Por Anthony Almeida
Cabisbaixo, ele vem subindo a avenida. Os olhos só deixam de apontar para os pés quando precisa atravessar as ruas. Fim de tarde, muitos carros sobem e descem a Agamenon Magalhães. Pausa na caminhada, espiada no semáforo, verde aos pedestres, ele avança sua andança, cabisbaixo.
Cabisbaixo e cara triste, percorre calçadas, faixas brancas, meios-fios, níveis, desníveis – desníveis pequenos, que a Agamenon é perfeita.
Cabisbaixo e boca arriada, ultrapassa um, é superado por dois, entrecruza vários, que caminham no sentido oposto.
Cabisbaixo e olhos murchos, anda, pensa em algo, anda, suspira, anda, e chega na frente do shopping. Entra. Agora, além dos sapatos, observa o chão de cerâmica e os degraus móveis, da escada rolante. Sobe.
Cabisbaixo por dentro, cabeça levantada por fora, observa as vitrines enquanto a escada viaja. Ao chegar no 1° andar, ele volta a mirar os pés, não quer tropicar no desembarque.
Cabisbaixo segue, atravessa o andar, quer chegar à outra escada, subir mais. Um reflexo, porém, bate em sua testa, ofusca seus olhos. Ele ergue o queixo, quer saber donde vem.
Adiante, a vidraça do centro de compras recebe a luz do pôr do sol, que começa a se esconder por trás da arquibancada do estádio do Central, vizinho de frente do shopping center.
– Eita…
Boquiaberto, ele dá três passos atrás. Mãos nos bolsos, contempla a visão. Cabeça alta, admira-se com o pôr do sol.
A estrela desce e sua boca ri, seus olhos riem, sua cara inteira ri. Até o suspiro que solta é um sorriso. Ele contempla o fim da tarde.
Findada a reverência, segue seu caminho. Sobe a nova escada e a sua cara ri. Sobe, sobe e até a alma ri.
Anthony Almeida é cronista, colecionador de cartões-postais e professor de Geografia