Coluna: Sobre leviandades e fabulações

Por Menelau Júnior

Na última terça-feira, Dilma e Aécio protagonizaram um debate “quente” na Rede Bandeirantes. Num dos momentos mais tensos, Aécio pediu que Dilma o olhasse nos olhos, que o encarasse, e foi direto: “A senhora está sendo leviana”.

Chamou a candidata pelo menos três vezes de “leviana”. O que significa essa palavrinha? Os dicionários trazem muitos sinônimos, entre eles “irrefletido”, “imprudente”, “ precipitado” e “ que não tem seriedade ou que procede repreensivamente”. A palavra vem do latim “Levis”, que significa “de pouco peso, leve. Não foi a primeira vez que Aécio usou o adjetivo. Já o fizera com Luciana Genro, aquela do PSOL que participou dos debates para dar uma forcinha a Dilma.

Dilma, a rainha dos anacolutos, não consegue usar um período composto com conectivos adequados. Em seu idioma, o “dilmês”, usou o verbo “fabular”. Logo após mentir, dizendo que o Bolsa Família não teve suas raízes no governo FHC, Dilma afirmou que Aécio estava “fabulando”. Durante a semana, a candidata voltou a usar a palavra em algumas entrevistas.

Não precisa ser estudioso do idioma para perceber que “fabular” vem de “fábula”. E como “fábula” é uma narrativa de ficção, ou seja, não tem compromisso com a realidade, o verbo “fabular” foi criado com a intenção de dizer que alguém está “inventando”. No jargão político, “mentindo” mesmo. Não se confunda “fabular” com o verbo “confabular”, que significa “conversar em segredo”, ou seja, “tramar algo”.

O período eleitoral é especialmente rico para estudos linguísticos. O vocabulário dos candidatos revela um pouco do que eles são, de suas intenções discursivas. Infelizmente, a maior parte da população brasileira não dá a devida importância ao processo eleitoral ou mesmo o entende.

Esta semana, mais debates, mais palavrinhas interessantes. Estejamos de olho nas leviandades, mentiras, fabulações e confabulações dos candidatos.

Menelau Júnior é professor de português

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

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