Juiz censura Globo e proíbe divulgação de investigação sobre assassinato de Marielle

Marielle Franco foi assassinada há oito meses. Até agora, nenhum suspeito foi preso. Juiz proibiu emissora de divulgar qualquer parte do inquérito que investiga os assassinatos da vereadora e de seu motorista, Anderson Gomes

O juiz Gustavo Gomes Kalil, da 4ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, proibiu a TV Globo de divulgar informações sobre a investigação dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes. A emissora vai recorrer da decisão. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) divulgou nota repudiando a decisão (leia mais abaixo).

Segundo o portal G1, o juiz atendeu a um pedido feito pela Divisão de Homicídios da Polícia Civil e pelo Ministério Público do Rio de Janeiro para que a emissora ficasse proibida de divulgar o conteúdo de qualquer parte do inquérito que investiga os assassinatos, que completaram oito meses na última quarta-feira (14). Até agora, nenhum suspeito foi preso.

A emissora diz que, nas reportagens sobre o caso, evitou dar publicidade a qualquer informação que pudesse colocar as testemunhas ou as investigações em risco.

Em sua decisão, o magistrado afirma que “o vazamento do conteúdo dos autos é deveras prejudicial, pois expõe dados pessoais das testemunhas, assim como prejudica o bom andamento das investigações, obstaculizando e retardando a elucidação dos crimes hediondos em análise”.

A decisão de Kalil proíbe a TV Globo de divulgar termos de declarações, mesmo que as testemunhas não sejam identificadas. Também proibiu que a emissora divulgue informações sobre técnicas e procedimentos sigilosos usados na investigação; conteúdos de gravações de áudios de pessoas investigadas ou não; áudios e mensagens, extraídos de contas de e-mails e telefones das vítimas, testemunhas e investigados; e qualquer outro conteúdo do inquérito.

Em nota, a Globo afirmou que vai cumprir a determinação, mas recorrerá por considerá-la excessiva e por ferir gravemente a liberdade de imprensa e o direito de o público se informar, “especialmente quando se leva em conta que o crime investigado no inquérito é de alto interesse público, no Brasil e no exterior”.

“A TV Globo quer assegurar o direito constitucional do público de se informar sobre eventuais falhas do inquérito que, em oito meses, não conseguiu avançar na elucidação dos bárbaros assassinatos da vereadora Marielle e do motorista Anderson. E deseja fazer isso seguindo seus princípios editoriais, o que significa informar sem prejudicar as investigações ou colocar em risco as testemunhas”, diz a nota.

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) também divulgou nota, repudiando a decisão (leia a íntegra). “A Abraji considera que a decisão do juiz viola o direito dos brasileiros à livre circulação de informações de interesse público. A imposição de censura é uma afronta à Constituição. A liberdade de imprensa, fundamental para a democracia, deveria ser resguardada por todas as instâncias do Poder Judiciário, mas é frequentemente ignorada por juízes que, meses ou anos depois, são desautorizados por tribunais superiores”, diz a nota da Associação.

Fonte: Congresso em Foco

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