Com o crescimento do preço da carne bovina de forma gradual no Brasil e os efeitos econômicos negativos devido à pandemia da Covid-19, os ovos tornaram-se uma opção de substitutos na alimentação dos brasileiros. Em 2020, o consumo per capita de ovos atingiu 251 unidades, apresentando crescimento de 9,1% no ano, segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (Abpa). Em 2021, a expectativa é de que esse número cresça para 260. Já em Pernambuco, o consumo per capita do alimento foi de 300 ovos no ano passado, superando a média brasileira, de acordo com a Associação Avícola de Pernambuco (Avipe).
“Ano passado o Brasil passou a média do consumo mundial que é na casa dos 230 ovos per capita. Esse número tem muito a ver tanto com o aumento do preço da carne bovina de maneira geral, como também em função da pandemia. As pessoas ficaram mais em casa, tiveram a oportunidade de consumir mais ovos, e a gente vê, efetivamente, esse consumo de ovos, tanto in natura, para consumirmos como o produto ovo ou como base para outros produtos e os brasileiros passaram a cozinhar mais em casa. De maneira geral, temos visto em 2021 um consumo muito positivo” explica o diretor de mercados da Abpa, Luis Rua.
Devido à pandemia e o cenário atual de crise econômica que vive o País, a tendência é que o ovo esteja ainda mais presente na mesa dos brasileiros pelo seu custo menor. Em constante crescimento, o preço das carnes subiu 17,97%, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). No ano passado, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o consumo de carne bovina do brasileiro foi de 27,6 quilos por habitante, representando uma queda de 9,8%. O número ficou abaixo do que foi projetado pela companhia para 2020, que indicou um consumo de 29,3 quilos por habitante.
“Precisamos entender que esse movimento de aumento no consumo de ovos está totalmente relacionado com o aumento do preço das carnes, porque são substitutos próximos, não que ovo e carne sejam semelhantes, mas no sentido de consumo de proteína e na cultura nossa, conseguimos substituir a altura”, destaca o economista do PieR de Negócios, Ivangillys Gomes.
Com a oferta menor de carne entre os brasileiros e o aumento dos custos de produção dos animais, o preço da carne aumentou substancialmente.
“Nós temos pelo menos dois fatores para que o preço da carne aumentasse consideravelmente. O primeiro motivo é o aumento da demanda pela carne brasileira dos países asiáticos. Você tem a China que é um grande importador de produtos brasileiros, e ela teve um aumento significativo de demanda, especialmente agora que saíram da pandemia. O consumo de carne brasileira pelos países asiáticos aumentou muito de forma que fez com que a oferta dessa mesma carne aqui no Brasil se deslocasse para trás, sendo menor para os brasileiros e quando você tem uma redução na oferta, naturalmente acontece um aumento de preços. Além disso, temos o aumento do preço da soja, do milho e isso implicou para que os custos de produção do animal também sejam mais altos, de modo que os criadores passaram a repassar todo esse custo para o consumidor final”, ressalta o economista.
Dificuldades de produção
Conforme a alta demanda de ovos entre os brasileiros, os custos de produção também aumentaram. “Temos um grande desafio para esse ano que é a alta dos custos de produção que tem sido um fator muito impactante especialmente na agricultura de postura, em que as empresas são de uma dimensão menor comparando aos frigoríficos de aves ou suínos. Nós já estamos vendo efeitos claríssimos dessa questão do aumento dos custos. De um ano para o outro, de junho de 2020 a junho de 2021, tivemos um aumento de 89,5% nos custos do milho, que é um dos principais insumos para a ração dos animais. Algo em torno de 70% dos custos de produção do animal vivo é o custo da ração e o milho desempenha um papel importante. A gente vê a demanda existindo, mas também percebemos a preocupação de alguns produtores reduzindo os seus plantéis em alguns casos, justamente por essas dificuldades”, detalha o diretor de mercados da Abpa, Luis Rua.
De acordo com o presidente da Associação Avícola de Pernambuco (Avipe), Giulliano Malta, os efeitos dos altos custos de produção já podem ser percebidos no Nordeste. “O que realmente vêm ocorrendo é uma diminuição na quantidade de produtores devido aos altos custos para produzir aves e ovos. Em São Bento do Una, que é o maior polo de produção de aves e ovos do nordeste, mais de 20 produtores já pararam suas atividades. Atualmente o avicultor tem amargado grandes prejuízos para continuar produzindo o alimento ovo. Os principais insumos tiveram aumentos: farelo de soja aumentou mais 60%, o milho mais de 120%, embalagens 45%, custos com logísticas 35%, entre outros insumos que também houve aumento”, pontua.
Apesar dos custos elevados, o avicultor não tem um resultado positivo nas vendas. “Algo inusitado é que o avicultor não conseguiu aplicar os reajustes para o valor final. a depender da granja, o custo de produção de uma bandeja com 30 ovos é de R$ 11,00, mas, tem sido vendido em média a R$ 10,00 para os atacadistas e varejistas”, complementa o presidente.
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