O número de denúncias de violência contra idosos no estado aumentou 83% durante a pandemia do novo coronavírus. De acordo com o Centro Integrado de Atenção e Prevenção à Violência Contra a Pessoa Idosa (Ciappi), ligado à Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (SJDH), desde que foi confirmado o primeiro caso, em 12 de março, até 6 de abril, foram registradas 33 queixas, que representam 118 violações. No período imediatamente anterior, entre 15 de fevereiro e 11 de março, foram 18 queixas, que representaram 30 violações.
O recorte, feito a pedido do Diario, representa os 26 primeiros dias da presença confirmada do novo coronavírus em Pernambuco. Dentre as 118 violações constatadas, as mais frequentes foram maus tratos, violência psicológica, negligência, violência financeira e ameaça de morte. Muitas dessas denúncias foram feitas no Recife, Jaboatão dos Guararapes e Altinho, no Agreste.
Os índices criminais da Secretaria de Defesa Social (SDS) ainda não estão disponíveis, mas os dados do Ciappi alertam para a situação. “Os maus tratos de idosos sempre foram prevalentes no seio familiar. Por serem mais vulneráveis, imaginava que esse tipo de coisa ia crescer com o isolamento social. As famílias que são dedicadas continuam tendo cuidado com os idosos. Mas, as negligentes, com certeza, usam esse momento como justificativa para abandoná-los”, opinou a médica geriatra Danielle Marinho.
“Mesmo sem a presença física, dá para você continuar perto do seu ente querido idoso, com as redes sociais e as chamadas de vídeo. Recentemente, tive uma paciente que comemorou seu aniversário da janela do prédio que morava, com os filhos e os netos embaixo, cantando parabéns. Há como driblar o isolamento com a criatividade”, ressaltou.
Na questão da violência intrafamiliar, um ponto que chama a atenção da geriatra são os lares multigeracionais. A convivência entre gerações diferentes pode acentuar conflitos – o que, claro, não justifica uma violência. “É um somatório de tudo que vivemos: tensão, convívio inesperado, parte emocional. Até mesmo casais idosos podem se desentender”, diz.
A coordenadora do Núcleo de Atenção ao Idoso (NAI) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Márcia Carréra Campos Leal, explica que a melhor forma de sair de uma situação de violência é com denúncia do próprio idoso. “Às vezes um vizinho denuncia, mas o idoso desmente, porque tem medo da retaliação de um filho agressivo que está em casa, por exemplo”, comenta.
A longo prazo, a coordenadora acredita que a sociedade e o poder público poderiam se unir para realizar a capacitação de pessoas que cuidam de idosos, sejam familiares ou não. “Em alguns casos, não é necessariamente uma maldade, mas falta de informação da pessoa que está cuidando. Mas como uma ação imediata, seria bom utilizar ferramentas das redes sociais, a mídia escrita e audiovisual, esclarecendo não só os cuidados, bem como os direitos”, afirmou.
Como denunciar
Mesmo com a pandemia, o Centro Integrado de Atenção e Prevenção à Violência Contra a Pessoa Idosa (Ciappi) segue funcionando. Denúncias de qualquer tipo de violação contra uma pessoa idosa podem ser feitas através dos telefones (081) 3182-7649 ou (081) 3182-7607, no horário das 9h às 13h. Outra alternativa é o e-mail ciappi2016@gmail.com.
Diario de Pernambuco