O juiz ultraconservador Ebrahim Raisi, chefe do Judiciário do Irã, venceu a eleição presidencial com 62,2% dos votos, de acordo com os resultados parciais divulgados neste sábado (19). Ele se torna, assim, o sucessor de Hasan Rowhani sem a necessidade de segundo turno, como reconheceram seus adversários no pleito e o chanceler iraniano, Mohammad Javad Zarif.
Raisi, segundo o presidente da Comissão Nacional Eleitoral, Jamal Orf, em uma entrevista coletiva em Teerã, obteve mais de 17,8 milhões de votos de um total de 28,6 milhões já apurados.
A autoridade eleitoral não divulgou a taxa de participação no pleito, mas cálculos extraoficiais apontam que ela teria sido de 53%, muito abaixo dos 73% registrados em 2017. No total, há mais de 59,3 milhões de iranianos maiores de 18 anos aptos a votar.
De acordo com os dados parciais, o general Mohsen Rezai, ex-comandante da Guarda Revolucionária e também ultraconservador, ficou na segunda posição, com mais de 11,5% dos votos, à frente do ex-presidente do Banco Central Abdolnaser Hemmati (8,3%) e do parlamentar Amir Hossein Hashemi (3,4%).
O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, celebrou a vitória de Raisi como um triunfo do país contra a “propaganda do inimigo”. “A grande vencedora das eleições de ontem [sexta, 18] é a nação, porque se levantou outra vez frente à propaganda da mídia mercenária do inimigo”, disse.
Pouco antes do anúncio dos primeiros resultados, segundo os quais cerca de 14% dos votos foram brancos ou nulos, Rowhani, o atual presidente, afirmou que havia um candidato ganhador em primeiro turno, mas não o nomeou. “Parabenizo o povo pela sua escolha […] Sabemos quem obteve os votos suficientes nesse pleito e que foi eleito hoje [sábado] pelo povo”, disse ele, em discurso exibido na TV.
Em mensagens em redes sociais ou retransmitidas nos meios de comunicação iranianos, os três adversários de Raisi reconhecem a vitória do juiz ultraconservador.
A votação foi estendida de maneira considerável, até as 2h de sábado, no horário local, para permitir maior participação, tendo em conta a pandemia de coronavírus, que já deixou oficialmente 82.746 mortos, segundo dados da Universidade Johns Hopkins, em uma população de 83 milhões de habitantes.
Raisi tem um passado marcado por repressão, em sua carreira no Judiciário. Nos anos 1980, durante a fase de perseguição e assassinatos que se seguiu à Revolução Islâmica de 1979, o então juiz teria autorizado muitas das mortes e torturas, segundo denúncias de dissidentes.
No cenário externo, a perspectiva da volta da linha dura ao poder automaticamente liga o alerta para uma relação ainda mais conflituosa com o Ocidente, isso em um momento de potencial abertura com os EUA, devido à eleição de Joe Biden, segundo a leitura de políticos e analistas ocidentais.
Por outro lado, outros têm a visão de que o Irã, mesmo sob Raisi, vai adotar uma política externa pragmática, de negociação, ainda que por necessidade. Isso porque o país busca o fim das sanções para contornar as dificuldades econômicas.
Folhapress