Não teve jeito. Em 2014, nem a crença dos agricultores antigos e as estatísticas do Instituto Agronômico de Pernambuco foram o suficiente para inibir os longos períodos de estiagem observados em Caruaru. Colocando por água abaixo qualquer projeção animadora do IPA, que desde 1964 vinha contabilizando índices pluviométricos acima de sua média histórica sempre quando o ano possuía terminação em quatro, até agora o volume de chuvas registrado na Capital do Agreste vem deixando muito a desejar. Para ser ter ideia da alarmante situação, de janeiro até a última segunda-feira (3), os produtores locais só haviam usufruído de pouco mais de 360 milímetros da água das chuvas.
Muito pouco se comparado com a média histórica do município, que corresponde a 686 milímetros. Diante de uma retração tão grande, o resultado não poderia ter sido pior em relação à produção deste ano. “Ainda estamos a mais de 50 dias para o término de 2014, porém já podemos adiantar que tivemos um ano muito ruim no que se refere a nossa agricultura. Além de ter chovido 45% a menos em comparação à média histórica, a pouca água que caiu acabou sendo muito mal distribuída. Dessa forma, os mananciais, barreiros e barragens não armazenaram volume suficiente para atender a todas as demandas, tanto é que cerca de 80% das safras de milho e feijão se perderam”, avaliou o engenheiro do IPA, Fábio César.
Em fevereiro passado, VANGUARDA já havia publicado matéria com o especialista enfocando a tradição existente nos anos com terminações em quatro. Na ocasião, ele ressaltou que a possível coincidência não possuía nenhum embasamento científico, mas que não deveria passar despercebida. Nove meses depois, o bom retrospecto agora faz parte do passado. “Geralmente os meses de novembro e dezembro são considerados secos, sendo assim não deveremos observar aproximações em relação aos índices de 2013. Em Caruaru até o momento não só choveu menos em comparação à média histórica como também no correspondente ao ano passado. Em relação a este último registramos 444 milímetros no intervalo de janeiro a novembro.”
Atualmente, de acordo com os dados do IPA, Caruaru possui quatro mil famílias voltadas para agricultura. Diante da diminuição significativa das chuvas, Fábio César teme que o cenário de 2015 seja ainda mais desanimador. “Ressaltamos que ainda não contamos com as projeções oficiais para os próximos dois trimestres, porém esperamos que a realidade seja outra. Até porque nossos agricultores vêm passando por dificuldades há pelo menos três anos. Do contrário, se as chuvas não voltarem a cair em certa quantidade, alguns mananciais e barreiros poderão secar totalmente, o que provocará prejuízos enormes à categoria. Afinal, sem água, eles não poderão sustentar os seus animais nem desenvolver as suas colheitas”, acrescentou.
No intuito de amenizar os prejuízos provocados pela diminuição das chuvas, o IPA segue auxiliando os agricultores caruaruenses através da manutenção de alguns projetos importantes. “Além do Garantia Safra, que garante o repasse de grãos para os plantadores prejudicados, atualmente eles também têm contado com o Pnae (Programa Nacional de Alimentação Escolar), o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), dentre outros. Limpeza de barragens e perfuração de poços artesianos também estão fazendo parte do conjunto de ações”, finalizou Fábio César.