Dilma ironiza Temer: ‘mulheres não querem ser fetiche decorativo’

A presidente afastada Dilma Rousseff e o ex-ministro da Cultura Juca Ferreira responderam a perguntas nesta manhã (19), em uma conversa promovida na página da petista no Facebook. Entre os principais questionamentos, a transformação do Ministério da Cultura na Secretaria Nacional de Cultura, vinculada ao Ministério da Educação, pelo pelo presidente interino Michel Temer. Dilma afirmou que a medida configura uma tentativa da atual gestão de “voltar ao passado autoritário”.

“É como se eles quisessem voltar ao passado autoritário. Uma Secretaria Nacional de Cultura não tem a capacidade de atender às demandas e necessidades culturais da população. Não tem a estrutura necessária para atuar, levando em conta a amplitude, a complexidade e a diversidade cultural brasileira”, escreveu a presidente.

No vídeo em que convida os internautas a participarem da conversa, o ex-ministro Juca Ferreira reforça o argumento de que a fusão das pastas remete a períodos antidemocráticos. “O engraçado é que uma das primeiras medidas da redemocratização foi criar o Ministério da Cultura, e parece que eles querem encerrar o período democrático extinguindo o ministério”, disse Juca.

Ao responder a uma pergunta sobre as recorrentes recusas por parte de mulheres reconhecidas no cenário cultural do país a assumirem a Secretaria Nacional de Cultura, Dilma foi direta. “Acredito que as mulheres não querem ser tratadas como um fetiche decorativo”, escreveu, referindo-se à ausência de mulheres no primeiro escalão de Temer. “Ao contrário do que alguns pensam, as mulheres têm apurado senso crítico e, por isso, são muito sensíveis a todas as tentativas de uso indevido da sua condição feminina”, disse Dilma “Tenho certeza que a razão das recusas está na qualidade da consciência de gênero que nós adquirimos durante todos esses anos de luta contra o preconceito”, completou.

O cargo será ocupado pelo ex-secretário municipal de Cultura do Rio de Janeiro, Marcelo Calero, anunciado ontem pelo ministro Mendonça Filho.

Na conversa com internautas, Dilma chamou o governo Temer de “conservador, regressivo e ilegítimo” e rebateu o argumento de que a permanência do Ministério da Cultura comprometeria o orçamento da União. “Essa propalada economia com o corte do Ministério da Cultura é pura demagogia”, escreveu a petista.

Em pouco mais de duas horas após a abertura da sessão de perguntas e respostas, mais de 1.900 comentários foram feitos na página da presidente afastada. O recurso também foi utilizado ontem (18), quando Dilma e a ex-ministra do Desenvolvimento Social Tereza Campello responderam a questionamentos sobre o programa Bolsa

Família. Na conversa com os seguidores, Dilma defendeu o programa, os critérios para a concessão do benefício e os mecanismos de fiscalização, além de perguntas sobre “portas de saída” para os beneficiários. Como não poderia deixar de ser, a proposta de diálogo com o público por meio de sua página no Facebook para tratar de temas específicos resulta em muitas mensagens de apoio dos seguidores de Dilma, bem como muitas críticas por parte de internautas favoráveis ao impeachment.

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

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