Evacuação em Nova Lima afeta turismo e economia da cidade mineira

A evacuação na comunidade de Macacos, em Minas Gerais, no dia 16 de fevereiro, trouxe impactos para a economia da cidade de Nova Lima. Macacos, como popularmente é conhecido o distrito de São Sebastião das Águas Claras, é um dos destinos turísticos mais procurados na região de Nova Lima e atrai visitantes devido à beleza natural, com um cenário composto por montanhas, mananciais e cachoeiras. No carnaval deste ano, época bastante movimentada, a situação foi outra.

Segundo a prefeitura de Nova Lima, a estimativa foi de queda de quase 100% no número de visitantes em comparação com a expectativa inicial. O município ainda não tem um levantamento completo. “São 100 empreendimentos turísticos diretos afetados que impactam aproximadamente 600 empregos diretos, sem mencionar o efeito cascata em outras áreas. A programação de carnaval da forma como estava prevista para Macacos não foi realizada neste ano, uma vez que o governo municipal teve de reavaliar a viabilidade do evento, já que a atenção estava focada no atendimento e na segurança dos moradores”, informou em nota a prefeitura.

A evacuação, ocorrida cerca de duas semanas antes do carnaval, foi motivada por uma reavaliação da Vale em suas estruturas após a tragédia de Brumadinho. De acordo com a mineradora, foram detectados riscos de rompimento da barragem B3/B4 da Mina de Mar Azul e 272 pessoas tiveram que deixar suas casas. Diante da notícia, mesmo pousadas localizadas fora do perímetro evacuado registraram cancelamentos de reservas.

“Das minhas 12 suítes, eu já tinha nove reservadas para o carnaval com os depósitos de 50% já efetuados. E foi tudo cancelado. Um dia depois que a sirene tocou, eles já mandaram e-mails e mensagens de WhatsApp solicitando o cancelamento. E nós ficamos bem no alto da montanha. Não adiantava explicar que nós não estamos na área de risco que foi evacuada. Até porque o hóspede quer fazer um passeio de quadriciclo, quer ir em algum restaurante lá no centro. Com as possibilidades limitadas, ele desiste de vir”, contou Rejane de Oliveira Mello, proprietária da Pousada Farol da Serra.

Ela conta que conseguiu pagar os funcionários, porque a Vale acabou decidindo reservar todos os quartos para o período do carnaval para os moradores que foram retirados. “Muitos moradores que foram retirados das áreas de risco estavam em hotéis de Belo Horizonte. Mas como o carnaval de Belo Horizonte ficou muito procurado, a Vale fechou também com diversas pousadas de Macacos. Eu imagino que a intenção era alojar alguns moradores aqui, pois os hotéis de Belo Horizonte provavelmente já estariam sem vagas para o período. Mas, no fim, nós não recebemos nenhuma pessoa. Não veio ninguém. Mas eles pagaram o período do carnaval”.

Rejane explica, porém, que apesar de a mineradora ter pago o valor da diária normal, o faturamento foi inferior ao planejado. “Nessa época, o valor sobe porque nós fechamos pacotes para todo o feriado. Mas nesse caso, a Vale não pagou o valor do pacote especial”. A dona da pousada diz que o movimento continua fraco.

Situação similar é relatada por Julieta Araújo Lopes, proprietária da Pousada Maria Bonita. No seu caso, a dificuldade é maior já que não foi procurada pela Vale. “As reservas foram todas canceladas e nós tivemos que devolver os depósitos que já haviam sido feitos. Na sexta-feira, véspera do carnaval, tivemos uma procura de última hora e tivemos um número pequeno de hóspedes. Mas longe do esperado”, contou. Ela afirma que a procura continua reduzida e avalia que a retomada das condições anteriores à evacuação será lenta, pois ainda há medo em visitar a região.

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

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