Em 2017, ano de maior número de transplantes da história de Pernambuco, foram entrevistadas 341 famílias de potenciais doadores de órgãos e tecidos. Desse total, 188 autorizaram a doação (57%) e 150 recusaram (43%). Já neste ano, até o mês de abril, o percentual de recusas está maior do que o das autorizações: foram 48 doações (48%) e 53 negativas familiares (52%). Os dados chamam a atenção da Central de Transplantes de Pernambuco (CT-PE), que tem investido na capacitação dos profissionais envolvidos no processo para qualificar o diagnóstico da morte encefálica e o acolhimento das famílias, para que elas possam ter os subsídios necessários para exercer seu direito de doar órgãos.
Nesta quinta-feira (24.05), das 8h às 12h, a Central de Transplantes reúne profissionais de saúde no curso de atualização sobre morte encefálica e doação de órgãos. O evento, que também marca a abertura oficial da Campanha Estadual de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes, ocorre no auditório da Secretaria Estadual de Saúde (SES), no Bongi.
“A recusa familiar pode ser um reflexo da falta de informação ou dos mitos que rodeiam a doação de órgãos e tecidos. Por isso, precisamos, permanentemente, divulgar a importância do ato e incentivar que a população converse sobre o assunto em casa e externe ainda em vida seu desejo de doar. A doação não mutila o corpo do doador, que é entregue íntegro para a família realizar suas cerimônias de despedida. Uma única pessoa pode tirar outras sete da fila de espera, o que mostra a importância desse ato”, afirma a coordenadora da CT-PE, Noemy Gomes. “Temos equipes captadoras e transplantadoras treinadas e prontas para realizar os procedimentos necessários, mas precisamos da doação para que um transplante seja efetivado”, pontua Noemy.
Entre janeiro de abril deste ano, foram realizados 540 transplantes de órgãos e tecidos em Pernambuco. O quantitativo está 3,7% menor do que o mesmo período de 2017, com 561 procedimentos. “A diminuição é pequena, mas já nos deixa atentos para buscarmos alternativas para ampliar as doações no Estado. Desde o final de 2017, com as mudanças no diagnóstico da morte encefálica, estamos intensificando as capacitações com as equipes hospitalares, que são essenciais para que haja o sucesso em todo o processo. Esse novo protocolo de determinação da morte encefálica foi atualizado seguindo as boas práticas internacionais, garantindo segurança à confirmação e o acesso ao diagnóstico, uma vez que ampliou o leque de profissionais aptos para esse diagnóstico”, reforça Noemy Gomes.
A morte encefálica acontece quando o cérebro perde a capacidade de comandar as funções do corpo, como consequência de uma lesão conhecida e comprovada. Na morte encefálica, o indivíduo pode ser doador de órgãos e tecidos (coração, rins, pâncreas, fígado e córneas). De acordo com as novas normas, ela pode ser diagnosticada por mais especialidades médicas, além da neurologia. A resolução prevê, ainda, que os procedimentos para a determinação da morte encefálica devem ser iniciados em todos os pacientes que apresentem coma não perceptivo, ausência de reatividade supraespinhal e apneia persistente.
Na próxima terça-feira (29.05), na UPE Petrolina, a Central de Transplantes, em parceria com o Cremepe, realiza o curso de determinação de morte encefálica para médicos da região, seguindo o compromisso do programa de educação permanente sobre o processo de doação para profissionais de saúde.
DADOS – Dos 540 transplantes realizados até abril deste ano, 264 foram de córnea (308 em 2017, redução de 14%), 143 de rim (115 em 2017 – crescimento de 24%), 73 de medula óssea (70 em 2017 – aumento de 4%), 42 de fígado (41 em 2017 – 2% de acréscimo) e 18 de coração (21 em 2017 – queda de 14%). Em 2017, no mesmo período, ainda ocorreram 3 transplantes de rim/pâncreas, 1 de fígado/rim e 2 de válvula cardíaca.
A fila de espera totaliza 990 pacientes, sendo 787 aguardando um rim, 98 de fígado, 56 de córnea, 14 de coração e 5 de rim/pâncreas. É importante ressaltar que, desde 2017, Pernambuco possui o status de córnea zero. Isso significa que o paciente, depois de realizar os exames necessários para ser inscrito na fila de espera, faz o transplante em até 30 dias.
RANKING NACIONAL – De acordo com o balanço de 2017 da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), divulgado no último mês de março, Pernambuco ficou em primeiro lugar do Norte e Nordeste no número de procedimentos de coração, rim, pâncreas, córnea e medula óssea, que, juntos, totalizam mais de 1,6 mil pessoas transplantadas no ano passado. O Estado ainda figura na segunda colocação do Brasil no caso do coração.