Após concluir a operação de venda de parte de suas ações na Petrobras nesta sexta (7), o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) deve começar o planejamento para se desfazer de sua participação no frigorífico JBS. O banco de fomento é dono de 21,32% das empresas dos irmãos Batista, adquirida em uma série de operações para apoiar a expansão do grupo, que se tornaram alvo de polêmica e de investigações nos últimos anos. Pela cotação desta quinta (6), a fatia vale cerca de R$ 15,6 bilhões.
O BNDES já contratou estudos sobre a melhor forma de vender os papéis, mas esperava a conclusão da operação com as ações da Petrobras antes de avançar. Não há definição ainda sobre o modelo nem sobre o prazo para a conclusão do negócio.
As vendas de ações fazem parte de um processo de desinvestimento do banco, que ao fim do terceiro trimestre de 2019 tinha uma carteira avaliada em R$ 114,4 bilhões -considerando apenas os papéis sob o guarda-chuva do BNDESPar.
As ações da Petrobras oferecidas ao mercado não fazem parte dessa lista: são papéis ordinários (com direito a voto) que eram detidos diretamente pelo banco. A operação envolveu 9,6% das ações ordinárias da petroleira estatal. Os investidores se comprometeram a pagar R$ 30 por cada ação, somando um total de R$ 22 bilhões. Segundo a Petrobras, investidores institucionais, como fundos e bancos de investimento, ficaram com 82,45% das ações. O restante foi adquirido por pessoas físicas.
Após a oferta, o BNDES permanece com 0,16% das ações ordinárias e 19,05% das ações preferenciais da Petrobras. A estatal permanece como a maior empresa da carteira do BNDES, responsável por 40,7% do valor de mercado avaliado em setembro de 2019.
A segunda maior, naquela ocasião, era a JBS -a posição acionária do banco no frigorífico valia R$ 19 bilhões. A venda desses papéis tem um complicador, que é o peso do BNDES no capital social da companhia: a oferta, em uma operação, de um volume tão grande de ações tem potencial para derrubar as ações.`
O modelo de venda de participações do BNDES é questionado tanto pela AFBNDES (associação que reúne os funcionários do banco) quanto pela Abradin (Associação Brasileira de Investidores). O presidente da AFBNDES, Arthur Koblitz, diz que a venda de grandes lotes de ações pode reduzir o ganho do banco, ao pressionar os papéis para baixo antes da operação. Ele questiona ainda vazamentos de informações sobre operações futuras, que também têm potencial de influenciar o mercado.
O preço recebido pelo BNDES na operação desta semana foi 1,57% inferior à cotação do pregão de quarta (5), quando o mercado precificou os papéis. No pregão desta quinta, dia de baixa na bolsa, as ações ordinárias da Petrobras subiram 2,7%, chegando a R$ 31,30.
Koblitz alega ainda que não há um plano de reinvestimento do dinheiro arrecadado com as vendas de ações. Parte do ganho vai inflar o lucro do banco e ser repassado ao Tesouro como dividendos. A política atual prevê a transferência de 60% do resultado.
Aurélio Valporto, da Abradin, cirticou o modelo de avaliação das ações, que teria considerado principalmente o valor de mercado. “A Abradin considera essa venda irregular, por ser alienaçãop de patrimônio público sem a devida avaliação”.
O modelo de venda das ações do BNDES foi alvo de embate interno e acabou resultando, em outubro, na demissão do diretor de Investimentos André Laloni, indicado cerca de três meses antes. Antes de sair, ele havia afastado uma superintendente que pedia maiores estudos para uma oferta pública de Petrobras. De acordo com informações divulgadas pela estatal, a operação rendeu R$ 44 milhões em comissões e despesas pagas aos bancos coordenadores e escritórios de advocacia, entre outros.
Folhapress