Com aval de Lula, PT amplia votação para escolher candidato à Prefeitura de SP

Em meio a um impasse com os pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo, o PT resolveu nesta quarta-feira (29) ampliar a votação que irá escolher o candidato petista na eleição. A decisão deve ser tomada em 16 de maio, por meio do voto de cerca de 600 pessoas que compõem os diretórios regionais do partido na capital paulista.

A decisão contemplou parte dos pré-candidatos que estavam insatisfeitos por desejarem uma votação em que todos os filiados pudessem participar. No entanto, essa solução de meio termo, costurada com o ex-presidente Lula (PT), ainda não representa um consenso.

A candidatura petista em São Paulo está sem solução desde que o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) se recusou a concorrer. As outras opções do partido são nomes menos conhecidos da população.

Para lideranças petistas, o ex-deputado Jilmar Tatto, que é o favorito na eleição interna, pode levar a uma derrota acachapante na capital. Em 2018, ele terminou em sétimo na eleição para o Senado, com 6% dos votos.

Nos últimos dias, o acirramento entre os pré-candidatos cresceu a ponto de Lula ser chamado a apaziguar a questão em uma conversa com todos eles realizada na segunda-feira (27). O ex-presidente salientou a importância de São Paulo no cenário nacional, pregou entendimento entre os petistas e ressaltou que era desejável ampliar o colégio que escolherá o candidato.

A nova definição tomada pelo diretório nacional da sigla representa uma ampliação da decisão anterior, de que somente os membros do diretório municipal, 46 pessoas, escolheriam o candidato. O modelo anterior havia sido definido pelo PT para todas as cidades, inclusive São Paulo –nas que possuem mais de 100 mil eleitores, a executiva nacional deveria referendar a escolha.

A votação restrita estava marcada para esta quinta-feira (30), mas o modelo foi contestado pela maioria dos pré-candidatos e acabou sendo abandonado. Agora, a nova votação deve ocorrer de forma virtual no dia 16 de maio, após debates no dia anterior.

Antes da pandemia do coronavírus se instalar no país, o partido tinha prévias marcadas para 22 de março, que foram canceladas para evitar aglomeração. Nas prévias, aproximadamente 170 mil filiados do PT no município estariam aptos a votar –a expectativa era de que 20 mil participassem de fato.

O cancelamento das prévias deu início aos desentendimentos internos que acabaram por atrasar a escolha petista, enquanto outros partidos já definiram seus nomes e se preparam para a disputa. A realização da própria eleição, no entanto, é uma incógnita devido à pandemia, e há chances de que o pleito municipal seja adiado em algumas semanas.

A maior parte dos pré-candidatos do PT preferia que o partido mantivesse as prévias, realizando a votação online. Os deputados Alexandre Padilha, Paulo Teixeira e Carlos Zarattini, além do vereador Eduardo Suplicy e do urbanista Nabil Bonduki, se posicionaram a favor de um colégio eleitoral com abertura a todos os filiados para uma escolha democrática.

Já Tatto, na dianteira por controlar a maior parte da máquina petista na capital, argumenta que filiados da periferia, onde ele detém vantagem eleitoral, podem não ter acesso a uma votação online por falta de celular ou internet.

A ativista do movimento negro Kika Silva, que também é pré-candidata, compartilha da tese de que a votação online é excludente.

Os pré-candidatos chegaram a recorrer ao diretório nacional do PT pedindo as prévias online, mas os recursos foram indeferidos nesta quarta.

O modelo agora definido pela cúpula do PT foi proposto pelo presidente do diretório municipal paulistano, Laércio Ribeiro, na reunião com Lula. A ideia foi aprovada pela maior parte do diretório municipal, onde Tatto tem maioria, nesta quarta (29) e foi endossada no mesmo dia pelo diretório nacional em reunião virtual. A votação foi de 56 a 13, com duas abstenções.

Teixeira, que é secretário-geral do PT, votou a favor do novo modelo de escolha diante da derrota dos recursos que pediam prévias online. “Acho que essa forma aprovada representa um mal menor, foi o que deu pra fazer. A questão está equacionada”, afirmou.

Já Zarattini afirma que continuará lutando pelas prévias online. “Tecnologicamente é possível. São Paulo é o estado mais conectado do Brasil. Se pode ampliar para 600 pessoas, por que não pode ampliar mais? Vamos nesses dias discutir o assunto e ver se é possível mudar”, disse.

Para Tatto, o gesto de aumentar o colégio eleitoral representou um amadurecimento entre os petistas. “Concordo que é mais democrático, dá maior legitimidade para o processo e para quem for o escolhido. Acredito que, com isso, o PT caminha para uma unidade grande para derrotar Bruno Covas, João Doria e Jair Bolsonaro em São Paulo.”

Tatto integra a corrente majoritária do PT e é aliado da presidente da sigla, deputada Gleisi Hoffmann (PR). Seus adversários na disputa interna chegaram a comparar a situação atual com a recusa do PT em participar do colégio eleitoral que elegeu Tancredo Neves em 1984 por defender exclusivamente as eleições diretas.

Até nomes históricos do PT, como José Genoino e José Dirceu, se posicionaram a favor das prévias online. “Tem que ter uma maneira de consultar os filiados. Devemos fazer esse esforço. O partido deve ser horizontalizado e não verticalizado”, disse Genoino.

O limite legal para registro de candidaturas é agosto. Entre os petistas, há preocupação com a indefinição da candidatura em São Paulo. A falta de um nome atrasa a elaboração de programa de governo, a montagem da chapa de vereadores e a estratégia para tornar conhecido o candidato escolhido.

A falta de um nome também dificulta que o partido responda a adversários que já se apresentaram para a disputa, como Márcio França (PSB), numa aliança de esquerda com o PDT, e o prefeito Bruno Covas (PSDB), que concorrerá á reeleição.

À direita, também há nomes já lançados para a corrida, como Andrea Matarazzo (PSD), Filipe Sabará (Novo), Joice Hasselmann (PSL) e Arthur do Val (Patriota). À esquerda, Orlando Silva sairá pelo PC do B.

Ainda há incerteza em relação a José Luiz Datena (MDB), que negocia a vaga de vice na chapa tucana, e à ex-prefeita Marta Suplicy, que está filiada ao Solidariedade e pode ser candidata a prefeita ou a vice. O PSOL tampouco escolheu seu candidato entre Guilherme Boulos, Samia Bomfim e Carlos Gannazi.

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) até agora também não tem um nome que o represente em São Paulo. Seu partido, a Aliança pelo Brasil, não estará pronto até o pleito de outubro.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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