Thatiany Lucena/Diario de Pernambuco
A partir da próxima sexta, 21 de março, os trabalhadores da iniciativa privada poderão solicitar empréstimo consignado com desconto na folha de pagamento a bancos oficiais e privados. A Medida Provisória, que tem a promessa de oferecer juros mais baixos, foi assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para especialistas, a tentativa de aquecer a economia pode virar mais um meio de aumento da inadimplência.
Para o economista e sócio-diretor da PPK Consultoria, João Rogério Filho, a iniciativa chega em um momento de altas taxas de juros no país e não deve diminuir o custo do endividamento das famílias. “É um crédito ainda muito caro. O governo estima que, tendo sucesso na democratização desse produto, (os juros) vão sair a 25% ao ano. Isso é uma taxa que em qualquer lugar do mundo é considerada altíssima para quem está lidando com a inflação em torno de 4%. É um motivo de preocupação porque esse estímulo ao endividamento se dá por meio de abertura de linha de crédito e não por meio de redução da taxa de juros”, pondera. Assim, a medida seria uma “contradição em termos de política econômica”, pois de um lado o governo eleva as taxas de juros; do outro, estimula o crédito.
Outro risco levantado é a margem consignável oferecida pelo programa, de 35% do salário do trabalhador. “Considerando a média de rendimento do brasileiro de R$ 3.225, comprometer 35% dessa renda, que não tem espaço orçamentário, pode afetar questões básicas como saúde e educação. Isso não é saudável”.
ENDIVIDADOS NO RECIFE
A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), realizada pela Fecomércio-PE, com dados de fevereiro de 2025, apontou que 83,4% das famílias recifenses possuem endividamento, com um leve aumento em relação a períodos anteriores.
Em relação aos principais tipos de dívida, o cartão de crédito lidera com 91,6%, seguido pelos carnês (27,7%). Os financiamentos de carro e casa são utilizados por 6,5% e 5,7% das famílias, já o crédito consignado faz parte de 2,4% das dívidas dos recifenses.
CRÉDITO “ATRAENTE”
Segundo o governo federal, o programa, que reformula o crédito consignado para trabalhadores formais da iniciativa privada, pretende reduzir o endividamento e tornar o crédito mais atraente e também busca ser uma forma de migrar dívidas com maior custo.
O economista João Rogério aponta que, na verdade, essa é uma campanha que visa a ampliação do crédito, não de renegociação de débito. Mesmo se fosse, seria repetir algo que já existe, pois o crédito consignado para empregados em empresas privadas não é novidade. Além disso, a concorrência, nesse caso, também ocorre porque os bancos que detêm a folha de pagamento dos trabalhadores oferecem portabilidade.
As medidas que realmente poderiam solucionar a questão do endividamento deveriam ser as que barateiam o custo básico do dinheiro para as pessoas. “O jeito certo de estimular a tomada de crédito seria derrubar a Taxa Selic, atualmente em 13,25%, para 6%”, exemplifica João Rogério sobre o indicador que mede a taxa básica de juros do país.
INADIMPLÊNCIA
De acordo com o Mapa da Inadimplência no Brasil, realizado pelo Serasa com dados de janeiro, Pernambuco tem mais de 3,31 milhões de inadimplentes. O número equivale a 46,13% da população adulta. A tendência segue a mesma do país, que tem 74,6 milhões com dívidas em atraso, que representa 45,94% da população.