Nascida na cidade de Tacaratu, berço dos índios Pankararu, no Sertão de Pernambuco, a fotógrafa Ana Araujo construiu uma carreira de projeção nacional trabalhando com fotojornalismo em grandes veículos brasileiros, mas nunca cortou a relação umbilical com sua terra natal. Nos últimos 30 anos, a grande inspiração da fotógrafa continuou sendo o Sertão e o povo de Tacaratu, expressão de sua própria identidade cultural. Na tarde deste sábado, 26 de maio, Ana Araujo lança, no Recife, no Centro Cultural Cais do Sertão, As Loiceiras de Tacaratu – A Arte Milenar das Mulheres do Meu Sertão, fotolivro em que retrata, com a sensibilidade de quem também é parte da história, o trabalho importante e árduo das cada vez mais raras loiceiras sertanejas. O evento de lançamento do livro começa a partir das 14h30 e vai até às 17h.
Além de documentar um ofício com risco de extinção como o das fazedoras de loiças, ou louças (peças de barro como panelas, potes, tachos e cuscuzeiras), Ana Araujo revela o valor cultural da cerâmica utilitária de tradição indígena Pankararu, enquanto patrimônio histórico imaterial dos primeiros habitantes do Sertão pernambucano. Essa sua obra com recorte de gênero apresenta imagens de mulheres que por toda uma vida conseguiram criar seus filhos transformando barro em utensílios domésticos, perpetuando o saber ancestral que aprenderam com suas mães e avós, e continuam ensinando suas filhas e netas.
“Com o avanço de materiais feitos em plástico e alumínio, as loiças artesanais estão quase que desaparecendo. Hoje, apenas cerca de 12 loiceiras, em todo o município, mantêm o ofício e ainda assim só produzem por encomenda”, ressalta Ana. “Mas graças à força e à resistência da cultura indígena, as loiças continuam presentes nas festas e rituais Pankararu. As loiceiras da aldeia Brejo dos Padres, Vilma Julião e Maria de Dion, que fotografei nos dois últimos anos desta pesquisa visual, fazem questão de manter viva essa tradição milenar, utilizando a mesma técnica manual e pintando suas peças com elementos da natureza como o giz branco da Serra do Sorongo e com o toá, ou tauá, uma pedra de um intenso e bonito vermelho terra, composta por óxido de ferro”, conta.
De acordo com Ana Araujo, o objetivo da publicação que teve o incentivo do Funcultura (Secretaria Estadual de Cultura/Governo do Estado de Pernambuco), é servir de conteúdo atualizado para pesquisas de professores e alunos que queiram conhecer mais sobre o tema. Um dos campos é da Fotografia por mostrar uma linha do tempo das imagens registradas, durante a transição dos séculos 20 e 21, que representa um marco histórico, quando houve a revolução tecnológica do sistema analógico para o digital. Outra contribuição é também na área da Antropologia Visual, por sua abordagem etnográfica com populações tradicionais.
Dos 1 mil exemplares desta primeira tiragem, mais da metade foi destinada a doações para escolas e universidades públicas, bibliotecas, entidades e pontos de cultura, principalmente do Sertão de Pernambuco. O restante será vendido com 20% do valor destinado às loiceiras retratadas no livro e que continuam em atividade em Tacaratu. “Desejo que esse meu primeiro fotolivro também possa ajudá-las nessa grande luta pela sobrevivência, divulgando sua arte e na articulação de apoios por meio de um projeto de economia criativa que pretendo realizar através da Prosa – Projetos para o Semiárido, associação de mulheres que idealizei e ajudei a fundar há 13 anos em Tacaratu”, diz Ana.
Também jornalista, Ana Araujo fez a coordenação editorial do livro e escreveu sobre a experiência conterrânea com as loiceiras e o testemunho imagético da importância do ofício tanto para a cultura Pankararu quanto para o patrimônio imaterial dos povos que habitam o Semiárido brasileiro.
As Loiceiras de Tacaratu é bilíngue (português e inglês), tem 112 páginas em papel couchê, capa dura e 67 fotografias coloridas e em preto e branco, e foi impresso na Editora e Gráfica Facform, na cidade do Recife. O texto e a edição de fotos, é da jornalista e crítica de Fotografia Simonetta Persichetti e a pesquisa histórica assinada por Bartira Ferraz Barbosa, docente da UFPE – Universidade Federal de Pernambuco. O design e a produção gráfica do livro é de Isabela Faria e o projeto contou com a produção executiva de Bianca Pimentel. A edição bilíngue (português/inglês) tem tradução de Sarah Bailey e a revisão de textos de Tatiana Portela. O tratamento das imagens foi feito por Robson Lemos.