Continente com o maior número de mortes em decorrência do novo coronavírus, a Europa começa a registrar dados que indicam um possível controle da pandemia e trazem esperança de dias menos dolorosos. No último fim de semana, vários países contabilizaram quedas significativas nas taxas de letalidade, e autoridades começaram a anunciar medidas gradativas de suspensão do isolamento. Um deles foi a Espanha, onde as crianças puderam ir às ruas ontem, após seis semanas confinadas. As autoridades, porém, advertem que os cidadãos não devem baixar a guarda.
“Não é conveniente subestimar o inimigo que tem essa capacidade de contágio”, alertou o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, ao anunciar o “primeiro relaxamento”. As crianças puderam sair de casa, mas seguindo uma série de restrições, como estarem acompanhadas de um adulto e não se afastarem a mais de um quilômetro de casa. Os parques seguem fechados. “(Podem) sair por uma hora por dia, entre 9h e 21h (…) É importante darmos esse passo seguindo rigorosamente todas as (…) medidas de proteção e higiene”, enfatizou o premiê.
Terceiro país com mais mortes pela Covid-19, atrás dos Estados Unidos e da Itália, a Espanha mantém seus 47 milhões de habitantes em confinamento desde 14 de março, uma medida que durará pelo menos até 9 de maio. O relaxamento foi decidido graças ao fato de o país, com mais de 223 mil casos notificados e 23.190 mortes, ter sinais de que está conseguido controlar a epidemia, deixando para trás o pico de infecções do início de abril, quando até 950 mortes foram registradas em 24 horas — ontem, foram relatadas 288.
Seguindo a mesma tendência, a França registrou 242 novos óbitos (dos 22.800 registrados), a Itália teve 260 (dos 26.600), e o Reino Unido, 413 (dos 20.700). Apesar do movimento de queda, as ordens de relaxamento são um quebra-cabeça para as autoridades de saúde. Sánchez apresentará, amanhã, um plano para abrandar as medidas a partir de maio na Espanha. Segundo ele, se os contágios continuarem caindo, a partir do dia 2, será permitido aos adultos passearem ou fazerem exercícios.
Volta às aulas
Na França, o primeiro-ministro Edouard Philippe deve anunciar, também amanhã, a “estratégia nacional do plano de ‘desconfinamento’”, com início previsto para 11 de maio. Entre as propostas está prevista a polêmica retomada das atividades em escolas. O chefe do governo italiano, Giuseppe Conte, prometeu ontem que a volta às aulas ocorrerá apenas em setembro. “A escola está no centro dos nossos pensamentos e reabrirá em setembro. Todos os cenários de um comitê de especialistas previam altos riscos de contágio no caso de elas abrirem antes dessa data”, declarou ao jornal La Repubblica.
Conte anunciou outras medidas para aliviar o confinamento que rege a vida dos italianos desde 9 de março. Os parques vão reabrir em 4 de maio, mas a distância social deverá ser mantida. Também será possível visitar a família e se reunir, dentro de alguns limites e respeitando as medidas de segurança. “As festas privadas continuarão proibidas”, reforçou o líder italiano. A reabertura completa de bares e restaurantes está prevista para 1º de junho, quando também serão reabertos os salões de beleza. A princípio, em 18 de maio, museus, estabelecimentos culturais e bibliotecas poderão voltar a funcionar.
A Itália registrou ontem o menor número diário de mortes em decorrência da Covid-19 em seis semanas. A pandemia provocou 26.644 óbitos nos país. Desde 14 de março, os italianos não concluíam um dia com menos de 300 falecimentos. “Tivemos um resultado muito importante. Agora, temos que tentar manter o risco o mais baixo possível e evitar um novo aumento das infecções, estabilizando o número de pacientes em terapia intensiva”, enfatizou Franco Locatelli, presidente do Conselho Superior de Saúde, um órgão consultivo do governo. “Mesmo com os avanços, não saímos do tormento. Temos que continuar com as medidas de distanciamento social e outras que deram resultados concretos no combate ao vírus”, complementou.
Em Londres, o primeiro-ministro Boris Johnson, que esteve hospitalizado por causa da Covid-19, retornou ontem à sua residência oficial, em Downing Street, e deve retomar suas atividades hoje. De acordo com Dominic Raab, ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, Johnson está “em boa forma” e “ansioso para assumir as rédeas do governo”. As restrições de quarentena do Reino Unido, adotadas em 23 de março, permanecem em vigor até pelo menos 7 de maio. Os britânicos aguardam o início do planos de Boris Johnson para relançar a economia e sair do confinamento.
Correio Braziliense