A pandemia causada pelo novo coronavírus tem afetado severamente a saúde mental dos brasileiros. O isolamento social aumentou de maneira alarmante os casos de ansiedade e depressão. A pesquisa realizada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro apontou que as ocorrências de depressão quase dobraram e as de ansiedade e estresse tiveram um aumento de 80%, nesse contexto, as mais afetadas são as mulheres.
A instabilidade e a preocupação com todo o caos causado pela Covid-19 transformaram a vida de muitas pessoas no Brasil e no mundo. De fato, ter a rotina alterada abruptamente mexe com as emoções e gera muitas incertezas. A pergunta a ser feita é: como lidar com essa nova realidade? Estudos ressaltam que a atividade física regular ajuda a reduzir esses sentimentos. Exercícios de respiração, Yoga e Pilates são uma excelente opção para amenizar a sensação de pânico, medo e preocupação. “A saúde e a qualidade de vida das pessoas podem ser preservadas e aprimoradas pela prática regular da atividade física. Inúmeras evidências científicas têm demonstrado uma forte associação entre estilo de vida ativo, melhor qualidade de vida e longevidade”, enfatiza Ge Gurak, educadora física e consultora fitness da MetaLife Pilates.
Estudos neurocientíficos reforçam a importância da prática frequente de atividades. Manter o corpo ativo, atua diretamente sobre a neuroplasticidade cerebral promovendo mudanças dos mapas mentais (mindset), ou seja, o caminho de conexões que o cérebro costuma seguir diante de diferentes estímulos e situações. “Quando uma pessoa se sente ansiosa ou deprimida, tende a manter um padrão na interpretação de cada vivência ou relacionamento em que se envolve. Esse padrão gera comportamentos repetitivos e reativa sentimentos que acabam mantendo os sintomas depressivos e ansiosos”, alerta Deise Navarro, psicóloga e educadora física.
Para mudar este quadro, é fundamental unir tratamento médico, ajuda psicológica e exercícios físicos. Durante a prática esportiva, o corpo libera hormônios na corrente sanguínea como a endorfina (que tem ação analgésica natural e é capaz de aliviar a dor, controlar a ansiedade e diminuir o estresse), a serotonina (que regula o sono e as funções cognitivas) e dopamina (que aumenta a motivação, o prazer e melhora o humor), responsáveis por promover bem-estar.
Segundo a educadora física, o primeiro passo é criar uma rotina de treino, independentemente do local, se em estúdio, em casa ou na academia, e regularidade é a palavra de ordem. A próxima etapa é encontrar uma atividade para “chamar de sua”, aquela quem tem o seu perfil e proporciona prazer e relaxamento. Depois, é só seguir as dicas:
Estabeleça objetivos possíveis.
Não fique apenas focado na estética, foque na sua saúde e no bem-estar.
Tenha uma alimentação saudável para ter energia para se exercitar.
Faça exercícios que envolvam concentração e controle da respiração. Pilates, com a utilização de equipamentos, com acessórios ou no solo é uma ótima opção.
Durma bem e respeite o dia de descanso.
Escolha o melhor período do dia para se exercitar e marque na agenda o compromisso com a sua rotina de bem-estar e saúde.
Mudar um mau comportamento é sempre bom, mas não é poderoso o suficiente para provocar essa alteração de mindset, se não vier acompanhado de mudanças internas. Por isso, a importância da atividade física, a qual, somada ao tratamento psicológico, realizará a modificação de dentro para fora. Praticar exercícios é algo terapêutico e o principal benefício percebido é o fortalecimento da autoestima do praticante, que diz respeito não apenas a melhorias estéticas, mas também à maneira como o exercício físico faz com que as pessoas se sintam mais satisfeitas com si mesmas em todos os aspectos.
“Costumo dizer que a atividade física fortalece “os músculos da nossa autoestima” e, embora a maioria das pessoas associe esse fenômeno aos aspectos estéticos, na verdade ele se dá especialmente pela sensação de superação que o praticante experimenta ainda que diante de obstáculos relativamente pequenos. Parece que, a cada obstáculo vencido, ainda que seja pequeno diante dos seus próprios olhos e do olhar dos demais, a pessoa começa a sentir o fortalecimento poderoso para vencer os sintomas depressivos ou ansiosos e uma mudança efetiva em seu mindset”, observa a psicóloga.
Camila Miranda, 39 anos, jornalista, conheceu o Pilates por recomendação médica (ortopedista e fisioterapeuta) após o travamento da coluna. “Fiquei internada por uma semana. Como não saía da crise tive que fazer o procedimento de infiltração. Após o processo de reabilitação na fisioterapia, a recomendação era fazer Pilates para fortalecer a coluna. Nas primeiras aulas, me senti um robozinho (risos), porque ainda não estava 100% e me sentia insegura de realizar alguns movimentos e correr o risco de travar novamente. Aos poucos, fui ganhando confiança, conquistando controle corporal, a ponto de desafiar o corpo a realizar movimentos mais expansivos. O apoio e o suporte das professoras foram essenciais nesta jornada de recuperação e autoconhecimento.
Sou extremamente ansiosa e queria resolver logo o problema da coluna. Então, a primeira lição foi aprender a ser paciente, respeitar o corpo e seus limites dia após dia. Entender que existem dias em que está tudo bem, e em outros, o corpo está mais enrijecido ou cansado. Enfim, é um processo diário de aprendizado, com o lembrete que é essencial cuidar e ouvir mais os sinais enviados pelo corpo, e o mais importante ser generosa com consigo. Este aprendizado tem me ajudado a controlar a ansiedade e proporcionado tranquilidade e bem-estar.
Faço Pilates há um ano, duas vezes por semana, e uma aula de Garuda (modalidade que abrange princípios do Pilates, Yoga, dança e Tai Chi Chuan). Nesse período, tenho aproveitado todos os benefícios da atividade física, tanto para o fortalecimento da coluna e quanto para o controle da ansiedade. Quando a pandemia começou, fiquei com receio e medo de que algo poderia sair dos eixos, mas as aulas on-line com suporte e com a mesma dedicação das aulas presenciais foram essenciais para manter a rotina em ordem com saúde e controle emocional”.