É bem mais criativo que “macérrimo”. Obviamente, há contextos para isso, e a liberdade popular não deve ser desprezada. No caso do “chiquérrimo”, não é liberdade. É frescura mesmo.

Menelau Júnior é professor de português

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

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