Após uma epidemia de dengue, chikungunya e zika entre 2015 e 2016, os dois anos subsequentes tiveram uma redução drástica nas notificações, as menores da última década. Em 2019, contudo, o número de casos voltou a subir, inclusive durante temporada na qual não era comum um aumento do adoecimento. Neste início de ano, os casos estão bem abaixo do registrado no mesmo período de 2019 (redução de 45% nas notificações de dengue, 46% de chikungunya e 57% de zika), mas isso não significa que o poder público e a população podem baixar a guarda contra o Aedes aegypti, transmissor das enfermidades. Para atuar neste cenário, a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) lança nesta sexta-feira (14.02), em sua sede, no Bongi, o Plano de Enfrentamento às Arboviroses 2020.
Para 2020, será feito um investimento de R$ 8,8 milhões nas ações do Estado e para auxiliar os municípios em suas atividades, o que significa uma ampliação de 26% em relação ao montante investido em 2019. Os recursos serão utilizados para compra de material de campo, insumos e EPIs (equipamentos de proteção individual) para os técnicos estaduais e municipais; para educação permanente e confecção de material educativo; aquisição de insumos para a vacinação contra a febre amarela; pacote de dados para os smartphopnes com acesso ao aplicativo e-visit@PE e para infraestrutura.
“Para 2020, vamos manter diversas ações que já fazem parte da rotina do trabalho contra as arboviroses e ampliar outras atividades, como o uso do aplicativo e-visit@PE pelos agentes de endemias dos municípios. Neste ano, estamos aumentando o poder de resposta do Lacen-PE, que fará novas análises para as arboviroses; vamos poder vacinar mais de 8 milhões de pernambucanos contra a febre amarela e apoiar um projeto inovador em Petrolina. Mas todas essas ações precisam estar coordenadas com as atividades municipais e também com o empenho da população no cuidado nas suas casas e nos entornos. É a união de todos os entes da sociedade que podem possibilitar a queda nos adoecimentos pelas arboviroses”, afirma o secretário estadual de Saúde, André Longo.
VIGILÂNCIA E EXAMES – Pernambuco já tem descentralizado para todas as 12 Gerências Regionais de Saúde (Geres) a sorologia para confirmação dos casos de dengue e chikungunya. Já a técnica PCR é realizada pelo Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-PE), localizado no Recife, para as três arboviroses, além da sorologia de zika.
Para 2020, o objetivo é implantar no Lacen-PE o diagnóstico de febre amarela por biologia molecular em soro e vísceras. Também está sendo montado o fluxo para recebimento de amostras de mosquitos silvestres e Culex para averiguar a possível circulação de febre amarela. Esses insetos serão coletados em áreas das I, III e V Geres.
“Até o momento, não temos a circulação do vírus da febre amarela no Estado. Já fazemos a vigilância do adoecimento e morte de macacos e agora com a vigilância entomológica damos mais um passo para saber sobre a possível circulação do vírus. Com isso, poderemos atuar em tempo oportuno caso haja alguma confirmação, ampliando nosso poder de resposta”, diz o secretário André Longo.
O Lacen-PE também irá capacitar profissionais de laboratório dos municípios com mais de 100 mil habitantes para que eles possam realizar a sorologia para dengue e chikungunya. Atualmente, Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes, Cabo e Camaragibe já fazem esse exame laboratorial.
MONITORAMENTO – Em 2020, o Estado dará continuidade às entregas do smartphones com acesso ao aplicativo e-visit@PE para os agentes comunitários de endemias (ACE), coordenadores, supervisores e técnicos dos municípios. No ambiente on-line do e-visit@PE, os trabalhadores têm acesso às informações de toda a sua área de atuação e poderão informar as casas visitadas e quais recusaram ou estavam fechadas; os focos positivos para o Aedes aegypti, quantos foram tratados, entre outros dados. Antes da entrega dos smartphones, os agentes de endemias e gestores municipais foram treinados para utilizar a tecnologia. No período de preparação também foi preciso fazer o cadastro de todos os domicílios dos municípios.
“O e-visit@PE chegou com o intuito de agilizar a consolidação dos dados das visitas domiciliares. Isso possibilita que os municípios e o Estado tenham acesso diário aos dados colhidos e, com isso, possam desencadear ações em tempo oportuno. Com o aplicativo, é possível, por exemplo, ter uma geolocalização das áreas com maior número de focos, o que é essencial para realizar o controle vetorial do Aedes”, pontua Longo.
Até o momento, já foram entregues 1.423 smartphones para profissionais de 92 municípios das seguintes Geres: IV (Caruaru), VI (Arcoverde), VII (Salgueiro), VIII (Petrolina), IX (Ouricuri), X (Afogados da Ingazeira) e XI (Serra Talhada). Os profissionais da V (Garanhuns) e XII Geres (Goiana) já foram capacitados para uso da ferramenta e a entrega dos aparelhos será feita em breve. A expectativa é que em março já seja feita a entrega para a XII Geres. Ainda neste ano, serão capacitadas as equipes da I (Recife), II (Limoeiro) e III (Palmares) Geres. Com mais essas localidades, somarão mais de 4 mil smartphones entregues.
MOBILIZAÇÃO SOCIAL E ENGAJAMENTO – A partir de março, a campanha de mídia “sem mosquito não tem doença” será colocada nas ruas para informar à população sobre medidas de controle para evitar o nascimento do mosquito Aedes aegypti. A iniciativa contará com diversas peças para mídias digital e imprensa, além de panfletos e cartazes para a população e unidades de
A campanha de mídia reforça a importância de manter recipientes com água devidamente cobertos ou tampados. Quando não estão em uso, baldes, caixa d’água e garrafas devem ser guardados em local coberto e com a boca para baixo. O trabalho lembra ainda da atenção que deve ser dada às calhas e lajes, aos vasos de planta e às piscinas, locais que facilmente podem se transformar em criadouros para o mosquito Aedes aegypti.
A Secretaria Estadual de Saúde reforça a necessidade da população se engajar na luta contra o Aedes aegpyti. Adotar algumas medidas no dia a dia, como manter os reservatórios de água sempre tampados e com a higienização em dia, são essenciais no combate ao mosquito. “O Governo de Pernambuco atua constantemente no enfrentamento ao Aedes, com ações de prevenção, vigilância e assistência à saúde, mas a população também precisa fazer sua parte. É essencial que cada cidadão pernambucano se conscientize sobre as arboviroses e busque informações oficiais sobre como combater o mosquito, procurando adotar hábitos no cotidiano que evitem ou eliminem focos do mosquito”, finaliza o secretário.
WOLBACHIA EM PETROLINA – Ainda neste ano, o Ministério da Saúde e a Fiocruz, em parceria com a Prefeitura de Petrolina e o apoio da SES-PE, iniciam na cidade do sertão pernambucano o projeto do Método Wolbachia, desenvolvido pelo World Mosquito Program (WMP), iniciativa sem fins lucrativos presente em 12 países. A Wolbachia é uma bactéria presente em mais de 60% dos insetos no mundo. Em laboratório, os pesquisadores do WMP conseguiram introduzir esta bactéria, que foi retirada da mosca-da-fruta, dentro dos ovos de Aedes aegypti. Com isso, foi possível reduzir drasticamente o poder de transmissão da dengue, chikungunya e zika pelos mosquitos infectados.
Para a realização desse trabalho, está sendo feito um levantamento da população e dos bairros de Petrolina para avaliar a quantidade de mosquitos que serão necessários para dispersar na natureza. Antes desse trabalho, a Prefeitura de Petrolina, com suporte das equipes do WMP Brasil/Fiocruz, fará um engajamento comunitário, dialogando com a população e instituições do território para compartilhar informações sobre a iniciativa. As atividades são focadas no setor de saúde, escolas e de lideranças sociais. Além disso, será constituído um Grupo Comunitário de Referência, comitê local que acompanha todas as ações realizadas na localidade, e canais de comunicação abertos, por telefone, e-mail e mídias sociais.
Após a etapa de engajamento, começa a liberação dos mosquitos Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia no território. Os mosquitos são criados em uma biofábrica, que possui características de umidade e temperatura similares a que os mosquitos encontram no ambiente externo. Uma área da VIII Gerência Estadual de Saúde (Geres), com sede em Petrolina, será reformada e posteriormente receberá ovos com Wolbachia provenientes da Fiocruz Rio de Janeiro, para criação da colônia e liberação semanal de mosquitos conforme plano operacional a ser definido. Por fim, haverá o monitoramento para avaliar o estabelecimento do projeto.
ALDEIA – Após análises, o Programa de Controle das Arboviroses, em parceria com a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e o Instituto Evandro Chagas, no Pará, fechou o diagnóstico de herpes como causa do óbito dos macacos em Aldeia, entre o final de dezembro de 2019 e início de janeiro de 2020. Dos 17 animais coletados, 6 estavam em condições para as análises. Anteriormente, já havia sido descartada a possibilidade de febre amarela. Também deram negativos os exames para raiva. Além disso, foi descartado o ciclo silvestre do zika, por não ter sido encontrado o mosquito transmissor.
IMUNIZAÇÃO – É importante destacar que, desde janeiro de 2020, a vacina contra a febre amarela, doença sem confirmação no Estado desde 1938, está disponível para mais de 1 milhão de pessoas das III e V Geres, que englobam 43 municípios da Zona da Mata e do Agreste. A partir de março, todo o Estado fará a imunização, totalizando mais de 8 milhões de pernambucanos.
A vacina contra a febre amarela é indicada para a população entre 9 meses e 59 anos. O esquema vacinal completo será de uma dose da vacina aos 9 meses de vida da criança e outra dose de reforço aos 4 anos de idade.
Crianças, jovens, adolescentes e adultos, de 5 a 59 anos, que nunca foram vacinadas ou sem comprovante de vacinação, devem tomar apenas uma dose da vacina. Quem já recebeu uma dose da vacina acima de 5 anos de idade pode ser considerado vacinado.
Gestantes e mulheres que estejam amamentando crianças com até 6 meses de vida que nunca foram vacinadas ou sem comprovante de vacinação não têm indicação para imunização.
Para pessoas com 60 anos ou mais que nunca foram vacinadas ou sem comprovante de vacinação, o serviço de saúde deverá avaliar a pertinência da vacinação, levando em conta o risco da doença e o risco de eventos adversos nessa faixa etária e/ou decorrentes de comorbidades.
No caso de viajantes internacionais, a orientação é seguir o Regulamento Sanitário Internacional (RSI) que recomenda uma única dose na vida. O viajante deverá se vacinar pelo menos 10 dias antes da viagem.
VÍRUS E DOENÇAS
ZIKA – Doença viral aguda transmitida pelo mosquito Aedes aegypti e caracterizada pelo aparecimento de manchas avermelhadas pela pele, febre baixa ou inexistente, dores articulares ou musculares, dor de cabeça, coceira. Os sintomas desaparecem entre o 3º e o 7º dia. De acordo com o Ministério da Saúde, na literatura, 80% dos casos das pessoas infectadas não desenvolvem manifestações clínicas.
O vírus Zika foi isolado pela primeira vez em primatas não humanos em Uganda, na floresta de Zika em 1947. Entre 1951 a 2013, evidências sorológicas em humanos foram notificadas em países da África (Uganda, Tanzânia, Egito, República da África Central, Serra Leoa e Gabão), Ásia (Índia, Malásia, Filipinas, Tailândia, Vietnã e Indonésia) e Oceania (Micronésia e Polinésia Francesa). Nas Américas, o Zika Vírus somente foi identificado na Ilha de Páscoa, território do Chile no oceano Pacífico, no início de 2014. No Brasil e em Pernambuco, a primeira confirmação ocorreu em 2015.
CHIKUNGUNYA – Doença transmitida por mosquitos do gênero Aedes, sendo Aedes aegypti e Aedes albopictus os principais vetores. É caracterizada por febre alta, dores articulares ou artrite intensa com início agudo, podendo estar associados à cefaléia (dores de cabeça), mialgias (dores musculares) e exantema (manchas avermelhadas na pele). Alguns dos sintomas, como as dores articulares, podem se tornar crônicos.
Os primeiros casos de chikungunya ocorreram na Tansânia, leste africano, entre 1952 e 1953, e de lá se espalharam pela África. Na Ásia, os primeiros registros foram entre 2004 e 2005 e no Caribe, 2013. No Brasil, os primeiros casos confirmados foram em 2014. Em Pernambuco, o primeiro caso autóctone foi em 2015.
DENGUE – Doença infecciosa causada por um vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. Seus sintomas são: dor de cabeça, nos músculos, juntas e olhos; manchas vermelhas no corpo e febre alta por cerca de uma semana; vômito, diarreia e falta de apetite. Nos casos mais graves, pode ocorrer dor abdominal, tonturas, desmaios; sangramento nas gengivas, nariz e outros locais do corpo; suor frio, fezes escuras e vômito.
Cuidados importantes para eliminar os focos dos mosquitos:
– Mantenha bem tampados caixas d’água, jarras, cisternas, poços ou qualquer outro reservatório de água.
– Mantenha as lixeiras tampadas e secas. Nunca jogue lixo em terrenos baldios.
– Coloque no lixo todo objeto que possa acumular água. O lixo deve ser colocado em sacos plásticos bem fechados.
– Lave os bebedouros de animais com uma bucha pelo menos uma vez por semana e troque a água todos os dias.
– Cubra e guarde os pneus em locais secos, protegidos das chuvas.
– Guarde as garrafas secas de cabeça para baixo e não deixe no quintal objetos que acumulem água.
– Encha os pratinhos de plantas com areia.
– Retire a água acumulada sobre a laje.
– Mantenha as calhas d’água limpas.