Apresentações energéticas e manifestações de exaltação à força e à cultura nordestina marcaram o segundo dia de shows do Festival de Inverno de Garanhuns, neste sábado (20)- no geral, já são três dias de programação, que começou na terça (18). Os destaques ficaram por conta de Mariana Aydar, com seu forró moderno, ousado e cheio de surpresas, Zélia Duncan com sua MPB empoderada e um emocionante show de Barão Vermelho, banda que ainda reconstrói a marca com um novo vocalista, Rodrigo Suricato.
Diferente da sexta-feira (19), a noite começou pontualmente, com o show da pernambucana Amanda Back. Em seguida, a Banda de Pau e Corda apresentou seu repertório de 47 anos de estrada – 46, contando a partir do primeiro álbum. Vivência, Arruar e Flor D’água e Redenção foram algumas das músicas apresentadas. Em junho, lançaram um álbum para comemorar o aniversário da trajetória. “Estamos divulgando esse show em várias cidades do Brasil. Em festivais, temos um tempo bem menor, então condensamos de acordo com as as características do palco. Mas em geral, é um show representativo de banda”, disse Alexandre Baros, baterista do grupo, em coletiva após o show.
A paulista Mariana Aydar subiu no palco às 22h, se dizendo emocionado por estar tocando na terra de seu mestre: Dominguinhos. Foi a ele que a artista dedicou o show. Neste ano, ela tem lançado, aos poucos, um conjunto de quatro EPs chamados de Veia Nordestina. O projeto tem como mote uma renovação estética do forró, tornando-o mais pop sem abandonar as raízes. No show, já começou animando o público com Lamento Sertanejo, clássico de Gilberto Gil com Maria Bethânia.
Os traços desse forró moderno e ousado estavam estampados também na roupa da intérprete, um látex de azul turquesa metálico com adereços de estética “cangaceira” na cintura. Após cantar Te faço um cafuné, de Dominguinhos, Mariana proferiu um discurso crítico aos recentes comentários do presidente Jair Bolsonaro sobre os nordestinos.
“Vocês, povo nordestino, tanto me ensinam, tanto me ensinaram. Eu queria pedir que a gente se unisse para que nenhum idiota possa falar das coisas mais importantes que temos no Brasil que é o jeito que vocês sabem receber, amar, esse sotaque, a brisa, a cultura, o forró. Eu amo vocês”, disse, arrancando aplausos do público. A cantora ainda apresentou Coração bobo e Anunciação, ambas de Alceu Valença, Moranguinho do Nordeste, de Lairton e Seus Teclados. Com tom feminista, cantou Triste, louca e má, de Francisco El Hombre. Ainda passou por Lucro: Descomprimido, de Baiana System, e encerrou com Frevo Mulher, de Amelinha.
Zélia Duncan, por sua vez, passeou por diversos sucessos da carreira. No frontstage, muitos fãs apareceram, a maioria do sexo feminino. Um dos ápices da apresentação foi quando o pernambucano Almério apareceu para uma colaboração. “Vamos dizer não a essa violência gratuita”, disse o cantor, antes de começar Imorais. A composição fez um interessante paralelo com as críticas políticas que permearam a performance. “Os imorais falam de nós / Do nosso gosto, nosso encontro, da nossa voz”, diz a letra. No final, deram um selinho.
Antes de começar Pagu, hino feminista em parceria cima rockeira Rita Lee, Zélia mandou um recado para os homens no público: “Cantamos para vocês, e vocês podem cantar conosco. Aposto que homem nenhum aqui maltrata mulher, seja esposa, mãe, irmã”, disse, com tom de sarcasmo. Duncan não deixou passar manifestações políticas e soltou um “Lula Livre”. Ainda fez cover de Boomerang Blues, de Renato Russo, e Segundo Sol, de Cássia Eller – essa última, ela cantou visivelmente emocionada. Encerrou com Alma, sucesso nos anos 2000.
Barão Vermelho, última atração confirmada na programação do Palco Dominguinhos, começou o show às 00h50. Logo no começo, já inflamou o público com Beth Balança e Eclipse Oculto. Zélia Duncan fez uma participação em Amor meu grande amor. O clássico Por Você contou com colaboração do sanfoneiro Cosme Vieira, resultando em uma bela versão nordestina da canção. “Sempre pedem para que toquemos Raul Seixas, então aqui vai”, disse Rodrigo Suricato, antes de tocar Tente Outra Vez.
Momentos antes do show, em coletiva de imprensa, o grupo adiantou algumas informações sobre o novo disco, o primeiro desde que a banda voltou após hiato de cinco anos. “O projeto está atento ao que está acontecendo no país e no mundo. Terá colaboração de rapper, de uma cantora, pois estamos querendo dar voz à diversidade. Isso é necessário por esse momento ruim, complexo e de crise, que está mirando na cultura e na educação. Temos que falar”, disse o tecladista Maurício Barros, um dos fundadores do grupo.
A banda encerrou com uma sequência de clássicos: Exagerado, Maior Abandonado, Pro Dia Nascer Feliz e O Tempo Não Para, que soou assustadoramente atual naquela noite. Visivelmente emocionados, os integrantes do grupo agradeceram ao FIG e pediram para que as pessoas apoiassem o retorno do Barão. “E muito obrigado a vocês nordestinos por terem tenta ocidentais com o resto do país”, finalizou o vocalista Rodrigo Suricato.
Diario de Pernambuco