O retorno às aulas deve trazer uma importante discussão de volta à pauta do dia. O ensino religioso confessional nas escolas públicas foi tema de importantes debates no final de 2017, principalmente após a sua aprovação pelo STF (Supremo Tribunal Federal). “É parte da vida social, cultural e histórica de qualquer povo. Ignorá-la ou suprimi-la é um erro. O perigo que nela existe é o perigo que há no ser humano: não é inerente à religião em si”, afirma o pastor da Igreja Batista Nações Unidas Luiz Sayão, teólogo e hebraísta.
O religioso defende sua tese lembrando que na Europa, mais secular e menos religiosa que o Brasil, a maioria dos países da região adota o ensino religioso confessional na escola pública, como na Alemanha, enquanto que na América Latina a mesma posição parece ferir a laicidade do estado. “O que surpreende é que os europeus estudam e conhecem religião e não a praticam muito; os brasileiros são muito religiosos e parecem entender bem menos do assunto. A religião precisa estar na escola”, aponta Sayão.
“O ensino religioso é essencial na formação do cidadão”, aponta o pastor. Por isso, ele defende alguns parâmetros para a adoção dessa cadeira escolar com algumas ponderações práticas. “Todas as escolas deveriam ter um curso introdutório de fenomenologia da religião. Uma introdução básica da religião em si. O curso não pode ter perspectiva confessional. O enfoque deve ser filosófico e sociológico”, esclarece. Segundo o teólogo, deve haver limites sobre quais confissões de fé podem participar desse ensino público. “Como ocorre na Itália, nem toda religião é reconhecida. Qualquer indivíduo pode fundar uma religião hoje e amanhã exigir seu ensino no país. Somente expressões de fé histórica e culturalmente reconhecidas deveriam ter espaço. Ajustes serão necessários”, defende.
A questão do ritual é outro exemplo apontado por Sayão. Ele não deve existir nas escolas públicas. Além disso, os docentes precisam ter formação no assunto. “Somente aqueles que têm formação teológica (ou equivalente) deveriam desempenhar este papel”, afirma. Os alunos também devem ter a liberdade de participação ou não nessas aulas. “Deve haver mútuo respeito e facilitação do entendimento entre as religiões, preservadas suas perspectivas distintas”, diz Sayão.