O comércio eletrônico segue apresentando crescimento e lucros reais mesmo diante do baixo índice de consumo das famílias brasileiras. Dados do relatório da Webshoppers (E-bit/Buscapé) mostram que o setor aumentou o faturamento de vendas em 38%, comparado com 2014, e ainda estima um crescimento de cerca de 8% para este ano, impulsionado pelas vendas na Black Friday. O evento, realizado sempre na última sexta-feira de novembro – esse ano acontece das 00h às 23h59 do dia 25 – já se estabeleceu como uma das principais ações comerciais do país, superando datas sazonais de grande importância para o comércio, como o Dia das Mães, Dia dos Namorados, Dia dos Pais e Dia das Crianças. No e-commerce a ação representa muito mais do que uma oportunidade para alavancar as vendas, pois uma experiência de compras positiva potencializa a fidelização de novos clientes e ainda garante boa reputação, portanto, o evento se torna um importante aliado do empreendedor que deseja impulsionar seu negócio. No entanto, para atender a alta demanda é preciso munir-se de estratégias e dispor de uma boa infraestrutura, principalmente quando se trata de gerenciamento logístico, onde qualquer falha no cumprimento dos prazos pode ser crucial para a imagem da loja online.
Maior evento de ofertas da internet brasileira
De origem americana, a Black Friday acontece todos os anos após a quinta-feira do Dia de Ação de Graças desde a década de 1960. O foco da ação é liquidar os estoques das lojas físicas e iniciar a temporada das compras de final de ano. As promoções do comércio eletrônico ocorrem somente na segunda-feira seguinte, conhecida como Cyber Monday. Já no Brasil começou em 2010 através do e-commerce e já se tornou a segunda época do ano mais importante para o setor, perdendo apenas para o Natal. No entanto, muitas lojas do varejo também aproveitam o momento propício para lançar promoções e impulsionar as vendas, além disso, é comum que tanto o mercado físico quanto online, prorroguem as liquidações por mais tempo, estendendo para os dias seguintes ou até o final do estoque.
Em sua estreia a ação movimentou cerca de R$ 3 milhões, mas foi crescendo gradativamente ao longo dos anos. Na última edição, em 2015 – período de grande recessão financeira no Brasil – as vendas superaram as expectativas, rendendo mais de R$ 1,5 bilhão de faturamento. Este ano, ainda que o cenário econômico do país continue conturbado, estima-se alcançar a marca de R$ 2 bilhões. A ascensão desse período especial de descontos vai de encontro com o amadurecimento do consumidor brasileiro, que vem adotando o hábito de adquirir bens e serviços pela internet, contudo, os empreendedores do setor devem se preparar antecipadamente para absorver este crescimento, pois, problemas na logística – mais recorrentes nessa época – podem tornar a empresa alvo de reclamações online prejudicando sua reputação e vendas.
Falhas na entrega são a maior queixa
Atender o pico da demanda na Black Friday não é tarefa simples. Um levantamento do Busca Descontos, idealizador da ação no Brasil, aponta que em 2015 mais de 3,1 milhões de pedidos foram registrados e a previsão é aumentar o número em 29% nessa edição, ultrapassando 4 milhões. Além dos sites sobrecarregados com o alto número de acessos, os consumidores ainda têm que lidar com prazos de entrega que maiores que os de costume, o que aumenta o nível de insatisfação caso ocorra alguma falha nesse processo. Dados do Procon-SP apontam que um dos itens que mais gerou reclamações junto ao órgão, durante a última edição, foi o atraso na entrega.
Segundo pesquisa feita pelo Sebrae e pela Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (camara-e.net), em 2015, a maior dificuldade para os lojistas é justamente o envio de produtos. Para Roberto Hoffmann, CEO da SHL Logística, apesar do e-commerce ser um dos grandes propulsores de investimentos em logística no país, boa parte dos empreendedores do segmento ainda carece de soluções especializadas que aumentem a eficiência dos serviços. “Para evitar transtornos e garantir o sucesso nas vendas, é essencial que os empreendedores adequem a logística da empresa para atender essa demanda, pois, ao mesmo passo em que o número de vendas sobe, o trabalho da expedição aumenta na mesma proporção e os cuidados devem ser redobrados, pois qualquer falha pode repercutir de forma negativa e por muito tempo na imagem da loja”.
Experiência de compra
Um estudo do Google mostrou que três em cada quatro brasileiros que fazem compras online já participaram de alguma edição da famosa sexta-feira negra. A participação dos usuários saltou de 22% em 2012 para 64% no ano passado. De acordo com Hoffman o momento é de grande expectativa para os comerciantes, pois, trata-se do mês mais lucrativo do ano, e, para garantir o sucesso é importante se preparar antecipadamente “A Black Friday requer um planejamento estratégico para suprir o aumento da demanda, cumprir os prazos de entrega e reduzir os erros e avarias na remessa. O evento pode representar uma porta de entrada para que o consumidor conheça e continue comprando na loja futuramente. É uma oportunidade única, não só para converter vendas, mas também para captar a fidelidade de mais clientes e negligenciar o processo logístico pode colocar tudo a perder”.
Trocas e devoluções
Engana-se quem pensa que que após a venda e entrega do produto a operação está finalizada. O processo reverso da logística tem grande importância e sua qualidade – ou a falta dela – reflete diretamente na maneira como o consumidor enxerga a marca e passa adiante – 65% das pessoas prezam pela agilidade na resolução e a garantia de poder trocar o item (E-bit/Buscapé). Essa etapa do atendimento ao cliente acontece no pós-venda e compreende trocas e devoluções, direitos garantidos por lei ao consumidor. As empresas que descumprirem essas normas ou não respeitarem os prazos estabelecidos pelo Código de Defesa do Consumidor podem ser autuadas por práticas abusivas e sofrer penalidades.
Desconto não é tudo
Nos períodos que geram grande intenção de compras costumam surgir sites fraudulentos, ou ainda, algumas lojas mal-intencionadas que tentam maquiar os descontos. Para evitar esse tipo de golpe e minimizar os riscos de que as pessoas sejam lesadas existem algumas alternativas: a Black Friday Legal, criada pela camara-e.net, é um selo oficial que identifica as empresas que foram aprovadas no processo de avaliação da entidade e aderiram ao Código de Ética do Movimento, além disso, em parceria com a Braspag, foi elaborada a cartilha da compra segura, com dicas para auxiliar o e-consumidor no dia da promoção.
Para evitar as fraudes o Procon monitora as reclamações e acompanha os preços meses antes da data. O órgão de defesa do consumidor também faz um levantamento dos sites e empresas que devem ser evitados e divulga a lista para consulta pública. Este ano a relação, atualizada em outubro, conta com mais de 500 lojas virtuais reprovadas. Ainda é possível utilizar ferramentas e aplicativos que atestam se o e-commerce realmente aplica os descontos no evento.