Maurício Assuero, economista e professor
O recente encontro da Cúpula da América, no Panamá, favoreceu o encontro inédito entre os presidentes dos Estados Unidos e o presidente de Cuba, Raul Castro. Este chegou ao poder por “osmose”, como se diz, visto que com a doença de Fidel, Raul era a pessoa da maior confiança do líder cubano. O grande momento desse encontro histórico, com direito a apelo de Castro para que Obama tivesse o apoio necessário para acabar com o bloqueio, é o impacto que isso pode trazer para a economia cubana.
Na época da Guerra Fria, Cuba sobreviveu muito bem com apoio da União Soviética que comprava seu açúcar com um preço três vezes maior do que o preço do mercado, em troca do apoio incondicional na implantação do regime comunista e de manter, em solo cubano, misseis apontados para os Estados Unidos. Agora, a suspensão do bloqueio vai favorecer uma economia de mercado, de direito, porque, de fato, Cuba já deu seus primeiros passos na direção do capitalismo, por mais selvagem que este seja.
Desde a queda do muro de Berlin, com a significativa reunião da Alemanha, a ruptura da União Soviética que culminou com a reestruturação política do leste europeu, que os regimes totalitários estão sendo esvaziados. Alguns pequenos países ainda insistem nesse modelo de governo, quando se vê que no resto do mundo ele não tem mais espaço. Basta olhar a China para se perceber o quanto o mundo mudou, embora algumas cabeças ainda prefiram pisar nas cabeças da população para manter-se no poder. Daí, ficamos assustados com aquilo que está acontecendo na Venezuela. Culpa o imperialismo americano pela natural incompetência do seu líder máximo.
Nenhum povo merece viver com recursos de subsistência limitados. A competição mercadológica define quem sobrevive, mas aqueles que não dispõem de conhecimentos, recursos, etc. precisam de assistência via políticas públicas. Cuba tem errado muito em continuar fechada politicamente, longe das hostes democráticas. Mas, aos poucos algumas mudanças estão sendo implementadas (por exemplo, agora as pessoas podem ser proprietárias de imóveis e transacionar neste mercado) e tais mudanças serão mais fortalecidas se as promessas de Raul Castro (eleições a cada cinco anos; não se candidatar depois que terminar o mandato, etc.) forem efetivadas.
A aproximação entre os dois países beneficiará Cuba, de forma imediata, mas a abertura comercial pode trazer benefícios também para os americanos tanto quanto para os demais países que não negociam com Cuba por conta do bloqueio. Vamos esperar e torcer para que isso seja um caminho sem volta, ou seja, que os homens se desarmem dos seus ódios e dos seus interesses mesquinhos visando o benefício da sociedade. Cuba tem uma economia voltada para mineração, pecuária, mas tem uma base industrial calcada em bebidas, tabaco (o famoso charuto cubano), além de conhecimentos na área química. Sem dúvida uma área que interessa muito porque abrange, por exemplo, a indústria de remédios.