De olho em 2022, oposição avalia cenários e tenta reunir forças para não repetir erros de 2020

A apuração dos votos do segundo turno da eleição para prefeito do Recife mal tinha sido concluída quando a segunda colocada na disputa, a deputada federal Marília Arraes (PT), fez a primeira sinalização para um rearranjo das oposições ao PSB em Pernambuco. O gesto é visto como um aceno a forças políticas diversas para a criação de uma frente contra o partido que há oito anos governa, simultaneamente, a Capital e o Estado, com possíveis implicações para a corrida eleitoral de 2022, quando os pessebistas completam 16 anos à frente do Governo.

Ao discursar para os seus correligionários no último domingo, a petista agradeceu aos que apoiaram a candidatura dela à Prefeitura, incluindo lideranças ligadas à direita e à centro-direita, como o prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira (PL), e o deputado federal Ricardo Teobaldo, presidente estadual do Podemos, legenda que lançou a delegada Patrícia Domingos para a Prefeitura no primeiro turno das eleições. Além deles, Marília recebeu apoio do ex-ministro e ex-senador Armando Monteiro Neto, que, logo depois, anunciou a desfiliação do PTB.

No discurso, após criticar a campanha do prefeito eleito João Campos (PSB), a deputada federal defendeu o início de uma “nova articulação” das oposições em Pernambuco. “Aqui começa um novo capítulo da história do Estado, com uma articulação de uma nova oposição, e que vai fazer oposição com responsabilidade”, declarou.

A sinalização é lida com cautela pelos oposicionistas que estão mais à direita no espectro ideológico. O líder da Oposição na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), Antônio Coelho (DEM), considera que, apesar da vitória do PSB na Capital, o cenário traçado neste pós-eleições foi positivo para os oposicionistas e que Marília fez uma “campanha bonita” e provou “força eleitoral”, deixando, com esse gesto, as “portas abertas” para uma composição mais ampla.

“Se a gente, de fato, quer apresentar uma nova proposta para o Estado de Pernambuco, tem que estar disposto a uma ajuda, seja lá de onde vier. Então, acho que o espírito da proposição de Marília está correto e é muito bem-vindo”, afirma, mas acrescenta que o PT deve fazer uma “introspecção profunda”. “Se alguns quadros do PT decidirem fazer oposição, a Oposição está de portas abertas para que a gente possa achar um eixo programático consensual, para que se tenha uma bandeira comum contra o PSB e a gestão Paulo Câmara”.

No âmbito municipal, a tendência de se manter uma fragmentação entre oposições à direita e à esquerda é quase certa, segundo o líder da Oposição na Câmara de Vereadores, Renato Antunes (PSC). “O que Marília disse ontem não se escreve. Não por ela, mas pelo Partido dos Trabalhadores, que nunca fez oposição e espera-se que faça composição com o PSB. Então, o que há hoje é a construção de dois blocos, um mais progressista e outro mais de centro-direita”, observa. “Mas isso não impede que, numa pauta que envolva a cidade, a gente possa estar junto”.

Na avaliação do professor e cientista político Elton Gomes, esse projeto é, por enquanto, um desejo de Marília Arraes. “É como uma faísca, que pode pegar fogo ou não. Se pegar fogo, teríamos uma frente ampla de oposições contra o Governo do Estado. Senão, teria uma oposição à direita e outra à esquerda como acontece hoje. A tendência é que tenha mais divisão do que unidade”, analisa.

Folhape

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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