Com desempenho fraco no PIB — a produção ficou estagnada no terceiro trimestre em relação o período imediatamente anterior — , a indústria enfrenta problemas de abastecimento de insumos e matéria primas. Levantamento da Confederação Nacional da Indústria mostra que, em outubro, o problema afetou 68% das empresas do setor. O percentual é um pouco menor do que o de 73% registrado em fevereiro. Apesar da ligeira queda, mais da metade das indústrias avaliam que o desajuste só terá fim a partir de abril de 2022.
Em 18 dos 25 setores da indústria de transformação consultados, mais de dois terços das empresas afirmaram que, mesmo negociando valores acima dos habituais, está mais difícil obter insumos no mercado doméstico ou por meio de importação.
De acordo com o gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo, há pelo menos três explicações para os resultados e não há solução fácil. “Há um buraco na produção industrial que ainda não foi resolvido. A Sondagem Industrial de outubro mostrou ajuste nos estoques. É uma condição importante, necessária para resolver o problema, mas é um primeiro passo. E esse ajuste ainda precisa se completar para uma série de setores”, explica o economista. “Além disso, temos a expansão da demanda global de uma série de produtos, com os países voltando da crise. Esses fatores seguem provocando estresse nas linhas produtivas e a escassez de diversos insumos”, completa.
Segundo Marcelo Azevedo, há ainda um outro agravante que é o elevado custo da logística, alto preço e baixa qualidade dos contêineres. “Alguns países estão buscando alternativas para esse problema dos insumos, como desenvolver fornecedores locais, mas não é algo que se faça rapidamente nem depende só da ação da vontade, e envolve custos”, avalia.
De acordo com a CNI, na construção civil o problema se agravou entre fevereiro e outubro deste ano. O percentual de construtores que disse ter dificuldade para obter insumos e matérias-primas passou de 72% para 75%. Diante disso, a expectativa de um cenário de normalização é um pouco mais pessimista, em comparação com a indústria geral: 88% acreditam que a normalização de insumos só ocorrerá em 2022 e 9% das empresas esperam que haja normalização apenas em 2023.
Correio Braziliense