Covid-19: o grande acelerador do comércio online

Enquanto as lojas demitem funcionários, as empresas do setor digital apresentam resultados extraordinários. A Covid-19 e o confinamento aceleraram a consolidação do comércio online, dentro de um modelo econômico obrigado a se adaptar com riscos para o emprego.

Há uma semana, o mundo assistiu um episódio que refletiu totalmente este paradoxo: em 18 de agosto a rede britânica de lojas Marks & Spencer anunciou a demissão de 7.000 funcionários, poucas horas antes de a gigante do comércio online Amazon informar a contratação de 3.500 pessoas nos Estados Unidos.

“Está muito nítido que a digitalização do comércio, apesar de já existir há muito tempo, se acelera bastante”, observa Hervé Gilg, especialista em comércio de varejo na consultora empresarial Álvarez & Marsal.

Isso beneficia as empresas que já realizam uma parte significativa de sua atividade online. A Amazon, por exemplo, dobrou seu lucro líquido no segundo trimestre. O Walmart, que apesar de não ser um ator unicamente online, soube se apoiar no impulso do comércio online nos Estados Unidos e nos incentivos do governo ao consumo, superando as expectativas do mercado.

É muito simples: “O comércio online aumentou 41% em apenas três meses, contra um crescimento de 22% em 2020”, explicou no final de julho a empresa especializada em estudos de mercado Kantar.

“Na França, Reino Unido, Espanha e China, a parte de mercado passou de uma média de 8,8% para 12,4%”. Na China, o comércio online já representa “um quarto dos gastos em produtos de grande consumo”.

A evolução já estava em andamento antes de a Covid-19 impor novas regras à economia mundial. Mas a queda brutal da atividade como consequência do confinamento teve um “efeito de recorte muito importante para os comércios não-alimentícios mais dependentes de pontos de venda físicos”, afirma Hervé Gilg.

Essa situação inédita “fez todos os atores do setor ‘varejista’ se conscientizarem que é indispensável estar presente na internet e ser o mais competitivo possível”, considera por sua vez Stéphane Charvériat, diretor associado em Boston Consulting Group (BCG).

“Investimentos significativos”
“É preciso evoluir, mas isso exige meios e investimentos significativos”, alerta Charvériat, em um momento em que as empresas viram uma queda expressiva na receita.

As transformações também acontecerão sob a pressão de pesos pesados internacionais já bem estabelecidos online, como a Amazon. Por outro lado, a rede física pode se tornar uma fonte de lucro, estima Hervé Gilg. Os turistas internacionais, quando puderem voltar a viajar, vão querer visitar as lojas conhecidas. “A Apple mostrou muito bem o que a propaganda de uma loja pode fazer”.

AFP

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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