As belezas das enormes áreas de cultivo de fruticultura no Vale do São Francisco estão diretamente ligadas à fertilidade dos inúmeros empregos gerados no setor. Potencial espaço para vagas, o setor agropecuário, nos últimos 10 anos em Pernambuco, cresceu 26% na quantidade de postos de trabalho. A sustentação desse cenário tem uma explicação importante: o cultivo de uva e manga na região. Dos 26%, 21% são explicados pelo crescimento da fruticultura irrigada das duas frutas. Ou seja, 80% do crescimento do setor se refere à fruticultura. Os dados, compilados e divulgados pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (Sdec), mostram a capacidade da liderança do setor na criação dos postos de trabalho no Estado.
O crescimento da agropecuária representa uma média de 1,5% ao ano na geração de empregos. Do total, a fruticultura irrigada cresce, em média, 5,1% ao ano. Só o cultivo da manga cresce, em média, 6,5% ao ano. E da uva, 4% ao ano. Segundo o economista da Sdec, Marcelo Freire, mesmo no panorama de crise econômica intensa no Brasil, de 2015 a 2017, o setor agropecuário conseguiu gerar empregos o ano todo, já que é uma cultura permanente e tem bons números de exportação.
“O que explica o crescimento da agropecuária é a fruticultura, principalmente a uva. E a uva está muito ligada ao comércio exterior. Pernambuco é o maior exportador de uva nos dados do ano passado. Além disso, o Estado é o segundo maior exportador de manga, ficando atrás apenas da Bahia. Isso segura muitos empregos, mesmo quando o quadro do Brasil esteve em forte crise”, analisou Freire. Em 2018, Pernambuco exportou US$ 132 milhões de uva e manga. Desse total, US$ 113 milhões foram para a Europa. Os principais mercados são: Holanda, Reino Unido e Espanha. Ainda têm mercados importantes na América do Norte: Estados Unidos e Canadá.
Nos números do acumulado deste ano (considerando de janeiro a setembro), em Pernambuco, o setor da fruticultura irrigada aparece na liderança no ranking da criação de vagas. Até os dados do momento, o cultivo da uva se apresenta em 1º lugar, com saldo de 3.285 postos de trabalho. O de manga aparece em 4º lugar, com saldo de 1.337 postos de trabalho. Segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado, Bruno Schwambach, esse acompanhamento de dados é bastante utilizado para as decisões do governo.
“Estamos sempre buscando novos mercados. Em viagem, nós mostramos o potencial da nossa produção, como aconteceu em reunião na China e no Panamá, e nesta última semana, na Europa. Isso tem sido importante para orientar onde aplicar ações e medidas que se tornem políticas públicas que aumentem as contratações, como foi o caso do Força Local, programa aberto para todos as culturas das cidades, mas que prioriza projetos que gerem emprego e renda para municípios com menos desenvolvimento ou que empreguem mulheres, por exemplo”, comentou Schwambach.
Empresa de produção de uva e manga no Vale do São Francisco, a Cappellaro Fruits gera mais de 600 empregos diretos. “São quase 300 hectares de área plantada de uva e manga na empresa. Hoje, a fruticultura é a principal fonte de renda, movimentação de dinheiro e emprego na região do Vale. A renda fica com a família. Parte da nossa produção vai para o mercado interno e outra parte para exportação”, comentou o diretor do Grupo Cappellaro, Vilmar Cappellaro, ao complementar que mais de 50% do custo de produção é com mão de obra.
Segundo o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Petrolina (SPR), Jailson Lira, quem sustenta o Vale economicamente é a fruticultura irrigada. “São cerca de 100 mil empregos o ano todo. Isso porque antes existia uma sazonalidade na produção dessas frutas e hoje é trabalho o ano inteiro, com produção permanente. Na região, são até cinco funcionários por hectare no cultivo de uva e até dois funcionários no cultivo de manga”, explicou Lira.
Capacidade produtiva deve ser ampliada
Culturas permanentes no Vale do São Francisco, a uva e a manga ocupam aproximadamente 14 mil hectares na região e geram cerca de 100 mil empregos durante o ano. No entanto, os dados divulgados pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (Sdec) apontam que o cultivo da uva, apesar de gerar saldo positivo no número de empregos no Estado, tem se mostrado decrescente nos últimos quatro anos. Em 2016, a uva gerou 4.800 empregos; em 2017, 4.410; e em 2018, 4.540. Esse cenário pode representar um limite de expansão de produção. Mas isso não significa que não possa ampliar a capacidade produtiva.
De acordo com o economista da Sdec, Marcelo Freire, esse fenômeno se chama de maturidade produtiva. “Quando a gente observa os acumulados, constatamos que a uva sempre gera vaga de emprego positiva, mas em uma velocidade decrescente. Uma das razões que explica é uma produção que vai chegando a um determinado limite que o mercado demanda. O empresário não vai produzir muito acima do que se espera vender, então vai chegando aos poucos a uma capacidade produtiva ocupada”, analisou Freire.
Entretanto, existem alternativas para alcançar mais produtividade, e também geração de empregos. “Para conseguir ampliar a área de produção é importante implantar irrigação para a fruticultura. Buscamos recursos para isso junto ao Governo Federal, mas os projetos estão parados devido ao contingenciamento. Ainda não temos previsão de recursos. Então quem está fazendo novas áreas são investidores privados”, explicou o secretário da Sdec, Bruno Schwambach.
E as empresas enxergam espaço para se expandir. “Ao longo dos últimos anos não aumentou muito a área plantada. As áreas existentes foram se adequando às novas variedades das frutas. Para expandir as áreas tem que ter investidor e tem que ter mercado. E uma importante solução será investir em tecnologia para produzir variedades mais resistentes a doenças, buscar melhoramento genético, melhorar a irrigação e a nutrição”, defendeu o diretor do Grupo Cappellaro, Vilmar Cappellaro.
Segundo Freire, a demanda existe. “Nossos maiores compradores são países que, em geral, estão tendo um apelo para alimentação saudável, como as frutas. Acreditamos que existr um potencial para desenvolver ainda mais, com a presença da tecnologia”, complementou Freire.
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