A Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) está desenvolvendo estudos para transformar as Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) em unidades sustentáveis em relação à geração de energia. Na última terça (10), representantes da Compesa, da Odebrecht Ambiental e das universidades estadual e federal de Pernambuco, UPE e UFPE, discutiram possibilidades para que o lodo gerado no tratamento de efluentes seja usado como insumo para a produção e aproveitamento de biogás como fonte de energia. Como resultado, foi criado um Plano de Trabalho com quatro ações que devem ser executadas pela Compesa.
A discussão aconteceu durante o Workshop Produção e Aproveitamento Energético do Biogás nas ETEs da Compesa, no auditório da Escola Politécnica de Pernambuco (Poli/UPE), no Benfica, Recife. Na ocasião, o diretor Técnico de Engenharia da Compesa, Rômulo Aurélio Souza, e o de Novos Negócios, Ricardo Barretto, reafirmaram o interesse da companhia em investir em unidades de tratamento de esgoto que façam o reaproveitamento do lodo para fins ambientalmente corretos, como é a produção do biogás.
O interesse se estende para as unidades da Região Metropolitana do Recife (RMR), área atendida pelo Programa Cidade Saneada, parceria público-privada entre a Compesa e a Odebrecht Ambiental. “Estamos em busca de soluções ambientalmente sustentáveis e que possam reduzir despesas fixas, como a conta de energia. O workshop apresentou alguns caminhos que podemos seguir nessa área de eficiência energética”, resumiu o diretor Rômulo Aurélio.
No Plano de Trabalho traçado no workshop, foi estabelecido que a Compesa vai elaborar um documento para estudo de viabilidade técnica e financeira para produção e aproveitamento energético de biogás; verificar as adequações necessárias (civis, elétricas, mecânicas e de segurança) nas ETEs existentes e a possibilidade de implantação nas novas unidades; e levantar as ETEs com potencial de produção e aproveitamento energético a partir do estudo de viabilidade técnica e financeira.
Em paralelo, será feito um esforço para executar o projeto de geração e aproveitamento de biogás que já está pronto para acontecer na ETE Caruaru, no Agreste. A previsão da Compesa é conseguir realizar esse projeto no segundo semestre deste ano, um investimento estimado em R$ 1 milhão. Da vazão de 100 litros de esgoto por segundo, seria possível gerar 200 KW de energia por dia, o que representaria uma economia de R$ 10 mil por mês para a Compesa na conta de luz da ETE Caruaru.
Esse projeto é resultado de um convênio entre a Celpe, Compesa, Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Universidade de Pernambuco, tendo a Celpe como proponente do projeto e financiadora de maior parte do investimento. O convênio nasceu a partir da chamada 014/2012 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que trata dos arranjos técnicos e comerciais para a inserção da geração de energia elétrica a partir de biogás oriundo de resíduos e efluentes líquidos na matriz energética brasileira. O projeto é classificado como estratégico de Pesquisa e Desenvolvimento.
Na RMR, a ETE Cabanga, no Recife, poderá ser a próxima a passar por essas adaptações. “Temos muitas obras de implementação de esgotamento e vamos começar a adequação no Cabanga, no valor de R$ 90 milhões, dentro do Programa Cidade Saneada. A gente sabe que, na Região Metropolitana, temos muita capacidade de desenvolver projetos desse tipo. A ideia é que, neste encontro, as equipes de projeto, manutenção e operação aprofundem os conhecimentos sobre essa tecnologia para aproveitar para os projetos que virão”, afirmou diretor.
Tecnologia – A ideia do corpo técnico da Compesa é viabilizar o aproveitamento do lodo como uma fonte geradora de energia. Isso seria feito a partir do esgoto puro, que é aquele que ainda será tratado antes de ser devolvido aos cursos d’água. Parte dele iria para um UASB, sigla em inglês que significa Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente. Nesse reator, seria possível extrair o Metano (CH4) e o Dióxido de Carbono (CO2), gases que são maioria na composição do biogás.
O biogás produzido na ETE pode ser usado como fonte de energia complementar à fornecida pela concessionária de energia elétrica. Uma possibilidade seria usá-lo de forma sistemática, nos horários de pico, quando esse insumo é mais caro. A outra seria em momentos de emergência, quando há suspensão no fornecimento, os chamados apagões de energia. Poderia, ainda, ser armazenado e utilizado para alimentar unidades menores da Compesa ou estruturas que consomem pouco, como na iluminação de prédios e áreas externas.