Dois anos após erradicação, sarampo volta a assombrar o país

Correio Braziliense

Após dois anos da erradicação do sarampo, a doença voltou a afetar o Brasil. O vírus pegou carona nos imigrantes venezuelanos — que se refugiam em Roraima em busca de emprego, moradia e comida — e desencadeou um surto. As autoridades sanitárias temem que a doença se espalhe no Norte e Nordeste do país. A situação fez com que o Ministério da Saúde organizasse uma campanha de vacinação relâmpago. Lá, oito casos da infecção foram confirmados, todos em crianças venezuelanas. Uma delas morreu. Outras 29 pessoas, sendo 10 brasileiros, passam por exames para confirmar o contágio. Nove estão hospitalizadas.

A pedido do Correio, o Ministério da Saúde calculou os dados da cobertura vacinal do país. Em média, 83,2% da população brasileira tomou pelo menos uma dose da vacina. As informações são preliminares de 2017 e podem mudar na consolidação do balanço anual. O índice, segundo avaliação da Organização Mundial da Saúde (OMS), deve ser de 95%. A foi alcançada entre 2015 e 2016. A doença, junto com a poliomielite, marcou gerações da década de 1980. O Nordeste era a região mais atingida à época.

Contudo, a estatística não é homogênea. As 10 piores coberturas são do Pará, DF, Amapá, São Paulo, Bahia, Piauí, Acre, Maranhão Rio Grande do Norte e Amazonas. Nessas unidades da Federação a cobertura contra o sarampo varia de 65,4% a 78,1%. Os melhores índices são do Ceará, Alagoas, Pernambuco, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso, Goiás e Roraima. Nestes estados a parcela da população protegida varia entre 100% e 84%.
No Brasil, os últimos casos de sarampo ocorreram entre os anos de 2013 a 2015, sendo confirmados 1.310 adoecimentos. Pernambuco e Ceará concentraram as infecções. A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), deu ao Brasil em 2016 certificado de eliminação do sarampo. “Temos que fazer o dever de casa e intensificar a vacinação para diminuir os risco de transmissão. O sarampo é altamente contagioso”, alerta Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

Surto
Desta vez, o vírus pode ter entrado no Brasil, segundo autoridades sanitárias que monitoram o surto, fronteira com o município venezuelano de Caroni. O governo de Roraima estima que 40 mil venezuelanos se refugiaram no estado. Os doentes têm entre 4 meses e 39 anos. Dois municípios concentram os casos: a capital Boa Vista e Pacaraima. Uma equipe de 300 agentes epidemiológicos permanece na região para acompanhar as ações e prestar orientação no enfrentamento do surto. Eles vão às praças, abrigos e abordam os imigrantes nas ruas para checar a caderneta de vacinação e realizar a imunização naqueles que não a possuem.

No próximo sábado, pelo menos 400 mil pessoas entre brasileiros e venezuelanos devem ser imunizados. Os estoques foram abastecidos com 10m mil doses do imunobiológico. O ministro da Saúde, Ricardo Barros, garante que todas as medidas necessárias para garantir a saúde dos brasileiros e dos venezuelanos em Roraima estão sendo tomadas. “Sabemos o impacto que a imigração traz para a sociedade. Além da campanha de vacinação, uma série de ações está em curso para evitar novos casos da doença, incluindo o repasse de recursos e treinamento de profissionais”, destaca.

Pedro Luiz Tauil especialista em medicina tropical e controle de doenças da Universidade de Brasília (UnB), explica que o principal cuidado é a vacinação. “A maioria das crianças da Venezuela não são imunizadas. Lá, o serviço de saúde está comprometido. Se falta comida, como não vai faltar vacina. Não tem outra saída é preciso vacinar. Os caos mais sérios as pessoas morrer ou ficam com sequelas. Os médicos devem estar atento para o diagnóstico rápido”, recomenda.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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