A hipótese de que o surto de lesões na pele que tem acometido moradores da Região Metropolitana do Recife esteja relacionado a arboviroses está praticamente descartada. Foi o que afirmou, nesta segunda-feira (22), em entrevista à Folha de Pernambuco, o médico infectologista Demetrius Montenegro. Ele integra a equipe que está à frente dos estudos, composta por especialistas e representantes da Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) e da Secretaria Executiva de Vigilância em Saúde do Recife.
“Aparentemente, as lesões parecem muito lesões de contato. Inicialmente foi levantada a possibilidade de arbovirose, mas essa possibilidade é muito remota porque na arbovirose você espera que a pessoa tenha febre, tenha dor no corpo, tenha essas sintomatologias. Lógico, que há algumas pessoas que têm arbovirose sem febre, mas não é a maioria. A maioria vai ter febre, a maioria vai ter dor no corpo. E essas pessoas, a maioria não vai ter febre, a maioria não tem dor no corpo, são só as lesões e a coceira”, explicou.
Segundo o médico, também estão sendo analisadas amostras de água e, nesta segunda, foi iniciada uma pesquisa de ácaro na pele de pessoas que apresentaram a lesão. “Inclusive, dentre esses ácaros, a escabiose, que é a sarna, também está sendo investigada. Então, tem uma série de possibilidades que podem acontecer causando isso. Mas ainda não se tem uma definição exatamente do que se trata”.
Outra hipótese levantada pelo infectologista é a de desequilíbrio ambiental. “Os casos iniciaram em duas comunidades no bairro de Dois Irmãos, perto da mata. Então, a gente também está trabalhando com a possibilidade de algum desequilíbrio ambiental, porque as pessoas que mais são acometidas estão próximas à mata de Dois Irmãos. E tem os moradores de Camaragibe, que a cidade também tem uma área que é perto da mata”, analisou.
O médico ainda descartou a hipótese de o surto ter alguma relação com a Covid-19 ou a vacinação. “Não é possível. A Covid não está acontecendo apenas em Recife, ela acontece no mundo todo, a vacina acontece no mundo todo. Sabe-se de alterações de pele por Covid mas esse surto está muito localizado. Então, não se justifica. Se fosse alteração de pele por Covid, outras regiões no mundo também estariam passando pelo mesmo problema”.
A dermatologista Maiara Bastos reforça que, caso a pessoa apresente os sintomas, a recomendação é procurar atendimento médico. “Ainda é uma doença sem causa definida e é necessária a notificação. O tratamento é sintomático, ou seja, o médico vai prescrever medicação para combater os sintomas apresentados, como antialérgicos para a coceira ou antitérmicos para a febre”, disse. Apesar de não ser um dos principais sintomas, a febre pode ocorrer em alguns casos.
De acordo com a médica, para aliviar os sintomas, os pacientes podem usar sabonetes e cremes hidratantes, além de compressas geladas, e devem evitar coçar a região. “Quando coçamos a pele muito forte, podemos causar feridas que podem infectar posteriormente”, alertou.
Jaqueline Fraga