Pedro Augusto
Se não bastassem as incontáveis atividades que necessitam desempenhar a cada raiar do dia para combater a criminalidade, os policiais civis que são lotados à Delegacia Regional de Caruaru, entre os bairros Boa Vista I e II, ainda precisam conviver com uma situação nada agradável em seu principal ambiente de trabalho. Não é de hoje, ou melhor, há vários anos, que esses servidores vêm penando bastante com o acúmulo significativo de veículos que permanecem aglomerados na área territorial da unidade provenientes de apreensões em ocorrências. Além de preencher um espaço que poderia ser utilizado para oferecer melhores condições de operação para os civis, o amontoado de automóveis, caminhões e motocicletas também vem causando alguns danos às saúdes dos mesmos.
Foi o que chamou a atenção o diretor-presidente do Sinpol-PE (Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco), Áureo Cisneiros. “Isso é um absurdo que vem sendo denunciado pelo nosso sindicato há pelo menos três anos, mas o Governo do Estado, simplesmente, tem fechado os olhos e virado as costas. Para se ter ideia dos danos que esse acumulado de veículos vem proporcionando para a categoria, um policial chegou a ser picado recentemente por um escorpião bem como outro acabou contraindo dengue, até porque o que não tem faltado são insetos de todos os tipos presentes neste verdadeiro ferro velho que acabou se formando na unidade. Os policiais já cansaram de fazer reclamações, mas reiteramos: nenhuma providência ainda foi tomada!”
Além de oferecer riscos para as saúdes dos civis, o amontoado de veículos também vem provocando algumas situações que poderiam ser evitadas na Derepol. No último dia 5 de julho, por exemplo, uma dupla de criminosos chegou a ser presa em flagrante tentando furtar peças de carros. A ação só foi reprimida com uma maior rapidez porque uma mulher procurou os policiais e informou que os meliantes haviam pulado o muro da unidade portando caixas de ferramentas. Eles foram cercados e, em seguida, presos, quando tentavam escapar em um automóvel que se encontrava estacionado na rua ao lado da delegacia. Os suspeitos: Marconi Bezerra da Silva, de 21 anos, e Cícero Henrique Soares de Andrade, de 20, acabaram passando por audiência de custódia.
De acordo com um policial civil, que preferiu ficar no anonimato, a prática de acumular veículos na área territorial da Derepol é tão antiga que caminhões apreendidos já completaram 20 anos de aniversário. “Esses veículos são originários de apreensões referentes à prática de assaltos, tráfico de drogas, clonagem, dentre outros tipos de crimes. O detalhe é que, além de ter de comportar os recolhimentos feitos em Caruaru, a nossa unidade também tem servido de depósito para aqueles veículos que vêm sendo apreendidos em mais 14 municípios espalhados na nossa região. Ou seja, não tem área territorial que suporte tantos carros, caminhões e motocicletas. Tentamos fazer o que está ao nosso alcance para inibir ao máximo esses transtornos, mas é difícil ter de trabalhar nessas condições”, criticou.
Outro civil, que preferiu não divulgar o seu nome, relembrou que o governo até que dispõe de uma Unidade de Transportes e Oficinas, que serve justamente para receber e dar finalidade aos veículos que são recolhidos pela polícia em suas operações realizadas por todo o Estado. Porém, diante do elevado quantitativo de apreensões que têm sido feitas, este tipo de unidade também vem apresentando as suas falhas. “Já cansamos de enviar ofícios solicitando que houvesse o desafogamento desses veículos que se encontram aglomerados por aqui na Derepol, porém o empecilho é grande. Se você for até ao terreno – em Olinda – que foi destinado para comportar não só os daqui, mas também os demais que estão sendo recolhidos em todas as regiões, perceberá que o seu pátio se encontra completamente preenchido, ou seja, nos sentimos totalmente engessados diante desta situação.”
Resposta
Diante das críticas realizadas pelos policiais, a reportagem VANGUARDA entrou em contato, na manhã da última quarta-feira (23), com a Assessoria de Imprensa da Polícia Civil. Em nota, o departamento repassou que “a Polícia Civil de Pernambuco informa que os veículos armazenados nos pátios das delegacias de polícia, como acontece na Seccional de Caruaru, estão à espera de decisão judicial sobre o seu destino. Os carros e motos foram apreendidos em operações da polícia ou estavam em posse de pessoas que foram presas acusadas da prática de algum crime. A polícia não tem autoridade para se desfazer, sem que a Justiça determine. Já os veículos roubados que são localizados e identificados, quando devidamente autorizados pelo Judiciário, são imediatamente entregues aos seus proprietários. A Civil ressalta que investe em câmeras de segurança e no aluguel de depósitos de veículos para garantir a guarda desses carros e motos. Informa ainda que estuda, em parceria com o Ministério Público do Estado e com o Judiciário, uma forma de leiloar esses veículos e evitar esse acúmulo.”