Enraizado no Nordeste e consagrado por nomes como os pernambucanos Luiz Gonzaga e Dominguinhos, também, o paraibano Jackson do Pandeiro, o forró vem sendo pesquisado para se tornar um Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. O processo teve início em 2001, com o pedido de registro junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) feito pela Associação Cultural Balaio Nordeste. Atualmente, as entidades envolvidas realizam seminários e fóruns para debater o assunto e, ao que tudo indica, até 2022 a demanda deve ser concluída.
Segundo a presidente da associação, Joana Alves da Silva, em seguida, é a vez de solicitar junto à Organização das Nações Unidas (ONU) o reconhecimento das Matrizes Tradicionais do forró como patrimônio mundial. “Ele já é considerado um legado do Brasil, é um ritmo muito arraigado, que gera emprego, renda e turismo. O país inteiro cuida dessa identidade há muito tempo, mas ninguém tinha isso no papel registrado. É um ofício que precisa ser reconhecido para que não morra com quem faz”, afirma Joana.
Ela explica que o processo de pesquisa e debate tem sido de extrema importância para esclarecer não só para que serve o registro, mas, sobretudo, para entender a relevância do cuidado com o bem. “Cada estado tem um conceito de música, de instrumento, de dança. Estamos definindo o que é forró e formalizando uma identidade”, complementa. Por isso, a solicitação junto ao Iphan é das Matrizes Tradicionais e inclui as festas de São João, os adereços e os estilos tocados e dançados em cada região. Para Joana, a certificação também influencia nas políticas públicas para preservação e respeito à raíz do forró.
Regulamentado em 2000, o registro do Iphan reconhece como patrimônio modos de criar, fazer e viver, conhecimentos tradicionais, celebrações e formas de expressões e saberes. “Ele se diferencia do material porque, enquanto um tem as coisas, o outro tem os sujeitos humanos como detentores”, explica o diretor do Departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan, Hermano Queiroz. Ele destaca que a mobilização social nesse processo é essencial e as pessoas podem e devem apresentar ao Estado o que entendem sobre seus patrimônios.
Para obter o registro, é necessário demonstrar a relevância do bem para a memória nacional, sua continuidade histórica e de que forma ele carrega as referências culturais de grupos formadores da sociedade brasileira. “Ele não serve apenas, como muitos pensam, como um simples título. Aponta expectativas desde uma maior difusão de produção de conhecimento, sua valorização, inserção nas escolas, como também privilegia a contratação de mestres e detentores”, explica Queiroz.
O diretor do Iphan afirma, contudo, que a salvaguarda do bem é transversal e não depende única e exclusivamente do instituto. É fundamental engajar outros atores políticos e da sociedade civil para implementar ações de apoio e fomento. “Chamar a atenção para o sucesso da salvaguarda não depende apenas do reconhecimento formal do Iphan. Somente será possível se os poderes públicos municipais, estaduais e federais estiverem engajados. A comunidade é a principal guardiã do seu patrimônio, é a união que fará a força no sentido de engrandecimento do bem”, conclui.
Diario de Pernambuco