Pedro Augusto
Caruaru ainda está longe de ser uma referência em mobilidade urbana. Se no passado ela fez jus às características de uma cidade pacata e interiorana, hoje a Capital do Agreste vem se assemelhando bastante com as grandes metrópoles da região Nordeste, com seus ritmos de desenvolvimento acelerado, mas também acumulando vários gargalos difíceis de superar, a exemplo do trânsito caótico. Como se não bastassem as dificuldades impostas pelas ruas estreitas e as sinalizações ineficientes, as pessoas que necessitam circular a pé pelo município ainda vêm encarando, não é de hoje, as várias irregulares cometidas por condutores. Dentre as infrações que têm liderado atualmente o ranking de notificações da Destra está o desrespeito às faixas de pedestres.
Bastaram apenas algumas horas presente na tarde da última terça-feira (10), no centro de Caruaru, para a reportagem VANGUARDA registrar, através da sua câmera fotográfica, a diversas invasões de faixas praticadas pelos motoristas infratores. Para a estudante Bruna Benevits, que precisa trafegar diariamente pelas ruas 15 de Novembro e 13 de Maio, este tipo de irregularidade já se encontra banalizada no trânsito local.
“Quando não têm parado e até estacionado nelas, os condutores, simplesmente, estão querendo passar por cima dos pedestres, assim que os sinais vêm abrindo. Já cheguei a presenciar um atropelamento por causa do desrespeito à faixa na Rua 13 de Maio. De crianças a idosos, todos têm sido prejudicados por causa da má educação desses infratores e as punições têm sido poucas”, relatou.
Obrigada a vir toda semana até Caruaru devido às compras que faz na Feira da Sulanca, a aposentada Amara Oliveira foi outra a criticar o desrespeito às faixas de pedestres. “Esse trânsito local, meu filho, é um Deus nos acuda! Os pedestres precisam ficar bastante atentos e não vacilar para não serem atropelados por esses maus educados. Isso porque, mesmo cumprindo com o nosso dever de atravessar nas faixas, ainda temos corrido o risco de sofrermos acidentes e ficarmos feridos. Como não vem ocorrendo tanta fiscalização como se deveria, a maioria dos infratores tem ficado impune e pintado e bordado nas ruas. Já fiquei parada no meio da faixa da Rua Porto Alegre, porque, quando abriu o sinal, os carros não esperaram eu atravessar. Isso é um absurdo!”
Para o programador Fábio Farias, que tem trafegado todos os dias pela Avenida Rio Branco e pela Praça Teotônio Vilela, o não cumprimento das regras das faixas de pedestres vem ocorrendo a torto e a direita, elas estando desgastadas ou não. “É claro que quando estão apagadas ou com as pinturas falhas, elas vêm abrigando um número maior de veículos em relação às bem conservadas, mas em termos gerais, muitos condutores estão ignorando a importância das faixas para os pedestres em qualquer condição. Na Avenida Rio Branco, por exemplo, naquela faixa que fica em frente à Catedral, o que não tem faltado são veículos parados em meio à passagem das pessoas. Se esses motoristas infratores se colocassem no lugar dos pedestres, não fariam mais isso. É uma vergonha precisar falar sobre um assunto, que deveria fluir naturalmente”, lamentou.
O Código de Trânsito Brasileiro determina punições para os condutores que não respeitam as faixas de pedestres. De acordo com o artigo 170 “dirigir ameaçando os pedestres que estejam atravessando a via pública” está passível ao pagamento de multa no valor de R$ 293, 47 (infração gravíssima), com a inclusão ainda de mais sete pontos na Carteira Nacional de Habilitação. Em paralelo, caso os motoristas infrinjam o artigo 181 do CTB, que corresponde a “estacionar na faixa de pedestre”, serão obrigados a pagar multa no valor de R$ 130,16 (infração grave), com inclusão ainda de cinco pontos na carteira. Por outro lado, caso a infração cometida se refira a “parar na faixa de pedestre” – artigo 182 e considerada infração leve –, eles terão de desembolsar R$ 88,38.
Procurada pela reportagem, a diretora de Trânsito e Transportes da Destra, Adriana Leite, reconheceu a alta incidência de abusos praticados nas faixas de pedestres, bem como ainda enumerou quais medidas estão sendo aplicadas pela autarquia para conter a falta de cidadania por parte de milhares de infratores. “Esta situação é lamentável, mas já se tornou corriqueira no trânsito de Caruaru. Por questão cultural, ou seja, mesmo sabendo que precisam cumprir com o que determina o CTB, eles, simplesmente, não vêm respeitando as faixas. Somado a isso, grande parte desses condutores infratores tem aproveitado que o efetivo da Destra ainda se encontra baixo para praticar este tipo de abuso. Mas não deverão ficar impunes por muito tempo, haja vista que o trabalho de fiscalização continua e ainda haverá a contratação de novos agentes, através de concurso.”
“Em paralelo a esse reforço no efetivo, colocaremos em prática, em breve, um projeto de educação para o trânsito, que terá, além de fiscalizações, a atuação de arte-educadores, que ficarão imbuídos de promover ações de orientação não só para os condutores, mas também para os próprios pedestres. Haja vista que estes últimos, em alguns casos, também vêm agindo de forma incorreta, ao atravessarem as ruas em locais indevidos, ou seja, sem ser nas faixas de pedestres. Esse projeto começará a ser posto em prática já no final de novembro deste ano, quando, na ocasião, passaremos a intensificar a pintura daquelas faixas que hoje se encontram mais desgastadas, a exemplo das que ficam nas proximidades de escolas, postos de saúde, creches, estabelecimentos comerciais e as do próprio Centro”, complementou Adriana.