Governo pede neutralidade a servidores sobre conflito no Oriente Médio. Entenda

A demissão do presidente da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), Hélio Doyle, na quarta-feira passada, por ter compartilhado uma postagem no seu perfil no X (antigo Twitter) que diz que apoiadores de Israel são “idiotas”, tem deixado servidores, principalmente os que atuam em cargos de chefia, de orelha em pé.

Em Brasília, o direcionamento, feito informalmente pelo ministro das Comunicações, Paulo Pimenta, é que os servidores usem do bom-senso e tratem o tema com neutralidade em seus perfis nas redes sociais.

“Não existe uma recomendação formal. A posição do governo é a posição do presidente. É bom senso”, afirmou, ontem, Paulo Pimenta à rede CNN.

Desde o ataque do Hamas a Israel, no último dia 7, o Governo Lula tem recebido críticas por não classificar o grupo como terrorista. O presidente e alguns ministros usaram expressões como “ataques terroristas” e “atos terroristas”, mas sem associá-las expressamente à organização responsável pelos ataques com assassinatos e sequestros de civis, incluindo crianças, em Israel nos últimos dias.

Em defesa sobre a neutralidade do Governo Lula diante do tom contra o Hamas, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, emitiu, ontem, uma nota, na qual afirma que a posição do Brasil vai de encontro à adotada pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) para designar entidades terroristas, que não inclui o grupo palestino.

“O Hamas é um partido político também, tem um lado administrativo, e tem duas brigadas, que são o braço armado. Nem a organização como um todo, nem as brigadas foram consideradas organizações terroristas pelo Conselho de Segurança da ONU até agora. Portanto o Brasil segue essa orientação”, disse o ministro.

O comunicado do ministro chega pouco mais de uma semana após a oposição ao Governo Lula, liderada pelo deputado Rodolfo Nogueira (PL) com aval de mais 61 deputados, protocolar requerimento na Câmara solicitando ao Itamaraty que o Governo reconheça o Hamas como organização terrorista.

“A declaração oficial do Hamas como organização terrorista é de extrema importância para que o governo brasileiro possa tomar medidas firmes contra a organização”, diz o texto.

Lula, por outro lado, ignora a tentativa da oposição em usar o que ocorre no Oriente Médio para desgastar o seu governo. Na mensagem mais recente sobre o conflito, que já deixou pelo menos 1.500 palestinos e cerca de 1,3 mil israelenses mortos, o foco do presidente tem sido o de solicitar que um corredor humanitário seja aberto para retirada de mais de um milhão de pessoas, a maioria civis, da região do conflito.

Folhape

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.